O Psicopata do Celular
2ª parte
Por volta das sete da noite, Quintino saiu do quarto, foi até a cozinha e encontrou sua irmã, Patrícius Eulália sentada junto a mesa, com seu prato já servido e com seu celular na mão. O irmão foi até o fogão, olhou o que tinha para jantar, remexeu o feijão, desconfiado, cheirou a panela.
Foi até a prateleira, pegou um prato fundo, um garfo, uma faca de serra e dois guardanapos. Preencheu todo o fundo do prato com um pouco de cada coisa que tinha no fogão. Dirigiu para a cabeceira da mesa, lado oposto em que estava a irmã.
Entrementes, antes de levar o primeiro garfo carregado de alimento à boca, lembrou: vinho! Foi até a sala, havia uma garrafa de vinho numa divisão da estante onde também fica a televisão.
Pegou um Rendeiras Syrah, viajou de volta até a cozinha, pegou uma taça enorme, colocou-a do lado direito do prato. Pegou um saca rolha importado da Alemanha todo cromado, abriu a garrafa, colocou-a em frente ao prato. Abriu a gaveta do armário e guardou o saca rolha Alemão cromado.
Patrícius Eulália num supetão, levanta da cadeira brutalmente e clama com todas as forças que pôde reunir naquele momento:
-- Não! Pelo amor de Deus! Não, meu senhor, tenha compaixão de mim! Me ajude, por favor, tenha misericórdia! Deus! O senhor tem que me ouvir!
Enquanto a irmã de Quintino apela a Deus, o celular dela estava derretendo devagarinho: uma fumacinha branca primeiro, uma fumaça preta depois, pesada e densa se livrou de dentro do aparelho deixando para trás um rombo, expondo toda a placa interna do celular.
O aparelho derreteu vagarosamente gotinha por gotinha, uma a uma, foram caindo na toalha de mesa em que o jantar estava posto, entrementes, as gotas antes de alcançar a toalha da mesa, passavam pelos dedos de Patrícius Eulália.
A dor de perder o celular era infinitamente maior do que a dor do plástico derretido que corria entre os dedos de Patrícius Eulália.
Quintino encheu a taça de vinho, a primeira consumiu a metade da garrafa, num só gole a esvaziou. Novamente encheu de vinho até consumir todo o vinho que havia dentro da garrafa.
Assemelhando a um ritual, Quintino ergueu a taça acima da cabeça, com o queixo colado ao peito: de olhos fechados, agradeceu a Deus poder ser premiado com mais um flagelo na sua presença, mais um membro retornava para a casa de Deus e tinha sua conexão com capeta cortado.
-- Deus não ouviu sua súplica, irmã! Com certeza, ele tem muitos pedidos na sua frente, né?!
O cinismo e o prazer que Quintino tinha naquele momento, era de um absurdo eloquente, mas como a irmã estava tomada pelas duas dores, a perda do celular e a pele queimada, nem percebeu o quanto o irmão se regozijava com a dor dela.
Patrícius é uma mulher singular: olhos grandes, bem arredondados e azuis, cabelo Black Power bem afro, é enorme volumoso e alto, até o irmão se perguntava de vez em quando, como pode esse cabelo ficar tão alto e firme? Pele branca como sabão de coco. Pernas grossas, roliças e longas, nariz pequeno, amassado, igualzinho ao da bisavó de seu pai: uma negra vinda direto da África, boca enorme, lábios volumosos e carnudos.
Duas semanas se passaram, a quantidade de celulares derretidos crescia exponencialmente. O professor se sentia no paraíso, a molecada estava arisca, usavam seus novos celulares com muita prudência.
Eulália saiu de sua tristeza, após exatamente quatorze dias, ela velou a morte do seu celular por duas semanas. Sentada na mesma cadeira de quando seu celular foi destruído, ela começou a reprisar tudo minimamente.
Entrou na página da escola onde estavam os exercícios, quando começou a resolver, lembrou que quando terminou o terceiro exercício, apareceu uma imagem de um jogo, assim que instalou e o jogo começou, o aparelho foi detonado.
Lembrou vagamente: Quintino tomava vinho e em nenhum momento ele me interpelou por nada. Ele bebeu todo o vinho. Falou em Deus! Como? Ele é cético! Quintino acredita em Deus, mas não admite em hipótese nenhuma que o criador interfira na vida dos homens!
