SETE MARIAS, SETE AGONIAS
(FRAGMENTOS)
...Maria Aparecida não deu mais sinal de vida.
Dez anos correram e ela ficou desaparecida. E mãe acabrunhada, com a alma aturdida.
Um dia anunciaram que Maria da Anunciação se convertera ao Islã indo p’ro Afeganistão.
Envolta em uma burka defendia o Corão.
A Maria dos Prazeres desprazerosa saltou/ de uma colina muito alta, de um enorme platô.
Foi cair dentro do mar/ Ninguém jamais a encontrou.
Foi o prazer dos narcóticos que a deixou viciada. Não queria estudar. Não queria nada, nada.
Porém quando se deu conta já estava dominada.
Final não menos fatídico foi de Maria das Graças/ Dava-se com todo o mundo/ era amiga de todas as raças. Porém, não avaliou mesmo conservando o amor/ a vida tem ameaças.
No Xingu tornou-se amiga de um cacique caiapó/ Ia colher frutos no mato, tomar banho no igapó/ Quando menos se deu conta já estava no xodó.
As esposas do cacique acharam um desaforo/ Uma branca enxerida ficar naquele namoro/ Não podiam permitir que ela roubasse o ouro.
Além de tudo Das Graças o índio manipulava/ A tribo assistia a tudo, porém de nada gostava/ Decidiram sem demora acabar com a patacoada.
Maria da Glória casou-se com um político importante/ Curtiu a vida, gozou da glória/ Teve ouro e diamante/ Mas o marido a matou no dia em que a flagrou chamegando com o amante.
A história foi injusta p’ra Maria do Desterro. Foi desterrada da vila bem no dia do enterro do homem que mais amava/ Aquilo foi mesmo um erro/ ela nunca imaginava. Atribuíram a ela a morte do seu marido/ a suspeita infundada não tinha qualquer sentido/ Quem tinha matado o homem era seu melhor amigo.
Desterro foi p’ra cadeia e pagou o que não devia/ Pela justiça ser cega dali ela nunca sairia/ Foi a sorte fatídica de mais uma filha de Maria.
A guerra não foi extinta pela Maria da Paz/ Conheceu um marinheiro, ia esperá-lo no cais/ Se ela não aparecia/ Não demorava nem um dia para ele ir atrás.
Um dia ele aportou com vasto carregamento/ A federal já sabia que aquilo era armamento/ Os traficantes do morro dariam sequência ao tormento.
Vai Da Paz segura aqui este fuzil de responça/ Aponta e manda fogo, segura a geringonça/ Sei que és minha mulher, mas sei que também não quer que eu vire uma bolsa feito o couro de onça.
Era só tiro que se ouvia às margens da Guanabara/ Uns feridos, outros correndo com as mãos sobre a cara/ E Da Paz sem entender parecia um Che Guevara.
Ao cabo de alguns minutos Da Paz ‘tava esticada/ Tinha mais de cem balas no corpo e a guerra continuava/ Tiros no morro e no asfalto/ apenas o Redentor no seu pétreo clamor pedia paz lá do alto.
A trajetória de Maria é repleta de empecilhos. Porém, nada foi capaz de arrancar o seu brilho. Embora em solavancos ela pisou firme no trilho. Nunca esperou que as pragas que o marido lhe rogara/ tivessem o poder de feri-la/ No entanto, um dia notara: quem joga pedras na lua, elas cairão na cara.
Reconheceu que a vida lhe tinha sido amarga /Suportou por muito tempo uma pesadíssima carga/ Um soluço a sufoca, sua garganta embarga.
As sete Marias, no entanto, sumiram no firmamento. As suas filhas jamais sairão do pensamento. Ficou apenas em sua memória um triste e eterno lamento.
Uma forte expectativa inspirou-lhe alegrias. Foram sete dores de parto, sete fortes agonias. Imaginou ser feliz com suas sete Marias.
Maria foi condenada pelo destino das filhas. O mundo a enclausurou numa isolada ilha. Virou beata e cobriu o rosto com uma mantilha...