O estuprador
Ele ficou sentado numa mureta e esperava o momento ideal para entrar no prédio. Sabia que o apartamento da bela Júlia era o 302. Ele já vinha a observando há meses. Sabia que ela não reparava nele. Ele já conhecia todo o cotidiano da jovem mulher e de seu marido. O marido acordava cedo e saía para o trabalho e só voltava no fim da tarde. Ela acordava junto com ele e fazia algumas arrumações no pequeno apartamento de 50 metros quadrados e descia para ir ao mercadinho. Quando não precisava ir ao mercadinho, mesmo assim ela descia e ia até a praça com seu celular e ficava ouvindo música.
Júlia tinha a pele branca, cabelos negros e um belo corpo todo proporcional. Ela sempre descia com um vestido um pouco acima do joelho e um lenço no cabelo. Ele a espreitava como uma sombra. Como uma serpente no jardim esperando o momento certo para atacar. Finalmente o dia chegara. Ele tinha tudo bem armado, mas o medo sempre o atrapalhava colocar o plano em ação. Hoje era o dia. Ele sabia que às 10 horas Júlia desceria e às 11 horas já estaria de volta. No entanto, seu plano era que ele entraria no prédio durante o tempo que ela estivesse fora. Ele conhecia o prédio por dentro e a cada andar havia como um porão sob as escadas. Porão que não era utilizado por nenhum morador e servia bem de esconderijo. Ele esperaria Júlia sair e entraria no prédio. O prédio não tinha porteiro e o zelador vinha apenas duas vezes por semana. O prédio só tinha interfone e na terça-feira não era o dia do zelador. Ele também sabia que todos os dias, por volta das dez e meia, uma senhora gorda saía do prédio com bastante dificuldade. E era justamente nesse momento que ele agiria.
Na hora prevista, nem um segundo a mais e a menos, saiu Júlia. Estava linda e o coração dele acelerou. Esperou na mureta pela senhora gorda. Próximo das dez e meia a porta do prédio começava a se abrir lentamente, ele sabia que deveria ser a senhora gorda com suas duas bolsas pesadas. Deu um salto e em poucos segundos chegou à porta do prédio todo solícito.
- Quer ajuda, senhora?
- Ah, sim, meu filho, muito obrigada.
- Pode deixar que eu fecho a porta.
- Ah, não se preocupe, ela bate sozinha.
Ele sabia disso, mas também sabia que quanto mais se abrisse a porta mais lento era seu retorno. E foi justamente nesse momento que aproveitou para se lançar dentro do prédio. O coração disparava, começava a suar e subiu as escadas velozmente. No terceiro andar e em frente ao apartamento de Júlia se camuflou na escuridão do falso porão sob a escada. Tentou se acalmar para diminuir o batimento cardíaco e o som de sua respiração. Quando ficou mais calmo lembrou não ter ouvido a porta do prédio bater. Isso o deixou preocupado, pois não ouviria as próximas entradas. E foi o que aconteceu quando Júlia chegou das compras do mercadinho. Ele só soube que ela chegava pelo barulho de seus passos cansados subindo a escada. Ele emudeceu-se por completo e entrou em êxtase quando viu a bela silhueta de Júlia tentando abrir a porta de seu apartamento enquanto segurava desengonçadamente duas sacolas de compra. Enfim, a moça conseguiu abrir a porta e os sons externos não existiam para ela, pois em sua mente fluía em alto volume uma sonata de Beethoven que entrava pelos seus tímpanos por meio dos fones de seu celular. Quando ela se virou para fechar a porta, o sujeito se projetou em sua frente e lhe deu um empurrão. Em seguida fechou a porta e a trancou. Júlia assustada com as compras arremessadas sobre si, o celular ainda tocando por um fone que não se desprendera de seu ouvido não conseguia nenhuma reação, pois ficara estática pelo pânico. O homem lançou-se sobre ela com uma faca nas mãos a ameaçando cortar-lhe a garganta se gritasse. O corpo de Júlia reagia involuntariamente, fechando todas as entradas. A adrenalina na jovem mulher provocava-lhe espasmos incontroláveis. Não sabia o que fazer. O agressor a beijava e levantava seu vestido. Depois, abruptamente, abriu a parte de cima do vestido com violência expondo os belos e fartos seios de Júlia. Ela agora chorava sem forças e pedia misericórdia, mas o estuprador dominado pelo desejo doentio não tinha a razão sob controle, apenas a vontade de saciar seus desejos. Ele decide levantá-la e levá-la até a cama e nesse exato momento a porta do apartamento de Júlia é arrombada e um homem de meia idade entra com uma pistola em punho e pronta para fazer justiça. O agressor assustado vira-se largando Júlia no chão, o sujeito descarrega a pistola no peito do estuprador que cai ensanguentado ao lado de Júlia.
O atirador empurra o criminoso e levanta Júlia a ajudando com o vestido e a se recompor. Ele não diz uma palavra e ela está em choque. Algumas vozes no corredor começam a sussurrar. Alguém diz que já chamou a polícia. Júlia abraça seu salvador e começa a chorar em prantos. Ele espera alguns minutos, sabe que tem pouco tempo até a polícia chegar. Retira os braços de Júlia que enlaçavam seu pescoço, guarda a pistola e sai. Uma vizinha entra para consolar Júlia. O homem sai e é encarado por dois vizinhos de Júlia. Um deles diz:
- Sai pelos fundos.
- Obrigado.
O homem sai pelos fundos alguns minutos antes da chegada da polícia. Vai para casa e toma um banho. Após o banho se veste e pega o resto de uma pizza congelada e uma lata de cerveja. Senta no sofá e liga a TV. Enquanto assiste uma partida de futebol o programa é interrompido por um plantão que anunciava a morte de um estuprador por um atirador desconhecido. A polícia suspeita de um justiceiro.