Aracnofobia

É noite. Chego em casa após um longo dia de trabalho, em busca do aconchego do lar. Lá fora, o vento sopra vigorosamente, balançando os galhos que teimam em arranhar tenebrosamente a janela do meu quarto.

Lá pelas tantas, um blecaute torna a noite ainda mais aterrorizante: não bastasse a escuridão lá fora, agora aqui dentro também.

Busco algo que possa diminuir o breu que se instalou pelos cômodos da casa, e eis que acho um candelabro velho de prata, que pertenceu a minha avó. Coloco-lhe uma vela e acendo-a trazendo a luz de volta aos meus olhos.

Na penumbra próximo a escada, vejo algo se movimentar.

- Quem está aí? - pergunto sem obter resposta.

Vejo uma sombra que se move rapidamente, apenas conseguindo observar a silhueta distorcida projetada na parede.

- O que você quer? - pergunto, tentando disfarçar a voz trêmula e tentando me encorajar - Papai logo chega. Vá embora, ou irá sair daqui perfurado por seu rifle. Ele com certeza lhe enfiará uma bala nas fuças.

Silêncio. Não obtenho nenhuma resposta. O medo me paralisa. Não há ninguém pra chegar, ninguém pra me salvar.

Desde que vovó morreu e nos deixou a velha casa como herança, papai decidiu sair da cidade e cuidar da fazenda da família, deixando à mim e Ramon, meu irmão mais velho, morando sozinhos na cidade. Ramon cursava direito na cidade vizinha, porém só vinha aos fins de semana. Nesse instante de medo, era apenas eu.

Tomei coragem e me aproximei da escada. A silhueta diminuía ao passo que me aproximava. Respirei aliviada pois não poderia ser alguém. Tentei procurar o que provocava a horripilante projeção na parede.

De repente, sua sombra ficou maior e mais distorcida, porém não conseguia distinguir o que era. Já não se movimentava mais com velocidade; parecia como se descesse pelo telhado. Olho para cima e o coração quase sai pela boca: um octópode imenso, com olhos em número igual às patas, cada um espreitando o que cada pata podia alcançar. Aquele ser horrendo e tenebroso, movimentava-se de maneira antagonicamente majestosa. Seus grandes olhos acompanhavam cada suspiro dado, cada minúcia de movimentos.

Deslizou por sua teia até que ficasse em minha altura, olhando-me nos olhos. Que cena digna de terror! Nunca vi nada parecido.

Ela mexia suas patinhas como se estivesse calculando os próximos movimentos. Fiquei imóvel. Paralisia do medo. Não havia pra onde fugir. Senti-me um pequenino inseto indefeso preso em suas teias.

Apertei os olhos e esperei o pior quando ela armou seu mortífero ataque.

- Morri! - pensei comigo mesma.

- Mas, os mortos pensam? Será que já estou do outro lado? E se eu abrir o olho so um pouquinho pra ver o que houve?

Esse turbilhão de pensamentos sobre vida após a morte, foi fazendo-me aos poucos tomar coragem de abrir os olhos. Estava eu, deitada em minha cama, com mamãe me perguntando se estava tudo bem.

- Como assim, tudo bem? Fui devorada por uma aranha gigante!

- Pare de ser dramática Alice! Você chegou do trabalho e se deparou com uma mísera aranha de jardim e desmaiou! -disse mamãe em tom irônico.

- Mas...eu...tenho certeza...

- Tudo isso deve ter sido fruto dessa sua imaginação fértil. Isso que dá gostar de histórias de terror. Agora ande, venha me ajudar com o jantar.