O saquinho de papai
Embora soe maroto, esse título nada tem de escroto, garoto. Mas não recuso, o apodo de boquirroto. Ou quem sabe, escrirroto? E é curtinha, esta historinha. Ela começou quando papai cismou que a carteira de couro preto - embora ainda em bom estado de uso - causava-lhe desconforto, por volumosa, resolveu a questã - como fazia questã de falar - de modo prático, doméstico e sem ônus adicional.
Os modestos cobres que tinha, na companhia de mãezinha, no banco mantinha. E era o Hypothecario e Agrícola do Estado de Minas Geraes. A experiência anterior, com o Banco Financial, fora desastrosa com a quebra, e a reavença do dinheiro, uns 17 contos só depois de muita luta e com a intervenção de ninguém menos do que o Presidente Kubitschek, a quem escrevera, em justo clamor.
Assim, o dinheiro miúdo que girava dividia-se entre a caixinha de madeira - aberta, no formato de uma forminha de tijolo - em cima do guarda-roupa, ou no seu bolso para a gastança cotidiana que não se poupa.
E o saquinho surgiu desse estado de coisas: era de plástico, transparente e trazia a marca indelével, com a ilustração ainda: Sal Cisne, 1 kg. Tamanho ideal para abrigar as notas, que iam, naquela época, arranjadinhas de Tamandaré a Cabral.
Nathan, Prada, Gucci, pra quê? Quietinho, o saquinho é que tinha cachet. E que desalmado batedor de carteira iria ainda passar a vergonha de surrupiar o saquinho de um Luiz que sem ser ou ter Vuitton, por bens de raiz se comprazia em ser feliz?