ELA


Ela estava lá.Sabe Deus a quanto tempo! Estava tão pertinho de nós e ninguém a percebeu. Imaginem,cerca de vinte pessoas naquela sala.Vinte pessoas que não imaginava pensar na presença daquela repugnante companhia.
Só ficamos sabendo de sua presença no momento exato. No momento que ela escolhera para mostrar-se. Foi apenas um minuto.Eterno,magnético.Todos os olhares se concentraram na mesma direção.
Eu cheguei atrasada e portanto fiquei em pé conversando com uma amiga.O café estava forte como gosto.Os bolindos pingados um convite à gordice. E, num desses movimentos para pegar mais um bolino é que a vejo,digna de uma narração de Kafka.
Viva, vivíssima,faceira,deixando todos desconcertados.Sua ousadia nos emudeceu.Parece que sua intenção maior  era mostrar-se.
Aturdida com tanta gente não sabia que direção tomar.Não fora convidada.
Justo nesse momento, o colega Mauro dela se aproxima e a olha com espanto.Foi um breve olhar, quase um toque rápido no pequeno corpo frágil da estranha visitante.Mas ela se esgueirou,rápida em outra direção.
Ele espantado , recua.Ri nervosamente mas não denunciei o epsódio.Digo para ele:
Aho que seu 1,90 de altura assustou a pobrezinha.
A diretora pergunta:
- O que está acontecendo? Posso saber?
-É ela !
-Ela quem?
-Ela está aqui nesta sala..Uma assanhada.E viva,vivíssima.Sumiu num piscar de olhos. 

Nos dias seguintes recusei o café.Passaram dias ,semanas e ela não apareceu mais.
Teria coragem de tomar novamente o café ?
Optei em levar minha própria garrafinha com o precioso líquido.