A irmã de Quintino, estava confusa, não desconfiava diretamente do irmão, mas algo não ia bem, as coisas não combinavam, havia algo estranhíssimo naqueles exercícios.
Se o irmão é inteligente, Patrícius Eulália é muito mais, e pior, é mulher. Mulher desconfiada é problema. As mulheres têm uma capacidade de dissimulação espantosa, por exemplo, quando as mulheres se reúnem, estão sempre rindo, falando de várias coisas ao mesmo tempo, mas percebem e observam o seu alvo minuciosamente. Não importa a distância, às vezes, estão destilando veneno, mas o sorriso está sempre posto de maneira natural, mas engana feio quem acredita. O pior é que 99,9% dos homens acreditam e se ferram.
Quintino seguia seus dias com muita cautela. Sabia que mais hora menos hora, iriam descobrir, isso era natural. O problema era não chegarem nele, no mais, seu objetivo já tinha sido alcançado. Os celulares que estragassem de agora em diante seriam um grande lucro.
Patrícius Eulália, esperou o irmão sair de manhã para a escola, logo que ficou sozinha em casa, foi até o quartinho de dispensa, não tocou em nada, mas olhou tudo delicadamente.
Logo em seguida, foi até o quarto do irmão, olhou, olhou, olhou, não tocou em nada. Assim como entrou no quarto saiu, sem deixar vestígios. Foi até o seu computador, que fica na sala. Entrou na página da escola, baixou os exercícios, mas não os abriu. Desconectou o computador da internet, fez uma cópia da pasta dos exercícios e procurou um meio de abrir os exercícios sem resolvê-los.
Patrícius usou um programa simples, tipo bloco de notas, mas ela havia desenvolvido umas linhas de programação nesse programa. Eulália ficou estática, não acreditava no que estava vendo.
Por trás dos exercícios, haviam várias linhas de comando de programação. Tentou separá-las, mas não conseguia. A inteligência mais o bom senso, lhe aconselharam a dar um tempo, refletir melhor antes de dar prosseguimento a ações impensadas.
Patrícius foi até o seu quarto e pegou seu amuleto da sorte, a faca do Rambo. Apaixonada por Sylvester Stallone, acha ele o homem mais lindo e inteligente do mundo, já assistiu todos os filmes dele.
Pegou a faca que tem uma lâmina de quarenta centímetros de comprimento, sete de largura, um centímetro de espessura e o cabo com dez centímetros feito em osso do chifre de um rinoceronte.
Brincando de espetar o seu cabelão Black Power com a faca do Rambo, Patrícius retornou ao computador, resolveu um exercício e voltou a tentar decifrar as linhas de comando. Percebeu algo que a levou a uma dedução perfeita: as linhas de comando iam surgindo conforme os exercícios eram resolvidos.
O fato das linhas de comando estarem nos exercícios de matemática, não implicava diretamente o irmão, alguém poderia ter inserido sem ele saber, mas a possibilidade de o irmão ser o autor não foi descartada. Eulália precisava saber primeiro, onde ficava armazenado o programa, segundo, como era feito a linha de conexão pela rede, uma vez que a escola tinha uma intranet. Em terceiro, quem era o autor.
Mesmo quando o mar não está para peixe, Patrícius tentou pescar alguma coisa, deixou o computador ligado na mesa, foi para o seu quarto. Deitada na cama com um livro nas mãos e ouvindo músicas, vigiava o seu computador de esguelha.
Não demorou para Quintino chegar da escola. Logo que passou pela porta, trancou-a e colocou as chaves no suporte de chaves que fica à esquerda da porta. Foi até o seu quarto, trocou de roupa, colocou short, camiseta sem manga e chinelo. Foi até a cozinha, pegou uma garrafa de água gelada, copo e seguiu até a mesa da sala.
Tomando sua água lentamente, despretensiosamente olhava para a tela do computador. Manteve a mesma serenidade de quando chegou em casa, apenas bebeu a água um pouco mais rápido como de costume e não encheu o copo pela segunda vez, como é de costume.
O irmão de Eulália sabia que a possibilidade de estar sendo observado as espreitas era totalmente possível, assim, levantou-se sem olhar para o quarto da irmã, cantarolou uma música, tamborilou os dedos da mão direita na mesa, em seguida, muito calmo, levou o copo e a garrafa de água até a cozinha. Zarpou para seu quarto, assim que penetrou no seu aposento trancou a porta com a chave, fato este inédito. Neste momento, Patrícius Eulália ruminou em pensamento: o mar está para peixe!
