REI MORTO.REI POSTO

Ocorreu de uma crise na economia acabar por golpear nosso personagem roubando-lhe o emprego.Era muito orgulhoso e ante a possibilidade de precisar de ajuda de quem quer que fosse lhe regelava a alma e caía ele em completa idiotia a olhar fixamente para o nada,atônito.Alguns traços de personalidade arraigados no ser não podem ser extinguidos jamais;controlados talvez...Nosso personagem chamava-se senhor J.I. um homem de meia idade.Muitos,como ele,se dão conta de que pouco ou nada está sob seu controle,quando já imersos em angústia e decepção."Um homem que não governa o seu espírito é tal qual uma cidade sem muros",li certa vez.Era este o caso:um ser apaixonado e sanguíneo que se consome ante qualquer contrariedade.Um pequeno ditador,obtuso na forma de enxergar as coisas,um rei cujos súditos eram sua fiel e dedicada senhora T.M. e seu casal de filhos.Seu reino:uma casa modesta deixada como herança pelo pai,já falecido.A mulher nutria pelo marido devoção e submissão completas e como paga se contentava com migalhas que era a forma do marido agradecer-lhe a dedicação.A senhora T.M. era portadora de uma beleza divina,o que sua polidez,discrição e gentileza no trato com as pessoas faziam ainda mais soberba.Diria,o mais próximo de anjo que um ser humano pode alcançar.Os filhos seguiam à risca sua orientação quanto ao modo de proceder para com o pai.Agora ela consolava o marido,que permanecera mudo desde de que se viu desempregado.Os dias se passaram e não havia alimento suficiente ao menos para as crianças.O nosso decadente rei se trancara no quarto e seu coração se se transformara em pedra.A senhora T.M. decidiu que não poderia permanecer naquele torpor enquanto via os filhos completamente famintos. Conseguiu,com sorte,um emprego como costureira numa fábrica e se não era muito já era alguma coisa.Nem consultara o marido,algo impensado em outros tempos.Nosso rei guardava ainda algo de humano e as crianças afinal não mereciam sofrer privações por conta de seu orgulho e mesmo ainda que quisesse objetar sabia não possuir força moral e autoridade a esse respeito..Já ele com outra coisa se importava ainda: ser sustentado por sua mulher.Era esta humilhação sobremodo demasiado para suportá-la.Um dia quando a mulher saíra para o trabalho,levando as crianças que iam para a escola,o senhor J.I. tomou uma decisão:trancou a porta do quarto após si e foi e se enforcou e foi este o fim.Refém de sua própria ótica míope e de sua estupidez e orgulho tolos.Rei morto,rei posto.