O Dono do Cão

Dagoberto fora subitamente acordado ao som do despertador às sete horas em ponto. Deu um pulo da cama, abriu a janela e chamou seu cão. Ele não veio, como sempre fazia todas a manhãs, abanando o rabo alegremente. O dono do cão estranhou.

Dagoberto era um homem frio, segundo alguns amigos, sem sentimento. Ele respondia que isto era uma questão de ponto de vista.

Foi ao quintal e chamou o cão em voz alta. Como resposta, só silêncio.

Dagoberto colocou a mão no queixo com ar pensativo. Alguma coisa estranha estava acontecendo. Serelepe, este era o nome do cão, nunca se distanciava do quintal e sempre atendia ao seu chamado imediatamente.
De repente Dagoberto viu Serelepe deitado entre as plantas do jardim, quieto, amuado, triste. Aproximou-se dele e notou uma baba escorrendo da sua boca. O cão tinha sido envenenado. O dono do cão correu até a geladeira, pegou leite e deu-lhe para beber. Serelepe, entendendo, bebeu avidamente, em seguida bebeu água e vomitou muito. Dagoberto ficou durante o dia todo observando seu fiel amigo, dando-lhe soro caseiro, pão molhado no leite, na esperança de salvá-lo. Enquanto isto, pensava em quem poderia ter feito tamanha maldade. À tarde, o cão parecia ter melhorado. Atendia ao chamado do dono, abanava o rabo e, juntos, deram uma volta no quintal. Veio a noite. Dagoberto providenciou um abrigo para o amigo, colocou leite e alimento frugal em um prato esmaltado junto do amigo inseparável. Em seguida foi dormir.

As sete em ponto foi acordado pelo som estridente do despertador e pelo canto dos pássaros sobre as árvores do sítio. Lembrou-se de Serelepe e correu até a varanda. Chamou-o e ele não atendeu. Apenas olhava para Dagoberto com olhos tristes. Serelepe estava morrendo. O dono do cão entrou em desespero. Ligou para o veterinário, que disse não poder ir naquele momento, pois estava em uma fazenda, cuidando de um rebanho, assim que terminasse ele iria ver o cão. Fez algumas perguntas, que Dagoberto respondeu nervoso. Após desligar o celular, chamou o cão, que se levantou com dificuldade, seguindo o dono para dentro da casa. Dagoberto sentou-se em uma cadeira e Serelepe deitou sob seus pés e lançou um último olhar para o dono, para estremecer, se esticar e morrer. Dagoberto deu um grito de dor e chorou copiosamente abraçado ao cão. Ligou imediatamente para o veterinário avisando-o que não precisava vir mais. Em seguida pegou enxada, pá e cavadeira e fez uma cova no jardim, para enterrar seu fiel amigo. Enquanto fazia a cova, Dagoberto chorava e foi assim durante todo o dia.


À tarde saiu para ver se descobria o autor do crime. Depois de uma semana de investigação, descobriu o assassino.

Na noite seguinte depois da descoberta, Dagoberto encontrava-se na área verde do sítio assistindo as contorções do assassino do seu cão, amarrado ao tronco de uma árvore, após engolir à força mais uma dose de veneno.


Do meu livro de bolso Crônicas do Cotidiano Popular - esgotado