O embargo

- Tenente-comandante Brodsworth?

O rapaz, em uniforme branco da Marinha prestou-me uma continência impecável.

- Descansar, marujo. Já dei baixa há muito tempo… - atalhei, fazendo um gesto para minhas roupas civis.

E, indicando-lhe a cadeira à frente da minha escrivaninha:

- Mas, sente-se. Precisamos conversar.

Ele retirou o quepe da cabeça e sentou-se, expressão atenta, corpo empertigado.

- Seu pai deve ter lhe dito que servimos juntos em Guadalcanal, não é? - Inquiri.

- Sim, contou histórias incríveis sobre a Campanha do Pacífico… - respondeu, olhos brilhando.

- Pois bem… a indicação para este posto não veio pelo conhecimento que tenho com seu pai ou pelo fato dele ser almirante da Marinha… reformado, mas almirante.

- Naturalmente - respondeu-me diplomaticamente o jovem Brodsworth.

- Eu examinei as fichas de vários candidatos, e a sua me pareceu particularmente promissora. E é por isso que estamos tendo esta conversa hoje.

- Compreendo.

- Em resumo, - prossegui - estamos iniciando um plano de ação baseado na escassez de petróleo, tornada evidente pela crise de 1973.

- Sim, tomei conhecimento pelo noticiário… o embargo dos árabes e seus desdobramentos.

- Precisamente. Fomos pegos de surpresa, inclusive por nações que julgávamos nossas… bem, que julgávamos confiáveis, como o Irã, por exemplo.

- Sim.

- Não podemos incorrer neste erro novamente. Nossas reservas de óleo estão em declínio, e precisamos nos assegurar de que teremos um suprimento futuro contínuo e estável, e mais próximo para entrega do que o dos árabes.

- Compreendo… mas não estávamos investindo em alternativas para não ficarmos eternamente dependentes de petróleo, senhor?

Balancei afirmativamente a cabeça.

- Oficialmente, sim. Oficialmente, estamos investindo em pesquisa de energia nuclear, eólica e outras coisas que podem soar como ficção científica. Mas, na prática, tudo isso vai demorar décadas para se tornar de uso prático… se chegarmos à este ponto. Nossa dependência de óleo só aumenta, e o embargo da OPEP deixou claro que somos vulneráveis neste aspecto.

- Pelo que entendi, temos de encontrar uma nova fonte de fornecimento de petróleo, até que possamos desenvolver novas tecnologias que prescindam do mesmo?

- Exatamente, tenente-comandante. E é aí que entraria o seu trabalho na Inteligência.

Ele ficou encarando os sapatos engraxados por alguns instantes. Finalmente, ergueu os olhos para mim.

- Seria uma honra poder participar disso, senhor. Mas, onde?

- América Latina - retruquei. - Parece que há um incremento nas descobertas de óleo por lá.

E, entrelaçando os dedos sobre a mesa:

- Precisamos garantir que esse óleo venha para quem precisa dele. Nós.

-[11-02-2018]