UM CACHORRO DE 45 MIL

Azared acordou com o pé esquerdo. Levantou-se, foi ate o banheiro do quartinho alugado. Aluguel cinco meses atrasado por sinal. Jogou duas mãozadas de água gelada no rosto. Tem que acordar! Entrou no quarto e abriu a geladeira. Totalmente vazia. Bom, têm água gelada, algumas garrafas de água geladas, só. Mesmo parecendo desperto, sentou de novo no colchão. Surrado, o lençou contava uns cinco rasgos.

Ainda sentado debruçou a cabeça apoiada pelas mãos. Desanimado apesar de ter jogado um litro de água no rosto, levantou a cabeça, olhou em volta. Moveis velhos, luz cortada. A iluminação do sol que entrava pela única janela, dava certa claridade no quartinho. Parecia um lugar sub-humano.

Azared de rosto lívido e animo abatido. Surgiu um fio de esperança. Por um momento de súbito se pós de pé. Ajoelhou-se de frente uma cômoda velha e começou a fuçar de baixo, retirou uma caixa de fermentas de serviço. Martelos, chaves de fenda, prumo etc. pensou: poderia vender! Relutou:

- não, ainda não! - disse para si mesmo. Pareceu juntar forças e se pôr em batalha. A batalha é conseguir o café da manhã. Aliás a refeição mais importante de um ser humano. Se tratando de um pedreiro autônomo, de que a qualquer momento pode aparecer um serviço qualquer, para ganhar uns qualquer, é importante o café da manhã.

Começou a fuçar no fundo da maleta de ferramentas e fuça aqui, fuça ali, pega aqui pega ali. Bom, das moedas que estavam espalhadas na caixa de ferramentas. Azared conseguiu juntar três reais, moedas de cinco centavos outras de 25 centavos, muitas de 10 centavos, bom três reais. Alegrou-se, colocou uma roupa mais ou menos apresentável e foi até o armazém do seu Zé.

- Eu quero três reais de pães, isso mesmo pode ser bem torradinha. - Solicitou ao seu Zé.

- Humm! ok aqui está. Mas! Você tem que fechar aquela conta seu azared. Não me esqueci não.

Ele corou na hora, desabou a cerviz, os ombros já estavam arqueados e tudo mais. Aquela situação medonha. Distante por um momento, estava pensando alguma coisa!

- Ta, tenho que pagar eu vou pagar seu Zé, mais ta ruim a coisa viu, crise e tudo mais neh.. Olha assim que eu arrumar uma obra é a primeira coisa viu.

- Ta bom, vai dar certo para você e vai dá certo para mim... - Seu Zé o encarou por um momento. Fitou. O seu Zé era uma pessoa boa, ele pressentiu toda situação e ali olhando azared quase que entregue.

- Você deseja mais alguma coisa?

- Eu já estou com dívida, a conta eu não fechei ainda.... Eu fico sem jeito.

- Pode falar. - Com um olhar indulgente seu Zé;

- Queria meia dúzia de ovos, assim já me serve para o café da manhã e para o almoço.

Seu Zé se virou fuçou nas prateleiras. Ficavam atrás dele, retirou uma dúzia de ovos e colocou num saquinho de plástico e passou para Azared.

- Eu anoto aqui, depois que tudo melhorar... é nós! ta certo é... é nós. - Seu Zé deu ok de mão.

Retirou-se. O sorriso singelo por conseguir a refeição daquele dia, deu um pouco de vida aquele homem surrado. Trabalhador sofrido. Mas honesto. Sempre que estava sem serviço e tal, se fazia dividas, logo assim nos primeiros serviços. Primeira coisa fechar as contas aí depois sim gastar em outras eventuais necessidades.

Chegou em casa passou um pano na mesa, se dirigiu a pia. Debaixo da pia um litro de álcool de posto, retirou uma boca de fogareiro e depositou um pouco do álcool e acendeu. Sua forma de eventualmente preparar algum alimento, já que o gás já faltava dois meses. Armou sobre o fogareiro uma frigideira. `` ovos mexidos, que delicia ´´ lambeu os lábios.

Assim que quebrou o primeiro ovo para jogar na frigideira, um cheiro desagradável subiu.

- Estragado! Gritou quase que de raiva. - O segundo, estragando também o terceiro estragado também...

- Ah por Deus que vida! Nem partiu para quebrar o quarto ovo, já sabia o resultado. Sentou-se na mesa e começou a mastigar o pão seco. Colocava toda sua raiva nas mastigadas do pão seco.

