Cabacinhas galhofeiras...
Totóia chegou em casa alterada, ainda em prantos, pálpebras inchadas. Havia ido à casa de vovó, ao encontro de mamãe, que vinha da fábrica de tecidos e, a meio caminho, encontravam-se naquele ponto estratégico. Tinha lá seus dez anos, vinha rompendo bem na escola, aluna da operosa Dona Gilda, de onde se podia apostar que só não se diplomaria com um dez por que essa nota era unicamente para Deus, como a própria mestra declarava. E do nove, apossar-se costumava.
Ocorre que naquele tempo, sem os horários de verão, anoitecia cedo, e as seis da tarde, a hora da Ave-Maria do Júlio Louzada da Rádio Nacional, já podia bem estar aquele breu de rachar. Havia luz, fraquinha, bruxuleante, mas havia, pois no-la cedia, a própria Companhia.
E foi justamente ao se aproximar da ca' da vó que ao elevar os olhos para o poste que ficava bem à frente da casa vizinha, de Dona iria, a diretora, e de sua inseparável amiga Luíza, que Totóia foi surpreendida por aquela cena intrigante: eram cabacinhas, iluminadas, suspensas no ar que pareciam dela mangar...
O que fez, no abalo e embalo da inusitada visão, foi correr pra ca' da vó, de onde, apesar do amparo das tias, e do copo d'água, e dalguma invocação do creimdeuspadre, custou a sair, agarrada à mão de mamãe.
A partir daquele incidente, passou a esperar por mamãe em casa, e nunca mais aceitou convite de Dona Iria para ir ler as revistas do Vovô Felício, o Sesinho, de que tinha a coleção completa.
E a capa de uma delas, me lembro bem, mas nunca comentei, justamente a edição de dezembro que dava adeus ao ano de 1956, e consequentemente saudava o ano entrante de 1957, era ilustrada com uns balõezinhos coloridos, em ascensão, que bem lembravam as cabacinhas da cabecinha de Totóia.