A repórter e o câmera afastaram-se. Retirados uns cento e vinte metros do local do bombardeio.
— Quem é aquele que conversa com uma estátua? Quis saber Elke.
— Morador de rua. Deve ser.
Quem passa por Copacabana, certamente, já o viu limpando com uma flanela a estátua de Drummond, como se polisse a imagem de um santo ou acariciasse o próprio santo.
Parece ter sido uma pessoa importante! Vez por outra, tem pelo menos cinco minutos de lucidez e faz poesias bem elaboradas. E declama de cima de um banco qualquer como se estivesse em algum Sarau. Depois, não fala coisa com coisa. Cai em si novamente E caminha na orla, dizendo um verso aqui outro ali, até desaparecer na distância, tornando-se um vulto indefinido.
— Há muitos mistérios na vida de um morador de rua.
— Cada um tem sua história. Conheci uma mulher que tocava piano e dizia ter morado ricamente em Petrópolis.
— Estrelas do passado. Conheci um camponês no Norte de Minas que dizia ser Lampião, o rei do cangaço.
— A cidade está cheia de personagens sem nome, estrelas cadentes e meteoros que despencaram do céu de sua arrogância, tornando-se bagaço de cana passado pelos estreitos cilindros da moeda. Sem mais nenhum papel importante na sociedade, eles se transformam em verdadeiros zumbis e vagueiam como a mariposa que se deixa aprisionar em qualquer teia de aranha.
— Pode ser! Talvez tenham escolhido um caminho sem volta. Embrenharam-se no submundo das drogas, do crime e da prostituição. E se acham no direito de culpar a família e a sociedade.
— Ninguém pode ser totalmente, dependente, disto ou daquilo. Vai chegar o dia em que a pequena águia precisa abandonar o ninho e voar com as próprias asas.
— Estás falando de assistencialismo, benefício social?
-- Assistencialismo não só do governo. Também da parte dos pais. Bizarrice, homens barbados e mulheres grisalhas, ainda esperando que os pais ponham comida em suas bocas!...
— Não quero fazer julgamento. Mas não consigo entender por que razão o governo de nosso país dá bolsa ao usuário de drogas.
— Final dos tempos... Já estamos nas Águas de Março fechando a temporada de verão.
— O que vês nisso, Tom?
É pau, é pedra, é o fim do caminho...
Perguntado sobre o que queria ser quando crescesse, o menino da favela respondeu:
— Quero ser bandido.
Naturalmente porque viu ou ouviu o bandido ser transformado pela mídia em herói.
— Ser bandido?...
— Quero ser preso, disse o menor.
— Preso pra quê.
— Pra engordar. Ficar famoso e aparecer na televisão.
-- Se Virgílio vivesse nesta socidade moderna, diria o mesmo que nos tempos de antanho: Tão múltiplas são as faces do crime, que Rui se envergonharia de ser honesto.
O sol perdia suas forças.
Um bando de gaivotas sobrevoa um navio ancorado à distância. Logo, a cidade dorme sob o manto da escuridão.
— Quem é aquele que conversa com uma estátua? Quis saber Elke.
— Morador de rua. Deve ser.
Quem passa por Copacabana, certamente, já o viu limpando com uma flanela a estátua de Drummond, como se polisse a imagem de um santo ou acariciasse o próprio santo.
Parece ter sido uma pessoa importante! Vez por outra, tem pelo menos cinco minutos de lucidez e faz poesias bem elaboradas. E declama de cima de um banco qualquer como se estivesse em algum Sarau. Depois, não fala coisa com coisa. Cai em si novamente E caminha na orla, dizendo um verso aqui outro ali, até desaparecer na distância, tornando-se um vulto indefinido.
— Há muitos mistérios na vida de um morador de rua.
— Cada um tem sua história. Conheci uma mulher que tocava piano e dizia ter morado ricamente em Petrópolis.
— Estrelas do passado. Conheci um camponês no Norte de Minas que dizia ser Lampião, o rei do cangaço.
— A cidade está cheia de personagens sem nome, estrelas cadentes e meteoros que despencaram do céu de sua arrogância, tornando-se bagaço de cana passado pelos estreitos cilindros da moeda. Sem mais nenhum papel importante na sociedade, eles se transformam em verdadeiros zumbis e vagueiam como a mariposa que se deixa aprisionar em qualquer teia de aranha.
— Pode ser! Talvez tenham escolhido um caminho sem volta. Embrenharam-se no submundo das drogas, do crime e da prostituição. E se acham no direito de culpar a família e a sociedade.
— Ninguém pode ser totalmente, dependente, disto ou daquilo. Vai chegar o dia em que a pequena águia precisa abandonar o ninho e voar com as próprias asas.
— Estás falando de assistencialismo, benefício social?
-- Assistencialismo não só do governo. Também da parte dos pais. Bizarrice, homens barbados e mulheres grisalhas, ainda esperando que os pais ponham comida em suas bocas!...
— Não quero fazer julgamento. Mas não consigo entender por que razão o governo de nosso país dá bolsa ao usuário de drogas.
— Final dos tempos... Já estamos nas Águas de Março fechando a temporada de verão.
— O que vês nisso, Tom?
É pau, é pedra, é o fim do caminho...
Perguntado sobre o que queria ser quando crescesse, o menino da favela respondeu:
— Quero ser bandido.
Naturalmente porque viu ou ouviu o bandido ser transformado pela mídia em herói.
— Ser bandido?...
— Quero ser preso, disse o menor.
— Preso pra quê.
— Pra engordar. Ficar famoso e aparecer na televisão.
-- Se Virgílio vivesse nesta socidade moderna, diria o mesmo que nos tempos de antanho: Tão múltiplas são as faces do crime, que Rui se envergonharia de ser honesto.
O sol perdia suas forças.
Um bando de gaivotas sobrevoa um navio ancorado à distância. Logo, a cidade dorme sob o manto da escuridão.