Um, dois, feijão com arroz
Ela não suportava mais as bebedeiras dele, bebedeiras que sempre resultavam em violência, ele bebia, sem controle, e a espancava, também sem controle.
Num diálogo informal com um colega de trabalho, ela ficou sabendo da eficácia da ricina, uma proteína altamente tóxica, e facilmente extraída do óleo de rícino, um dos venenos mais letais do mundo.
Dada a facilidade de se conseguir tão eficaz veneno, por que não se aproveitar da sua condição de química, com livre acesso ao laboratório e preparar a literal solução para todos os seus problemas?
Todas as quartas-feiras ele se reunia com amigos para jogar sinuca, todas as quartas-feiras ele bebia muito, e em quase todas as quartas-feiras ele a espancava, havendo ou não motivo para a violência, se é que se pode justificar a violência.
Naquela quarta-feira, em específico, ele bebeu além da conta, e também extravasou na violência; ele a espancou muito mais do que seria compreensível, como resultado de uma bebedeira, e muito mais do que uma mulher, frágil como ela poderia suportar... ela foi a vítima um.
Ele a encontrou com uma long neck na mão, ainda geladinha, mas devidamente “temperada” com a ricina, para recebê-lo; após a espancar, até a morte, ele, como se num brinde, bebeu, quase que de um só gole a cerveja geladinha, e ela sabia, de antemão, que ele beberia, e assim se fez a vítima número dois.
A cena poderia ser assim descrita: a vítima do crime número um, foi a autora do crime da vítima número dois... um, dois, feijão com arroz.