O DIA SEGUINTE
A jovenzinha sente as pernas – magricelas – tremerem: de baixo para cima. Uma sensação de enjoo a imerge em pensamentos medonhos. Ter de recomeçar o necessário. Sente o coração: tum! tum! tum! tum! tum! tututututum! tutututututututututum! O escuro esclarecido abafa os móveis do quarto, vislumbrados como se não estivessem nos seus lugares (pela proprietária), que mais se sente uma hóspede de última categoria: estante de livros cinzentos, cama cinza, teto, brinquedos borrados sobre o guarda-roupas, o fôlego, o cheiro, os dedos – da mesma não-cor e pegajosos – não há exceções ao caos.
“Querida, abra a porta! ”, ouve do lado de fora, junto aos sacolejos à maçaneta. Amorzinho, por que você se trancou? Não sabe que tá na hora? A porta trepida igual à alma da filha, chorando sob o lençol da Turma da Mônica. “Meu Deus... manda ele embora, por favor! ” Pow! Pow! “Abre, querida! ” Pow! Pow! Buuummm! Arromba o empecilho com um chute. “Não! Sai daqui! Socooooorrroooooooo! ”. Dá um pulo esguio ao soalho e engatinha acelerada – a lugar nenhum. “Calma, amorzinho... papai vai dar o que cê gosta. Vem aqui, vem!”, diz arriando o zíper da calça. A fala sai rouca, luxuriosa.
A pequena se atropela ao banheiro e cerra a entrada. “De novo, benzinho? Pra que isso? Eu sei que você quer... vem pro papai, vem!”, ri sacana e badala o obstáculo flexível. De dentro, as mãozinhas farejam algo entre os cosméticos, na mesma eletricidade da respiração e as veias abrindo- fechando- galopando... Crick! Crick! Estraçalha algo nos azulejos e insiste: “Socoooorroooooo!” Cabuuummm! Dá um quique na portinha que desaba sobre a menina armada. Ela empunha algo bem firme e avança, num brusco, antes de qualquer pensamento... Enfia o vidro no tórax do animal. O barulho da carne soa ácido, cruel, milagroso. O homenzarrão flácido, leitoso, grisalho, fedido a gordura, estatela-se sangrando a rodo: parece uma fonte de vermelho grosseiro: boca, ouvidos, narinas, sem falar no buraco redentor: a menina se abre a um alívio sideral.
À medida que (de marcha à ré) contempla o que fez, a mocinha se sente estranha. Não acha os remorsos. O bucho perfurado se esvai rápido: a garrafa de perfume entre os mamilos dá ebulição à massa convulsiva da besta que desce ao pó. A responsável desorganiza os seus pertences, fuzila-os na mochila escolar. Corre até a frente da casa e ao enorme portão de ferro: ambos destrancados. Ouve os latidos do cãozinho, por trás do alto muro de acesso ao quintal. “Tchau, Totó... adeus!”, sussurra consigo. Parte à rua, onde vigora a pouca iluminação. As perninhas tremem algo. O fôlego duro segue a saliva e as palpitações que, com jeito, são acorrentados: a um raciocínio sobrevivente.
A jovenzinha sente as pernas – magricelas – tremerem: de baixo para cima. Uma sensação de enjoo a imerge em pensamentos medonhos. Ter de recomeçar o necessário. Sente o coração: tum! tum! tum! tum! tum! tututututum! tutututututututututum! O escuro esclarecido abafa os móveis do quarto, vislumbrados como se não estivessem nos seus lugares (pela proprietária), que mais se sente uma hóspede de última categoria: estante de livros cinzentos, cama cinza, teto, brinquedos borrados sobre o guarda-roupas, o fôlego, o cheiro, os dedos – da mesma não-cor e pegajosos – não há exceções ao caos.
“Querida, abra a porta! ”, ouve do lado de fora, junto aos sacolejos à maçaneta. Amorzinho, por que você se trancou? Não sabe que tá na hora? A porta trepida igual à alma da filha, chorando sob o lençol da Turma da Mônica. “Meu Deus... manda ele embora, por favor! ” Pow! Pow! “Abre, querida! ” Pow! Pow! Buuummm! Arromba o empecilho com um chute. “Não! Sai daqui! Socooooorrroooooooo! ”. Dá um pulo esguio ao soalho e engatinha acelerada – a lugar nenhum. “Calma, amorzinho... papai vai dar o que cê gosta. Vem aqui, vem!”, diz arriando o zíper da calça. A fala sai rouca, luxuriosa.
A pequena se atropela ao banheiro e cerra a entrada. “De novo, benzinho? Pra que isso? Eu sei que você quer... vem pro papai, vem!”, ri sacana e badala o obstáculo flexível. De dentro, as mãozinhas farejam algo entre os cosméticos, na mesma eletricidade da respiração e as veias abrindo- fechando- galopando... Crick! Crick! Estraçalha algo nos azulejos e insiste: “Socoooorroooooo!” Cabuuummm! Dá um quique na portinha que desaba sobre a menina armada. Ela empunha algo bem firme e avança, num brusco, antes de qualquer pensamento... Enfia o vidro no tórax do animal. O barulho da carne soa ácido, cruel, milagroso. O homenzarrão flácido, leitoso, grisalho, fedido a gordura, estatela-se sangrando a rodo: parece uma fonte de vermelho grosseiro: boca, ouvidos, narinas, sem falar no buraco redentor: a menina se abre a um alívio sideral.
À medida que (de marcha à ré) contempla o que fez, a mocinha se sente estranha. Não acha os remorsos. O bucho perfurado se esvai rápido: a garrafa de perfume entre os mamilos dá ebulição à massa convulsiva da besta que desce ao pó. A responsável desorganiza os seus pertences, fuzila-os na mochila escolar. Corre até a frente da casa e ao enorme portão de ferro: ambos destrancados. Ouve os latidos do cãozinho, por trás do alto muro de acesso ao quintal. “Tchau, Totó... adeus!”, sussurra consigo. Parte à rua, onde vigora a pouca iluminação. As perninhas tremem algo. O fôlego duro segue a saliva e as palpitações que, com jeito, são acorrentados: a um raciocínio sobrevivente.