Encontro sobrenatural

*******************Materialização***********************

Quando Julian disse a seus dois colegas “vamos até minha casa para ver se minha mãe já chegou”, não podia imaginar que teriam um encontro com seres que margeiam o entendimento dos homens desde épocas imemoriais. Era uma gostosa noite de verão; céu estrelado e tempo quente; os três costumavam conversar até tarde próximo do portão da casa de um deles e não era diferente aquela semana, gostavam de fingir que eram outras pessoas; guerreiros, e mantinham esses pensamentos bem vivos em sua mente, mas também eram muito jovens e sem entendimento de como as esferas fora da matéria se comportam. Alguém um dia já disse que: “quando se olha muito tempo para o abismo, o abismo olha para você”.

Pois bem, Julian, Yago e Luiz conversavam e desenhavam em suas mentes muitos fatos envolvendo forças sobrenaturais, era um de seus passatempos favoritos; sem saber fizeram algo que só é ensinado em ordens de conhecimento como as que são baseadas no hermetismo; Mentalizaram a materialização de um tutor espiritual que os levaria a entendimentos mais profundos; tudo isso no campo do pensamento. Mas algumas coisas esperam apenas por pequenas brechas para se inserir nas vidas alheias.

Confrontos, batalhas e combates cujas suas habilidades reduzidas passavam a ter valor superior eram fantasiados o tempo todo por eles; forjando-se então uma atmosfera que embora abstrata, parecia muito viva em seus interiores.

Naquela noite, depois de um dia inteiro desejando que tais ilusões fossem verdade, eles conversavam descontraídamente até que surgiu o convite:

“Vamos lá em casa...” _ disse Julian se levantando da calçada e retirando um pouco de poeira da bermuda.

Costumavam estar sempre passeando aleatoriamente, hora na casa de um, hora na casa de outro e gostavam também de andar pelas ruas, perceber as pessoas, e até mesmo colocá-las em seus contos mentais.

Yago e Luiz levantaram-se do chão tão tranqüilos quanto haviam sentado e calmamente iniciaram a curta caminhada que passaria por quase duas quadras até a casa de Julian. No caminho observavam a sombra do monte Horebe que se levanta sobre a cidade e um outro ainda mais imponente por de trás dele; aquele lugar que era o vão central de todas as suas concepções místicas.

O caminho até a casa era pequeno e finalmente chegaram a uma avenida de casas baixas dispostas uma ao lado da outra onde frente a elas passava um pequenino corredor que delimitava-as por meio de um muro pouco maior que um metro e meio; o portão da avenida, confeccionado com barras de ferro estava sempre encostado, comumente Julian ao chegar empurrava-o com força para que batesse contra a parede e voltasse a fechar após sua passagem; entretanto, não naquele dia.

O portão foi o sinal de que algo estava diferente, algo ominoso os rodeava, oriundo de esferas inferiores, um ser que atraído por suas mentalizações via neles uma oportunidade perfeita de expor suas influências; afinal os três jovens o procuravam, ainda que não soubessem disso.

Depois de passarem pelo grande portão que não se fechou atrás deles, antes, permaneceu aberto, totalmente escancarado junto à parede; chegaram a um segundo pequeno portão que dividia o corredor do quintal da casa do jovem, passando por ele sem nenhum problema entraram no quintal e foram até a porta da casa.

Geralmente as chaves eram colocadas, pela mãe de Julian, debaixo de um pequeno capacho frente à porta; mas por algum motivo; hoje eles sabem que por uma providência, as chaves não estavam lá. Com certeza seria traumatizante se eles encontrassem cara a cara com a criatura decaída que ansiava por se apresentar.

“Que curioso, minha mãe não deixou a chaves aqui!”_ foi a exclamação de Julian.

Colocaram-se a procurar pelos arredores dentro do quintal a finalmente acharam-na dentro do tanque. O momento se aproximava, no interior da casa, aquilo os observava através do vidro canelado da porta. Já fazia meses que ele os influenciava, pois sentia a receptividade nos pensamentos e nos corações dos três com relação ao estudo da magia, dos astros, do zodíaco e outras formas de canalização; além de toda a predisposição que as mentes humanas já têm para aceitar fatos do “sobrenatural”.

Os três estavam parados junto à porta, e quando a chave metálica adentrou a fechadura, antes que Julian a girasse; algo surgiu das sombras dentro da casa, eles puderam ver claramente que aquele ser estranho tentava sair e freneticamente balançava a maçaneta. Uma figura grande, tão grande que não era possível ver sua cabeça; uma figura humana muito alta que o vidro canelado distorcia; os três ficaram num primeiro momento paralisados observando o que poderia ser tal visão, sem imaginar que se tratava de algo que já passeava constantemente em seus pensamentos; um mago, um fantasma, um espírito ou pior. Assustados, os três fugiram tentando passar ao mesmo tempo pelo pequeno portão e nas ruas correram sem entender o que havia se acontecido.

Retornaram para o lugar onde estavam sentados inicialmente procurando explicações lógicas para aquele fato inusitado, entretanto as respostas não vinham. Este foi provavelmente o princípio de sua doutrinação espiritual equivocada e da seqüência de fatos insólitos que simultaneamente começou a se desenrolar em suas vidas. Muitas e muitas vezes esses três encontraram-se com essa criatura embora nunca realmente tenham visto frente a frente seu rosto, mas essas são histórias para uma outra vez.

*** Nomes foram trocados, e acrescentei um pouco mais de ficção, porém esse relato é verídico. ***

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 17/08/2007
Reeditado em 23/05/2008
Código do texto: T611410