Quintino não demorou a sair do quarto, mas antes conferiu cada canto do quarto, cada gaveta, a escrivaninha e o guarda roupas, tudo em ordem. Foi até o quarto de dispensa, tudo estava como ele havia deixado antes, todos os livros guardados como antes.
O irmão de Eulália, pegou um arame galvanizado de dois metros mais ou menos, enrolou de forma a ocupar o menor espaço possível e colocou o no bolso de trás da calça. Com um alicate médio no bolso da calça da frente, saiu de casa.
Quando Patrícius Eulália precisa se concentrar para resolver enigmas, ela ouve Chico Buarque, ela odeia esse cantor, não suporta a voz de um homem que mais parece um gato sendo enforcado ou estrangulado. Após ouvir três ou quatro músicas, teve uma intuição: antes se livrou do gato quase morto que cantava em seus ouvidos. A conexão só poderia ser feita por alguém que tem a senha da intranet da escola e possivelmente, lá estaria o servidor que fornece o programa: os exercícios seriam a senha para acessar o servidor e baixar o programa.
-- Xavier Xamã! Ele trabalhou muito tempo na escola e é técnico em computação, só pode ser ele! Falou em voz alta Patrícius Eulália.
Enquanto Patrícius Eulália girava a maçaneta da porta para sair de casa, Quintino também girava a maçaneta para entrar em casa.
-- Que coincidência irmãzinha, você saindo e eu chegando. Quintino era só alegria.
-- É mesmo né, irmãozinho, mas às vezes, as coincidências nos enganam! Patrícius Eulália era torturada por sua agonia.
Quando chegou na casa de Xavier Xamã, Eulália calçou seu par de luvas de couro, bateu na porta e esperou: uma, duas, três, quatro vezes bateu na porta e ninguém apareceu para atender. A porta estava trancada, seguiu pelo corredor do lado esquerdo da casa e foi até a porta dos fundos. Trancada também.
Ao retornar do fundo da casa pelo mesmo corredor, percebeu que uma janela poderia estar destrancada. Não precisou forçar muito, o trinco de uma das folhas de madeira da janela cedeu, quando Patrícius Eulália penetrou na casa, trombou com o corpo de Xavier Xamã pendurado por um fio de arame galvanizado.
2ª parte
Por volta das sete da noite, Quintino saiu do quarto, foi até a cozinha e encontrou sua irmã, Patrícius Eulália sentada junto a mesa, com seu prato já servido e com seu celular na mão. O irmão foi até o fogão, olhou o que tinha para jantar, remexeu o feijão, desconfiado, cheirou a panela.
Foi até a prateleira, pegou um prato fundo, um garfo, uma faca de serra e dois guardanapos. Preencheu todo o fundo do prato com um pouco de cada coisa que tinha no fogão. Dirigiu para a cabeceira da mesa, lado oposto em que estava a irmã.
Entrementes, antes de levar o primeiro garfo carregado de alimento à boca, lembrou: vinho! Foi até a sala, havia uma garrafa de vinho numa divisão da estante onde também fica a televisão.
Pegou um Rendeiras Syrah, viajou de volta até a cozinha, pegou uma taça enorme, colocou-a do lado direito do prato. Pegou um saca rolha importado da Alemanha todo cromado, abriu a garrafa, colocou-a em frente ao prato. Abriu a gaveta do armário e guardou o saca rolha Alemão cromado.
Patrícius Eulália num supetão, levanta da cadeira brutalmente e clama com todas as forças que pôde reunir naquele momento:
-- Não! Pelo amor de Deus! Não, meu senhor, tenha compaixão de mim! Me ajude, por favor, tenha misericórdia! Deus! O senhor tem que me ouvir!
Enquanto a irmã de Quintino apela a Deus, o celular dela estava derretendo devagarinho: uma fumacinha branca primeiro, uma fumaça preta depois, pesada e densa se livrou de dentro do aparelho deixando para trás um rombo, expondo toda a placa interna do celular.
O aparelho derreteu vagarosamente gotinha por gotinha, uma a uma, foram caindo na toalha de mesa em que o jantar estava posto, entrementes, as gotas antes de alcançar a toalha da mesa, passavam pelos dedos de Patrícius Eulália.
A dor de perder o celular era infinitamente maior do que a dor do plástico derretido que corria entre os dedos de Patrícius Eulália.
Quintino encheu a taça de vinho, a primeira consumiu a metade da garrafa, num só gole a esvaziou. Novamente encheu de vinho até consumir todo o vinho que havia dentro da garrafa.
