Toca Treisamor!
Para o final dos anos setenta, nas quebradas da Velha Serrana, que ainda tinha a sua respeitável zona boêmia, não havia quem não se encantasse com os trinados do seresteiro Júlio José Pinto, o Jul do Timote, quando ele, deixando de lado por um tempo a sua Diana, executava aquela musiquinha nova, da terra, Amor a três.
Desnecessário dizer que após seu giro pelos botecos da cidade, seu tour iria irremediavelmente acabar nos domínios de Baco e que rodeado de boêmios e amantes da noite, os pedidos se multiplicassem, mal lhe dando tempo de bebericar o seu copo, e muito menos ainda, num habeas copus, copular...
E a mais pedida, nem era obra de um Altemar Dutra, de um Odair José, de uma Núbia Lafayette...era simplesmente, o Amor a três, que no linguajar zonal passou a ganhar a variação mais popular de Treisamor.
A lindeza da letra, tão bem conjugada à melodia, arrancava lágrimas e até louvava aquela aparentemente extravagante e pecaminosa combinação. O povo era zoneiro mesmo, mas os preceitos da religiosidade e da moral predominantes na época jamais permitiriam sequer uma cogitação - e muito menos coitação - daquele gênero.
E no entanto, à medida que os dedos corriam as cordas da viola e a goela do seresteiro lhes dava a voz, que beleza atroz, rogaipornós...
E quanta curiosidade não nasceu, vicejou, viveu e sofreviveu em torno daquela misteriosa composição, cujo terminar, fazia muito macho prantear:..."amor a três: nós, e o mar...!"
Da letra, muito se especulou, só podia ser de uma poeta da terra, de excepcional sensibilidade e sedução. Mas a quem aqueles tão doces versos, hoje dispersos, dedicados então?