- Droga... Droga... - Mastigava com mais raiva e fitava o saquinho que continho os restantes dos ovos. Levantou-se juntou os outros ovos já quebrados podres e jogou tudo dentro da sacolinha de plástico, apertou para quebrar o restante dos ovos e descarregar a raiva.

- Isso não vai ficar aqui, não posso me deliciar deles, tanto queria! Agora só esse cheiro insuportável... droga!

Pegou o saco deu um bom no, mesmo assim pelo fundo pingava algo como a gema e a clara misturada, de sua casa até a lixeira do outro lado da calçada, fez-se traço de geme e clara podre. Por mais azar do destino um cachorro perdido e que passeava por ali de bobeira, sentiu o cheiro e foi seguindo rastro de gema e ovo deixado pelo vazamento no saco plástico.

Azared depositou os restos de ovos podres na caçamba. Na verdade, arremessou para dentro dela como que descontando toda sua raiva. Como que se aquele gesto pudesse amenizar a dor. De súbito um cachorro abatido, porem de bom porte! Um pit bull. Lascou uma mordida no calcanhar dele. O cheiro talvez atraísse o cachorro. Deu um grito que provavelmente Deus ouviu! Talvez seja a suplica dos mais lascados na vida um clamor, um grito forte de morte. E a esperança de um café da manhã, simples! Mas importante naquelas circunstâncias. Logo que ele se virou e viu um cão forte e viu ele agarrado com dentes fortes em seu calcanhar, sangue para todo lado, Era o mal! Só me faltava essa pensou ainda sentindo a dor.

Mas a dor só cessou quando ele atentamente fitou o cão. O tal diabo o tal cachorro estava com uma coleira um tanto diferente. Aquele cachorro era de estilo! Os olhos de azared faiscaram um brilho forte. A dor? Sumiu. Pouco importava o cachorro arrancando a perna dele.

Providencia divina conta azared em qualquer lugar que as conversas corriqueiras surgem, pega uma bengala ornada em prata levanta aos céus e diz: louvado seja Deus.

No momento que olhou a coleira do cachorro o brilho era impressionante! Mais ainda assim o cão estava grudado em suas pernas. Começou a conversar com ele, deixou um olhar compassivo para o cachorro, devagar o cachorro foi sendo indulgente conquistado. Azered com firmeza passou um pouco a mão na cabeça dele, bem de leve, um carinho

Amigo! Amigo- o cachorro soltou o calcanhar...ele se abaixo e continuo passando a Mao de leve na cabeça do monstro pit bul da nobreza.

-Ponto fraco. - Começou a coçar a orelha dele, nesse ponto ele matou o pau a gato, para falar a verdade matou o cão a pau. Porque de súbito ele bem devagar foi puxando a corrente que servia de coleira no cachorro, corrente pesada. Realizada essa missão, foi se afastado e nem quis nunca mais saber daquele cachorro que nessa altura já tinha pulado para dentro da caçamba de lixo em busca de alimento.

Azered ainda sentindo a cravada de dente no calcanhar foi de vagar voltando-se para seu casebre. A dor só foi anestesiada por completa quando ele se sentou em frente ao um comprador de ouro da região. Um teste rápido o homem pingou um ácido sobre a corrente que azared tinha depositado na balança de precisão.

- Sim ouro legitimo! E da melhor qualidade azared! da melhor qualidade!

- quantas gramas? Quantas gramas? - Os olhos brilhavam!

- Hum! precisamente 450 gramas! Muito bom! Muito bom mesmo! Eu pago 100 reais a grama. - Pegou uma calculadora fez as contas...

- Bom esse ouro é o melhor no mercado, acho que sendo honestamente você poderia até mesmo pegar um valor melhor numa cooperativa especializa, mais eu quero comprar de você. Deu o total de 45 mil. Porem só tem aqui 40 mil. Mas veja bem abriu um armário retirou uma bengala de cabo preto. O suporte da bengala era a cabeça de um cachorro de prata, porem de prata trabalhada, uma bela muleta!

- Deus prove e Deus provera! Me dê essa muleta e os 40 mil reais, Ele pegou a muleta experimentou deu um sorriso de satisfação para si mesmo. - Analisando o apoio da muleta era a cabeça de um cachorro. Irônico o danado do destino. Uma muleta de suporte de cabeça de cachorro de prata. Uma bela muleta e uma bela história!

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