Meu problema com assombração

Ainda na infância eu já havia ouvido as histórias do além, contadas pelo Almirante, havia visto filmes de terror, com o Vincent Price e o Christopher Lee, já na maturidade, passara pelo Exorcista, e jamais hesitara em visitar cemitérios, acompanhar cortejos fúnebres e até adentrar pelas catacumbas romanas e agora, não parecia ter nervos para enfrentar aqueles sons estranhos, lancinantes e recorrentes que originados sob a minha cama, me atormentavam por quase toda a noite...

Estaria ficando enfermo da cabeça? Dos nervos, ou porque havia caçoado de crenças religiosas, o demo agora fora autorizado a me cobrar tudo, e com juros tão extorsivos? A lógica não me permitia pensar dessa forma, mas eu simplesmente era dragado para aquelas situações ridículas e humilhantes sem que pudesse reagir, ou ao menos me blindar de tal escárnio...?

Pensei num padre exorcista, num pastor que expulsa o Maligno mas, para não recuar da minha negação de fé, acabei mesmo foi na mão de um psicólogo, fortemente recomendado por amigos. Do peito - e do bom uso do leito.

O profissional da análise da alma foi extremanente receptivo, e quase paternal. Garantiu-me a remoção daquele obstáculo e a total reabilitação de meu eu mediante um tratamento eficaz de completa eficácia, que eu poderia confirmar com ex-pacientes seus, completamente curados. O custo era de 250 reais por sessões semanais e não mais que dois anos, ininterruptos, para a completa cura.

Animei-me pelo ânimo de meu imperturbável guru. Quase que lhe pedi um desconto, duns 20% para aquele estendido período, e não creio que ele ficaria insensível a uma tal contra-proposta. Mas me refreei no ato, e lhe pedi uns dias para pensar, e até mesmo, para adequar minhas finanças a uma nova situação.

Seis meses depois nos encontramos numa ante-sala de teatro. O cumprimento foi um tanto forçado por inevitável, já que nos cruzávamos

E dele foi a iniciativa de puxar a assunto:

- Ué, eu continuo aguardando uma resposta sua à minha proposta de tratamento. Podemos até considerar umas condições mais vantajosas, para uma abordagem mais intensiva...

Não hesitei dessa vez, respondendo-lhe:

- Doutor, o problema já não me afeta mais. Aliás na tarde do mesmo dia da consulta, consegui uma solução mais em conta...

- Como assim? Ele indagou, interessado.

- Falei de meu problema a um amigo carpinteiro, profissional bem sucedido por sinal e ele prontamente, até esquecendo a xícara de café quase à metade sobre a mesa, pediu-me um serrote, serrou os pés de minha cama e não quis aceitar nem uns trocados para um cerveja...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 16/02/2018
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