O HOMEM DO JARDIM (Capítulo 7)
Francesca sentou quase imediatamente. Max, totalmente imóvel, estava com os olhos fixos no homem.
- Você… você…
Gregório permaneceu no mesmo lugar. Os olhos negros dele expressavam certa tristeza e isto o deixava ainda mais belo. Francesca fez menção de levantar, mas ele a deteve com um gesto.
- Por favor, não vá – pediu ele.
A voz de Gregório ecoou nos ouvidos dela clara e firme. Max gemeu baixinho e enfiou a cabeça entre as patas. Francesca murmurou:
- Eu não vou fugir.
A jovem esperou Gregório falar alguma coisa. Ele a fitou por mais alguns segundos. Então disse:
- Preciso que você conte uma coisa a Laura.
Francesca reparou que as roupas dele eram um pouco antigas. Gregório vestia um casaco pesado, calças de um tecido mais grosso e botas marrons. A brisa que soprava não balançava os cabelos do homem. Nada daquilo parecia ser real.
- O que você… quer que eu diga a ela?
- Estou perto do poço.
Ela não entendeu. Olhou disfarçadamente para os lados. Não havia ninguém ali para testemunhar aquela conversa estranha.
Perto do poço. Como assim? Gregório estava parado próximo a ela. De que poço ele falava?
- Atrás da ala antiga da casa. Poucas pessoas vão até lá agora – respondeu Gregório adivinhando os pensamentos dela.
A mente de Francesca tentava juntar os pontos. Tudo parecia ainda meio nebuloso.
- Diga somente isto para Laura. Ela entenderá.
Ele deu meia volta e saiu caminhando lentamente até sua imagem se dissolver ante os olhos perplexos de Francesca. Uma lambida no rosto a despertou do sonho surreal. Francesca permaneceu por ali mais alguns instantes, respirando fundo. O cachorro parecia um pouco estranho também.
- Gregório! – ela olhou paro os lados, sentando na relva. Ainda não tinha coragem de ficar em pé, as pernas estavam fracas. - Você esteve aqui de verdade?
O coração de Francesca era quase um tambor, batendo em pancadas secas dentro do peito. Não havia sido um sonho. O homem que vira no jardim e nos seus sonhos agora aparecera nitidamente e lhe fizera um pedido quase desesperado. O homem pelo qual se encantara estava morto e era marido de Dona Laura.
*
Quando as pernas firmaram, Francesca ficou em pé. Perto do poço. Gregório avisara que estava próximo a este lugar localizado na antiga ala da casa, pouco visitada. O olhar de Francesca percorreu toda a construção. Talvez a outra ala ficasse mais para trás.
Com passos ainda um pouco incertos, a jovem, acompanhada de Max, seguiu o caminho de pedras que levava até lá. Felizmente não encontrou ninguém pelo caminho. Seria bem complicado explicar a palidez e sua expressão de assombro.
De repente Max saiu em disparada na sua frente. A atitude do cão assustou Francesca. Ela andou mais alguns passos e um pouco adiante teve a impressão de enxergar uma sombra entre as árvores.
- Gregório?
O homem surgiu alguns metros a sua frente e olhou para ela como se quisesse dizer alguma coisa. Depois deu meia volta e saiu caminhando em passos leves, como se não tocasse no chão. Outra vez sua imagem se desfez tal qual fumaça. Francesca parou um instante, criando fôlego. Ele estava lhe indicando um caminho! Max, mesmo um pouco longe, latiu fortemente para Francesca.
Os latidos pareciam ser um alerta. Os receios de Francesca não foram o bastante para deixá-la imobilizada. Curiosa com o que estava prestes a encontrar, ela seguiu pelo caminho e dobrou o canto da casa. Havia ali uma edificação mais baixa, de um andar só. Max estava ali, indo e vindo, balançando a cauda. Quando viu Francesca latiu mais forte, querendo apressá-la. Não havia sinal do espectro de Gregório por ali.
Francesca seguiu pelo lado da casa antiga. O lugar não era muito cuidado pelos empregados. Os arbustos estavam um pouco altos e as portas e janelas fechadas firmemente. Max latiu de novo, nervoso, mais adiante. Francesca também estava mais tensa e se dirigiu até onde o cão a chamava. O que teria ele encontrado atrás da casa?
O poço antigo. Ao contornar a parte de trás da casa velha, Max a esperava de língua de fora sentado ao lado do poço que Gregório mencionara. Ela deixou escapar um grito e então as pernas faltaram de vez. Com os joelhos no chão de pedra, Francesca tentou raciocinar. Gregório lhe deixara uma mensagem importante. Com aquilo ele pretendia encerrar um mistério de quarenta anos. Um mistério que movera Dona Laura por décadas.
- Agora sim, Gregório. Eu o encontrei.