Sob o breu da noite
Gerundino estava confinado à cadeira de rodas. Manual, pois para uma elétrica faltava-lhe muito cacau. Mas tinha braços fortes, vontade firme de superar a adversidade e, seu maior gosto era zanzar pelas ruas, nem sempre planas, da cidade.
À onda crescente de violência e assaltos, dava importância relativa. Nâo tinha como se defender, mas tampouco mais vulnerável podia se perceber...Era bem conhecido e a Deus temia e da proteção do Anjo de Guarda é que vivia, pautando - e zanzando - noite e dia.
Um finzinho de tarde porém, foi assaltado por um pressentimento: escurecia rapidamente, a rua estava deserta e sentiu aproximar-se, pela retaguarda um vulto do qual infame lembrança ainda hoje a garganta lhe aperta.
Seu recurso foi procurar achar força nos braços para se afastar do iminente perigo, com vulto de nada amigo. Acelerou, acelerou e o vulto, sempre, o vulto, o acompanhou...mas, de repente, viu que a sorte estava ao seu lado: chegara a uma rampa...e morro abaixo, velocidade ganhanha, afastando-se do vulto que ainda e sempre o acompanhava...
A sorte, contudo, esgotou: quando a rampa descente acabou, outra, ascendente, se lhe assomou...Pronto, silente gritou, fugido estive, fodido estou...até que uma mão suspeitosíssima seu ombro, de bem leve, tocou, e uma voz arfante ao seu ouvido soou:
- Ôu, cê num imagina o trabai que me deu pra sigui esse ritmo seu...mais memo nesse breu, xô dá uma vorta, nesse carrinho seu...?