A MÃE DE BELLA (Parte 1)

Bem-vindos a minha nova história de suspense. Ela será dividida em quatro capítulos. Quem quiser, deixe seu comentário!

Todos sempre me disseram que aquela casa era assombrada, mas eu não pude recusar o convite da minha melhor amiga, a Bella. Pobre Bella. Vivia em uma casa grande, sozinha com a mãe doente. Doença, aliás, que levou a juventude de Bella, que sempre cuidou da mãe desde a adolescência. Agora, contudo, a mulher morrera e restou Bella naquele casarão cheio de sombras. Foi quando surgiu o convite para passar o final de semana por lá. Minha amiga se sentia muito só. Sufoquei meus receios, coloquei algumas roupas na mochila e lá fui eu.

A casa ficava fora da cidade, em uma área bem arborizada. Peguei uma estradinha de terra e andei por quase três quilômetros até encontrar o local. Fazia anos que eu não ia lá, mas mesmo assim não me perdi. Estacionei o carro na frente da casa, no jardim, ao mesmo tempo em que Bella abria a porta. Ela ainda vestia preto em sinal de luto. Não fazia nem um mês da partida da mãe.

Fui recebida com um abraço caloroso. Acho que Bella estava aliviada pela presença de uma pessoa naquela casa. A porta se fechou com um rangido e de repente me vi em uma grande sala, com móveis antigos e retratos na parede. Lá dentro tudo era antigo e havia um agradável aroma de lavanda no ar. Fiquei até um pouco mais tranquila. Apesar de ser um pouco escura para meu gosto, a casa não parecia assombrada.

Então fixei meus olhos nos quadros pendurados em vários lugares da sala. A mãe de Bella era a modelo em todos. Apesar da nossa amizade, eu não a havia conhecido. Ela não saiu do quarto nas poucas vezes em que eu lá estivera. Mas, pelo visto, isso não havia sido impeditivo de ela haver posado para os quadros. Era de assustar.

Os cabelos negros desciam abundantes pelos ombros e os olhos, igualmente negros, fitavam o pintor com uma frieza de arrepiar. A boca era uma linha fina, ela não sorria em nenhum quadro. Não transmitia uma sensação boa. Senti algo de maligno naquele olhar.

Bella me viu olhando para os quadros e entendeu que eu os admirava.

- Era linda, não?

Voltei meus olhos para Bella. Minha amiga trazia no rosto uma expressão de encantamento.

- Eu… eu pensei que ela fosse mais velha.

- Não – Bellla sacudiu a cabeça em negativo. - Apesar da doença, mamãe conservou a beleza. Acho que era uma fada, sabe? Não tinha um fio de cabelo branco. Não era maravilhosa?

- Muito – forcei um sorriso. Na verdade, eu estava achando completamente o oposto. - Impressionante a força do seu olhar.

Bella se aproximou de um dos quadros e parou bem em frente. De costas para mim ela revelou:

- Ela não queria morrer. Lutou até o fim pela vida. Sabe, ainda tenho a impressão que escuto a voz dela pelos corredores.

Estremeci. Meu Deus, onde fui parar? Bella prosseguiu agora se voltando para mim:

- Mas é tudo impressão minha. Faz pouco tempo que ela morreu e tudo é muito recente – Bella pegou meu braço, animada. - Venha, vou mostrar o seu quarto.

Segurando firme minha mochila segui minha amiga escadaria acima. Percebi, um pouco desconfortável, que ela se assemelhava muito à mãe, fisicamente. Tive outro arrepio. Desejei que aquele final de semana passasse rápido.

Atravessamos um corredor na penumbra e Bella me levou até um quarto localizado lá no fundo. Empolgada, ela abriu a porta e me convidou a entrar.

- Veja que maravilha. Foi meu quarto na adolescência. Depois me mudei para o quarto da minha mãe para ficar mais perto dela.

Ao contrário do que eu esperava, o quarto era uma graça, todo em rosa e branco. Havia alguns bichos de pelúcia em uma estante e uma penteadeira cheia de perfumes.

- Ninguém dorme aqui há anos, mas sempre fiz questão de mantê-lo limpo e arejado.

- É lindo, Bella! – pus minha mochila na cama. - É muita gentileza sua emprestá-lo para mim.

- Você merece. Talvez um dia eu volte para cá. Por enquanto prefiro permanecer no quarto da minha mãe – Bella voltou seus olhos para o chão e assumiu uma expressão distante. - Não me importo de dormir na cama em que ela morreu.

Cruzes. Em seguida, contudo, Bella sorriu como se tudo estivesse bem.

- Vou deixar você à vontade. O que acha de jantarmos às... – ela consultou as horas. - 20h30min?

— Ótimo – respondi com um sorriso bem sem graça. — Tenho bastante tempo para me arrumar.

— Isto mesmo – Bella me abraçou apertado outra vez. Parecia muito agradecida por eu estar ali. — Espero você lá embaixo.

Bella sorriu e saiu quase saltitante do quarto. E então eu me vi sozinha.

*

Tomei um bom banho de banheira e me sequei em uma toalha felpuda bem branquinha. Bella tinha deixado tudo preparado para mim, me senti em um hotel cinco estrelas. Porém, meu coração ainda batia um pouco descompassado. Eu sabia que era só abrir a porta para me deparar com uma casa que todas minhas amigas juravam ser assombrada.

Enrolada na toalha me aproximei da janela. O quarto dava para os fundos da casa e pouco dava para enxergar lá fora. Não havia muita iluminação. O que eu pouco conseguia enxergar era um jardim com um balanço e alguns arbustos. Suspirei. Mais uma vez rezei para que o final de semana passasse rápido:

- Oh!

Meu grito saiu abafado e me vi apoiada na parede, com as pernas moles. Uma mulher vestida de branco passara lá embaixo, caminhando como se deslizasse. Ela não olhou para cima e eu cheguei a piscar achando que aquilo fosse uma visão. De repente a mulher não estava mais lá. Fiquei na dúvida se havia sido imaginação minha. Sim, eu estava bem impressionada com o que vira naquela casa surreal.

Sentei na cama tentando me recuperar. Talvez fosse alguma empregada. Claro, deveria ser isto mesmo, embora Bella sempre houvesse me dito que moravam na casa somente ela e a mãe. E agora, infelizmente, somente Bella.

Resolvi não pensar mais naquilo. Me vesti rapidamente e desci uns dez minutos antes do horário marcado para o jantar. Bella me aguardava já com a mesa pronta. Havia uma garrafa de vinho também.

E três taças.

"Não perca a parte 2!"

Maria Caterinna
Enviado por Maria Caterinna em 23/04/2018
Reeditado em 23/04/2018
Código do texto: T6316515
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