A CABANA
Era final de verão, quando um grupo de dois rapazes e três moças voltava do litoral, avistou uma clareira no meio da floresta, então o grupo decidiu adentrar para explorar a natureza do local. Após percorrer uma trilha íngreme e curvilínea, o grupo avistou um lugar pitoresco e paradisíaco. A paisagem era suave e bucólica, o vento mal soprava e o ar era gelado. Havia um pequeno lago que espelhava a sublimidade de um céu azul e cristalino. Na outra margem do lago, a uns trezentos metros de onde os jovens estavam, havia uma fileira de montanha, no sopé de uma delas havia uma pequena e solitária cabana, cuja chaminé subia uma tênue e alva fumaça.
Os jovens montaram suas barracas em frente ao lago. Passaram a tarde pescando e colhendo frutas silvestres. À noite, acenderam uma fogueira e tomaram bastante cerveja. Altas horas da noite, quando estavam recolhidos. Foram despertados por um grito estridente de uma ave de rapina, em seguida ouviram um riso agudo e persistente, tiveram a sensação que alguém circulava as barracas com gravetos. De repente se fez um silencio insuportável. Aos poucos os jovens se acalmaram e voltaram a dormir porem um dos rapazes foi despertado por uma mão gelada lhe acariciando o rosto. Quando ele tentou fechar saco de dormir, viu num canto da barraca uma criança agachada e encapuzada segurando uma vela acesa em uma das mãos, com o dedo indicador da outra mão fazia sinal de silencio. Mal dava para ver o seu rosto, mas pela expressão da boca, via-se nitidamente um riso sarcástico, impróprio para uma criança, que pelo tamanho, julgava ter uns sete anos de idade. O rapaz ficou paralisado de tanto medo. De repente a luz da vela apagou e o jovem sentiu um cheiro forte e de flor do campo e lama. Alguém sussurrou em seus ouvidos. “espero-te amanha na cabana.”
O dia mal amanheceu o jovem, movido por uma força descomunal entre o medo e a coragem, não esperou que os outros acordassem e apesar das águas geladas do lago fez a travessia nadando até a outra margem. O caminho para a cabana era de difícil acesso, havia muito lodo e pedras escorregadias. Enfim ele avistou a cabana, pelo aspecto parecia abandonada há anos. As portas estavam trancadas; fechaduras e cadeados enferrujados, as vidraças empoeiradas mal davam para ver o interior da cabana. Ele investigou os arredores e ficou intrigado com a fumaça que saia chaminé incessantemente. Mas ao chegar aos fundos, próximo da porta, havia uma tampa no chão, talvez uma saída de emergência. O rapaz desceu os degraus, o espaço era pequeno e tinha uma escada de madeira que dava acesso ao interior da cabana. Ele subiu as escadas e chegou à cozinha. O cômodo estava em um estado deplorável, cheirava a fezes, urina e outros dejetos podres. Sobre a pequena mesa havia uma caixa de sapatos cheia de fotografias, havia um envelope endereçado, mas estava vazio. Ele recolheu o envelope e o colocou no bolso. Estava distraído olhando as fotografias quando sentiu uma forte pancada na cabeça. Acordou com a cabeça apoiada num pequeno colo. Através da vista embaçada conseguiu ver o pequeno rosto, ela sorria aquele sorriso cínico da noite passada, os dentes estavam estragados e ela cheirara muito mal.
- você agora é o meu bebê. – falou a pequena criatura.
Ela o ninava como se ele fosse um bebê de colo. Enfiou em sua boca uma velha mamadeira contendo um liquido viscoso e mal cheiroso e amargo. Ele levantou a cabeça para vomitar, mas ficou petrificado, pois sentiu um corpo gelado serpenteando sobre o seu. Era uma cobra píton de aproximadamente quatro metros de comprimento.
- você está assustando o meu bebê – deu um tapa na cabeça da serpente.
Após alguns minutos, a criança adormeceu profundamente. Aproveitando-se desse momento, ele conseguiu fugir.
Não contou nada para os amigos, apenas falou que aquele local não era seguro e que achava por bem sair daquele lugar o mais rápido possível.
Chegando à cidade, cuidou de procurar o destinatário que constava naquele envelope. Os moradores ainda residiam no mesmo local. O rapaz narrou o ocorrido e entregou o envelope nas mãos de uma senhora, que o apertou contra o peito, ela agradecia, chorava e sorria ao mesmo tempo.
Nas manchetes dos jornais do dia seguinte estava estampado o seguinte noticiário:
“CRIANÇA QUE HAVIA DESAPARECIDO HÁ QUINZE ANOS FOI ENCONTRADA EM UMA CABANA ABANDONADA NO MEIO DE UMA FLORESTA. A JOVEM AGORA COM VINTE ANOS DE IDADE, ENCONTRA-SE COM SÉRIOS PROBLEMAS NEUROLÓGICOS E FISIOLOGÍSTICOS CAUSADOS POR FALTA DE NUTRIENTES NECESSÁRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO E PELA AUSÊNCIA DE SERES HUMANOS. PORTADORA DE RAQUITISMO E RETARDAMENTO MENTAL, SEM NEUMA TÉCNICA DE SOBREVIVÊNCIA, INEXPLICAVELMENTE SOBREVIVEU EM UMA FLORESTA COMPLETAMENTE LONGE DA CIVILIZAÇÃO”