Assemelhando a um ritual, Quintino ergueu a taça acima da cabeça, com o queixo colado ao peito: de olhos fechados, agradeceu a Deus poder ser premiado com mais um flagelo na sua presença, mais um membro retornava para a casa de Deus e tinha sua conexão com capeta cortado.
-- Deus não ouviu sua súplica, irmã! Com certeza, ele tem muitos pedidos na sua frente, né?!
O cinismo e o prazer que Quintino tinha naquele momento, era de um absurdo eloquente, mas como a irmã estava tomada pelas duas dores, a perda do celular e a pele queimada, nem percebeu o quanto o irmão se regozijava com a dor dela.
Patrícius é uma mulher singular: olhos grandes, bem arredondados e azuis, cabelo Black Power bem afro, é enorme volumoso e alto, até o irmão se perguntava de vez em quando, como pode esse cabelo ficar tão alto e firme? Pele branca como sabão de coco. Pernas grossas, roliças e longas, nariz pequeno, amassado, igualzinho ao da bisavó de seu pai: uma negra vinda direto da África, boca enorme, lábios volumosos e carnudos.
Duas semanas se passaram, a quantidade de celulares derretidos crescia exponencialmente. O professor se sentia no paraíso, a molecada estava arisca, usavam seus novos celulares com muita prudência.
Eulália saiu de sua tristeza, após exatamente quatorze dias, ela velou a morte do seu celular por duas semanas. Sentada na mesma cadeira de quando seu celular foi destruído, ela começou a reprisar tudo minimamente.
Entrou na página da escola onde estavam os exercícios, quando começou a resolver, lembrou que quando terminou o terceiro exercício, apareceu uma imagem de um jogo, assim que instalou e o jogo começou, o aparelho foi detonado.
Lembrou vagamente: Quintino tomava vinho e em nenhum momento ele me interpelou por nada. Ele bebeu todo o vinho. Falou em Deus! Como? Ele é cético! Quintino acredita em Deus, mas não admite em hipótese nenhuma que o criador interfira na vida dos homens!
A irmã de Quintino, estava confusa, não desconfiava diretamente do irmão, mas algo não ia bem, as coisas não combinavam, havia algo estranhíssimo naqueles exercícios.
Se o irmão é inteligente, Patrícius Eulália é muito mais, e pior, é mulher. Mulher desconfiada é problema. As mulheres têm uma capacidade de dissimulação espantosa, por exemplo, quando as mulheres se reúnem, estão sempre rindo, falando de várias coisas ao mesmo tempo, mas percebem e observam o seu alvo minuciosamente. Não importa a distância, às vezes, estão destilando veneno, mas o sorriso está sempre posto de maneira natural, mas engana feio quem acredita. O pior é que 99,9% dos homens acreditam e se ferram.
Quintino seguia seus dias com muita cautela. Sabia que mais hora menos hora, iriam descobrir, isso era natural. O problema era não chegarem nele, no mais, seu objetivo já tinha sido alcançado. Os celulares que estragassem de agora em diante seriam um grande lucro.
Patrícius Eulália, esperou o irmão sair de manhã para a escola, logo que ficou sozinha em casa, foi até o quartinho de dispensa, não tocou em nada, mas olhou tudo delicadamente.
Logo em seguida, foi até o quarto do irmão, olhou, olhou, olhou, não tocou em nada. Assim como entrou no quarto saiu, sem deixar vestígios. Foi até o seu computador, que fica na sala. Entrou na página da escola, baixou os exercícios, mas não os abriu. Desconectou o computador da internet, fez uma cópia da pasta dos exercícios e procurou um meio de abrir os exercícios sem resolvê-los.
Patrícius usou um programa simples, tipo bloco de notas, mas ela havia desenvolvido umas linhas de programação nesse programa. Eulália ficou estática, não acreditava no que estava vendo.
Por trás dos exercícios, haviam várias linhas de comando de programação. Tentou separá-las, mas não conseguia. A inteligência mais o bom senso, lhe aconselharam a dar um tempo, refletir melhor antes de dar prosseguimento a ações impensadas.
Patrícius foi até o seu quarto e pegou seu amuleto da sorte, a faca do Rambo. Apaixonada por Sylvester Stallone, acha ele o homem mais lindo e inteligente do mundo, já assistiu todos os filmes dele.
