MEU AMOR MISTERIOSO - Final

Duas semanas depois.

Clarissa esperava pacientemente no jardim que o carro do pai apontasse na esquina para vir lhe buscar. As férias estavam no fim. Dona Iara, ainda abalada pela perda de Mariana, bem que queria que a neta ficasse mais um tempo.

– Estes dias passaram rápido demais – disse ela fungando o nariz em um lenço.

– Eu prometo voltar nas férias de inverno, vó – retrucou Clarissa um pouco triste também.

– Pelo menos vou ter companhia. A Solange, irmã da Mariana, vai me doar todos os gatos dela. Acho que vou me divertir bastante.

– Eu gostava tanto de ficar com eles... – murmurou Clarissa.

A casa de Mariana estava fechada e possivelmente seria vendida. A morte natural de Mariana rendeu assunto na cidade. As pessoas ficaram muito comovidas e o enterro foi concorrido. Dona Iara ainda se emocionava quando falava no assunto.

– Quando os gatos serão trazidos para cá, vó?

– Hoje à tarde. O sobrinho de Mariana vai buscá-los para mim.

Clarissa reparou nos olhos vermelhos da avó e teve vontade de contar sobre a existência do diário. Não teve coragem, contudo. Mariana talvez não gostasse.

– Era uma moça tão boa... – lamentou Dona Iara debruçada no muro do jardim da casa. — Espero que ela esteja em paz, coitadinha.

A garota também esperava, do fundo do seu coração, que em algum lugar Mariana e Felipe pudessem resgatar o amor que os unira.

– Vamos torcer para que ela esteja com quem a ama de verdade, vó.

– Eu rezo todos os dias – ela fez uma pausa para enxugar mais lágrimas. De repente apontou para a esquina. – Olhe ali. Acho que é o carro do seu pai.

O pai de Clarissa estacionou na frente da casa e desceu de sorriso aberto para abraçar a filha que não via há um tempão. Ele não quis se demorar muito tempo. Carregou a mala de Clarissa para dentro do carro e depois ambos se despediram.

– Tome cuidado na estrada, meu filho – pediu Dona Iara.

Vô Ricardo se intrometeu:

– Ele sabe dirigir melhor que eu.

Clarissa detestava despedidas e aquelas, em virtude de Mariana, pareceram ser piores ainda. Ela teve que jurar três vezes que voltaria logo, se pudesse, no próximo feriadão. Quando o carro partiu, Clarissa abanou para os avós até o carro desaparecer na esquina. Segurou a vontade de chorar para não assustar o pai.

– Triste o que aconteceu com a amiga da sua avó – comentou ele com um olho no trânsito e outro na filha sentada ao seu lado. – Para você não deve ter sido nada fácil.

– Tive alguns sonhos estranhos depois daquele dia – confessou Clarissa. Ainda era difícil esquecer o que vira naquela manhã. – Ela não parecia estar doente.

– Pelo menos os gatos não ficarão abandonados. Sua avó está fazendo um trabalho muito bonito em adotá-los.

– É mesmo. Ela e Mariana se davam muito bem.

Clarissa colocou a mão dentro da mochila.

– O que você tem aí? – perguntou o pai, curioso.

Ela custou um pouco a responder.

– Um diário.

– Não sabia que você tinha um.

– Ele não é meu.

Clarissa acariciou a capa dourada. As linhas em branco esperavam um final. Um final que não fosse triste e nem solitário. No fundo do seu coração, Clarissa sabia que Mariana estava bem. Em algum lugar ela segurava as mãos de Felipe Mateus. Ambos tinham a eternidade somente para eles.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 08/07/2018
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