Pesadelo

Na confluência da rua Alzira Ferreira Campos com a rua São Paulo, rua essa que fica paralela à Rodovia Fernão Dias, encontram-se abaixo das mesmas as tubulações que captam todo o esgoto vindo do entorno do bairro, bairro, aliás, homônimo ao da rodovia, que leva esse nome em homenagem ao famoso Bandeirante paulista.

Principalmente em época de chuvas quando o bueiro e as bocas de lobo não conseguem dar vazão, geralmente uma das tampas do bueiro estoura e começa a voar merda para tudo quanto é lado, parece um vulcão em erupção, com os dejetos indo parar nas calçadas de ambas as ruas, aí o que se vê são pedaços de cocô disputando espaço com carros e pedestres.

Então dá para imaginar o asco que é passar por essas ruas, tentando achar algum lugar limpo para você colocar os pés.

Por um bom tempo o problema parecia sanado, até uma das calçadas onde ninguém em sã consciência andaria, parecia limpa. Sendo assim um belo dia fui ao centro da cidade e resolvi passar por essa calçada, talvez alguém com mania de limpeza não o fizesse jamais. Quando iniciei o trajeto, percebi que não haveria problema algum.

Absorto em meus pensamentos, começo a andar, passos curtos então, até porque até à banca de jornal não precisaria trocar de calçada, quando então começo a sentir um odor de leve invadir as minhas narinas, o cheiro ocre característico do esgoto, já me faz querer trocar de calçada, mas os carros estacionados ao lado me impedem, tento portanto apressar o meu passo, quando percebo que o solado do meu tênis está encharcado, só aí que vejo que toda a calçada está tomada pela água escura nauseante, sinto que preciso sair dali o mais breve possível, a água turva com seu líquido fétido invade o meu par de tênis tornando-os terrivelmente pesados é quando noto que não consigo dar mais nenhum passo, o cheiro agora é insuportável, tento obter ajuda, mas ninguém parece se importar com a minha situação, a água podre agora atinge minhas canelas, rapidamente pareço que estou afundando, quando o líquido pútrido atinge os meus quadris, começo a sentir cãibras no estômago, pareço estar numa areia movediça de um filme antigo do Tarzan, a água preta asquerosa vai me tragando aos poucos, não há nada onde eu possa me segurar, sofregamente a água lamacenta me absorve, ergo os braços numa tentativa inútil de livrar ao menos uma parte do corpo dos excrementos repulsivos que navegam nas águas negras, mas não há escapatória, irremediavelmente vou afundando, a água sulfurosa agora atinge o meu pescoço, mal consigo respirar quanto mais gritar pra pedir socorro, sinto que vou sucumbir, abro a boca, preciso gritar ao máximo, não posso acabar assim, mas voz alguma sai da minha garganta, antes a água pútrida, repulsiva, nauseabunda, entra na minha boca, invade com força a minha garganta, sufocando-me, fazendo por fim tossir e então acordar com a testa molhada, estou seguro na minha cama, mas ainda assim o cheiro pútrido parece escapar do pesadelo e pairar medonhamente no quarto.

Fim

NÁSSER AVLIS
Enviado por NÁSSER AVLIS em 26/11/2017
Reeditado em 02/12/2017
Código do texto: T6182355
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