Pegou a faca que tem uma lâmina de quarenta centímetros de comprimento, sete de largura, um centímetro de espessura e o cabo com dez centímetros feito em osso do chifre de um rinoceronte.
Brincando de espetar o seu cabelão Black Power com a faca do Rambo, Patrícius retornou ao computador, resolveu um exercício e voltou a tentar decifrar as linhas de comando. Percebeu algo que a levou a uma dedução perfeita: as linhas de comando iam surgindo conforme os exercícios eram resolvidos.
O fato das linhas de comando estarem nos exercícios de matemática, não implicava diretamente o irmão, alguém poderia ter inserido sem ele saber, mas a possibilidade de o irmão ser o autor não foi descartada. Eulália precisava saber primeiro, onde ficava armazenado o programa, segundo, como era feito a linha de conexão pela rede, uma vez que a escola tinha uma intranet. Em terceiro, quem era o autor.
Mesmo quando o mar não está para peixe, Patrícius tentou pescar alguma coisa, deixou o computador ligado na mesa, foi para o seu quarto. Deitada na cama com um livro nas mãos e ouvindo músicas, vigiava o seu computador de esguelha.
Não demorou para Quintino chegar da escola. Logo que passou pela porta, trancou-a e colocou as chaves no suporte de chaves que fica à esquerda da porta. Foi até o seu quarto, trocou de roupa, colocou short, camiseta sem manga e chinelo. Foi até a cozinha, pegou uma garrafa de água gelada, copo e seguiu até a mesa da sala.
Tomando sua água lentamente, despretensiosamente olhava para a tela do computador. Manteve a mesma serenidade de quando chegou em casa, apenas bebeu a água um pouco mais rápido como de costume e não encheu o copo pela segunda vez, como é de costume.
O irmão de Eulália sabia que a possibilidade de estar sendo observado as espreitas era totalmente possível, assim, levantou-se sem olhar para o quarto da irmã, cantarolou uma música, tamborilou os dedos da mão direita na mesa, em seguida, muito calmo, levou o copo e a garrafa de água até a cozinha. Zarpou para seu quarto, assim que penetrou no seu aposento trancou a porta com a chave, fato este inédito. Neste momento, Patrícius Eulália ruminou em pensamento: o mar está para peixe!
Quintino não demorou a sair do quarto, mas antes conferiu cada canto do quarto, cada gaveta, a escrivaninha e o guarda roupas, tudo em ordem. Foi até o quarto de dispensa, tudo estava como ele havia deixado antes, todos os livros guardados como antes.
O irmão de Eulália, pegou um arame galvanizado de dois metros mais ou menos, enrolou de forma a ocupar o menor espaço possível e colocou o no bolso de trás da calça. Com um alicate médio no bolso da calça da frente, saiu de casa.
Quando Patrícius Eulália precisa se concentrar para resolver enigmas, ela ouve Chico Buarque, ela odeia esse cantor, não suporta a voz de um homem que mais parece um gato sendo enforcado ou estrangulado. Após ouvir três ou quatro músicas, teve uma intuição: antes se livrou do gato quase morto que cantava em seus ouvidos. A conexão só poderia ser feita por alguém que tem a senha da intranet da escola e possivelmente, lá estaria o servidor que fornece o programa: os exercícios seriam a senha para acessar o servidor e baixar o programa.
-- Xavier Xamã! Ele trabalhou muito tempo na escola e é técnico em computação, só pode ser ele! Falou em voz alta Patrícius Eulália.
Enquanto Patrícius Eulália girava a maçaneta da porta para sair de casa, Quintino também girava a maçaneta para entrar em casa.
-- Que coincidência irmãzinha, você saindo e eu chegando. Quintino era só alegria.
-- É mesmo né, irmãozinho, mas às vezes, as coincidências nos enganam! Patrícius Eulália era torturada por sua agonia.
Quando chegou na casa de Xavier Xamã, Eulália calçou seu par de luvas de couro, bateu na porta e esperou: uma, duas, três, quatro vezes bateu na porta e ninguém apareceu para atender. A porta estava trancada, seguiu pelo corredor do lado esquerdo da casa e foi até a porta dos fundos. Trancada também.
Ao retornar do fundo da casa pelo mesmo corredor, percebeu que uma janela poderia estar destrancada. Não precisou forçar muito, o trinco de uma das folhas de madeira da janela cedeu, quando Patrícius Eulália penetrou na casa, trombou com o corpo de Xavier Xamã pendurado por um fio de arame galvanizado.