O horror do Rohr
Reinaldo Rohr, o apaixonante violeiro que nos deixou prematuramente há poucos meses, levou consigo um segredo. Duma desventura, que compartilhamos em quatro. Outros dois, eram os irmãos Walter e Flávio, e o Walter, também partiu. E mesmo se entre nós, duvido que falasse. Custava-lhe já responder a um bom dia. Já o Flávio, de menor à época, talvez não se lembre. E tampouco voltamos a nos encontrar. E olhe que já lá vão 43 ou 44 anos do sucedido.
Vivia eu numa república, rua Itinga, Alto Colégio Batista, em BH. Nunca foi fácil dizer o número fixo de residentes. Entre os quais, o William Santiago e duas irmãs suas. Todo mundo ocu(l)padíssimo com o que fazia. E as visitas se multiplicavam a riviria.
Numa noite em que o Warto lá pintou com sua musa Jude. Não me acode a razão agora para me dizer o que fomos Walter, Flávio, Reinaldo e eu, descer a morraria e ir bater pernas na Lagoinha, bairro que boa fama não tinha. Mas sua boa flama era inteirinha.
Sem nos demorarmos muito, as horas deviam ser umas nove da noite, a volta para casa foi interrompida quando uma blitz policial ambulante nos abordou, sem fazer perguntas. Detidos, fomos levados num camburão para o centro de "acolhimento" da Lagoinha. Bem conhecido de meliantes, e agora, de iniciantes.
Cela condividida com uma quarentena de assustados circunstantes, número que cada vez aumentava mais, triados, ficamos no desaguardo do aguardo. O papo que era o mínimo, e sussurrado, foi quebrado pelo brado angustiado do Rohr, que me concitava a ir pra frente de batalha e dizer pros algozes que eu era professor. Senti, em calafrios, os olhares ávidos de didática ao meu redor. Mas passou. E passaram as horas também.
Duas da madruga, ou um pouco mais além, fomos os quatro chamados e libertados. Para compor o drama, soprei para o Rohr, ao ganhar os umbrais da liberdade, que era seguro que íamos sair no jornal que circularia na manhã seguinte.
Rohr não descansou um minuto. Tomou o ônibus madrugal que saía para Pitangui e, direto para a banca de revista comprou todas as cópias de jornais que vinham de Belo Horizonte. Lidos todos, virou outro. Pegou no sono, na viola, e guardou nosso segredo.