É melhor prevenir do que remediar
Desde o primeiro encontro a mãe foi contra o relacionamento, mas desde a gravidez da filha ela foi obrigada a aceitar o indesejado em seu apartamento; ele era um parasita, e como tal, não tinha condições de sustentar uma mulher, uma criança, além de si próprio... é claro.
Não se fixava em nenhum emprego, gastava em jogos tudo aquilo que ganhava em eventuais biscates, e carregava a fama de mulherengo, em sua vasta lista de defeitos.
A existência de outras mulheres poderia levar sua filha a acreditar que o hospedeiro fosse um crápula, alguém a ser banido, execrado, e colocado na lixeira, como eram colocadas as fraldas sujas do bebê, afinal a sujeira dele e a sujeira das fraldas se confundia.
Se sua filha houvesse sido raptada ela diria que a Síndrome de Estocolmo acometera a sua menina, que ela havia se apaixonado pelo bandido que a seqüestrara, o fato é que, na realidade, fora tudo consensual, todo o romance havia sido de comum acordo, nenhum distúrbio psicológico justificava aquele relacionamento; o Romeu agia, e a Julieta a tudo aplaudia, e a mãe destilava o ódio.
A promiscuidade do D. Juan não demorou a apresentar seus efeitos, o sangue não perdoa, e não perdoou daquela vez; lamentável é que tarde demais o exame acusara o HIV positivo no jovem casal.
Não era o momento para escândalos, pelo contrário, aquele era o momento de se buscar uma convivência pacífica, e nada como uma refeição do Oscar Filé para selar a paz, naquele conturbado relacionamento.
A mãe fizera o pedido, sabia que o detestado genro adorava a cozinha mineira, e três virados a paulista foram encomendados, para as 21h. e que tudo seria regado a vinho tinto. È evidente que aquele prato é pesado para um horário tão tarde; como ela sabia também que o delicado estômago do seu desafeto iria exigir posteriores antiácidos e anti-histamínicos; prevenção contra previsíveis urticárias, resultantes de um prato tão agressivo como aquele.
Não foi o tutu de feijão que o matou, couve à mineira não mata ninguém, a bistequinha de porco jurava inocência, e o vinho era de primeira linha, sem tendências homicidas, portanto; o mesmo não se podia dizer do anti-histamínico, que ele mesmo procurou no armarinho de remédios no banheiro, e que fora, carinhosamente batizado pela generosa sogra, aquela sogrinha que deu um fim ao anti-histamínico, depois de devidamente ingerido pelo guloso genro, deixando no armarinho um inocente antiácido como evidência.
Nenhuma erupção havia se manifestado em sua pele, fazer uso do remédio foi apenas um excesso de cautela, pois é certo que: prevenir é melhor do que remediar