Ninguém .

Percebe os passos ,estão próximos.

Quer correr, impossível com aquela quantidade de sacolas.

Ideia inconsequente, passar por aquela rua àquela hora do dia.

Olha para os lados.

Não há sinal de outros pedestres, carros, nada.

As casas com portões trancados.

Portas e janelas fechadas.

Tem pressa.

Quem?

Não tem coragem de olhar para trás.

Medo do que pode ver. Medo do que pode acontecer.

Sente a presença no seu encalço.

Mais um pouco e poderá ser tocada com um esticar de braço.

Vai gritar.

Da outra vez ficara muda.

As palavras presas na garganta seca.

Dos olhos assustados não tinham escorrido uma lágrima sequer.

Tenta identificar possibilidades de socorro.

Uma janela aberta. Um carro se aproximando. Nada.

Quase corre.

A perseguição continua.

Pode sentir a respiração ofegante na sua nuca.

Não seria a primeira vez.

Devia ter uns oito ou nove anos.

Sente náusea.

Por que fora a escolhida?

Palpitações, suor gelado na testa.

Não devia estar só.

A terapeuta fizera recomendações.

Não deveria ter desobedecido a mãe e seguido para a casa da amiga depois da escola.

Mais um pouco e será pisada no calcanhar.

Imobilizada com um abraço.

Beijada na nuca.

Olha desesperada para as casas.

Se gritar, será ouvida?

Atravessa novamente.

Vontade de jogar as sacolas no chão e sair correndo.

A mochila com os materiais de escola havia sido encontrada três dias depois.

Vontade de fugir.

Pedir demissão do trabalho.

Trancafiar-se em casa.

Não pode.

De vez em quando se repetia.

Os passos, o braço, a respiração.

Conseguira esquecer o cheiro.

A família dividida.

Alguns a apoiando, outros repreendendo sua incapacidade de superação.

Pensa na irmã mais velha, sua melhor amiga.

Se ela estivesse ali, o que faria?

Toma coragem e olha para trás.

Ninguém!

Lucia Rodrigues
Enviado por Lucia Rodrigues em 09/03/2017
Reeditado em 09/03/2017
Código do texto: T5935360
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