O PRESÍDIO

Fui enviado a um presídio para fazer uma investigação, teria de questionar sobre a fuga em massa que teria acontecido. Fui com intuito de tirar fotos para melhorar o relatório. Chegando lá, fui recepcionado por um policial muito atencioso, me acompanhou na visita, mostrando-me o buraco na cela e descrevendo os movimentos da instituição. Quando estávamos na cela ele arredou uma pedra e perguntei se era ela que tapava a abertura e ele respondeu que não, perguntei se havia um móvel em frente, ele mais uma vez respondeu não, continuei perguntando e dei a última cartada, pois só sobrava a cama. Ele sorriu e disse sim. O buraco era pequeno, parecia não passar uma pessoa. Vários teriam tentado, mas ele me falou que o final do túnel havia ficado dentro complexo presidiário e ninguém havia conseguido sair. O delegado tinha menos de 1,70cm, vestia camisa branca, calça jeans e estava com o distintivo pendurado, parecia ser apenas ele que cuidava de tudo. Foi nessa hora que percebi movimentação de pessoas. Eram presidiários e policiais. Eu estava tenso com aquilo tudo, parecia que voltavam do pátio e eu achando que o presídio estava vazio. Vários vieram em minha direção, mas o que mais me deixou temeroso foi um presidiário que parecia ter problemas mentais, ele olhava em minha direção e ria. Uma delegada entrou na cela acompanhada de mais três mulheres, veio em minha direção, eu me apresentei e perguntei se a instituição abrigava detentos de pequenos delitos, mas ela com sorriso de canto de boca falou que era segurança máxima. Eu olhava para os lados e via mais e mais pessoas, jovens, velhos, bem vestidos e também maltrapilhos. Era difícil ficar calmo com aquelas condições. Naquele momento eu estava dentro da cela e tirando fotos do buraco da fuga mal sucedida, e me sentindo preso, a saída estava tomada de pessoas que eu não conseguia identificar se eram presos ou policiais. Após concluir meu trabalho, solicitei ao policial que me acompanhasse até o portão do presídio, eu estava apavorado com a ideia de ir sozinho passando pelos detentos. Ele além de me acompanhar, me ofereceu carona até meu carro. Aceitei na hora, não queria ficar sozinho nem mais um minuto, não conhecia nada do lugar que eu estava. Fomos caminhando até a saída, cerca de 300 metros da cela onde estávamos. Eu tremia tanto que o calor daquele verão transformara-se no mais confuso inverno nas minhas veias. Saímos bem, sãos e salvos, fomos em direção ao carro do policial, um uno branco antigo, igual ao que me esperava na praça, local esse que deixei por segurança. O policial ligou o carro, saiu correndo muito, fazia curvas fechadas, eu não imaginava que tinha deixado o carro tão longe, não chegava nunca e aquela tremedeira que havia ficado no presídio voltou e agora com um suor frio. Chegamos à praça, ele subiu na calçada, foi em direção ao meu carro e parou em frente. Soltei o cinto de segurança, abri a porta e vi um cara dentro do meu carro, coloquei a mão na cintura, pra que ele achasse que eu estava armado e fui a sua direção. Não sei de onde tirei tanta coragem, os momentos anteriores tinham sido extremamente tensos. O meliante percebeu minha coragem, e sorrindo saiu correndo. Eu entrei no carro, abri o porta luvas, eu havia deixado minha carteira com todos meus documentos e uns 30 reais que tinha sobrado de uma compra que eu fiz no dia anterior. Por sorte estava tudo ali, não deu tempo. Na verdade olhei no console onde eu deixo o celular e ele não estava ali. Droga! Ele levou. Levantei os olhos e percebi que o mesmo meliante estava agora em frente ao carro levantando a camiseta mostrando a arma. Ele sabia que o único homem armado no momento era ele, meu teatro inicial não o convenceu, foi nesse instante que fechei os pinos das portas, liguei o carro e acelerei na direção dele o fazendo desviar, e muito rápido, não acredito que não o atropelei. Passei no lado e ele nada fez, continuei por dentro da praça, atravessei uma caixa de areia, passei ao lado de uma gangorra e estava quase saindo quando avistei mais um homem armado, correndo de bicicleta ao meu lado, não entendia como ele pedalava tão rápido a ponto de me acompanhar. Na verdade acho que o carro é que estava com problema, eu já estava pedalando no acelerador e apavorado com o cara da bicicleta me perseguindo e agora atirando na direção do carro. Nunca imaginei que uma arma daquelas sairia tantas balas e também nunca imaginei que alguém pudesse ter uma mira tão ruim, nada me acertou. O medo era gigante, como todos dizem, passou um filme na minha cabeça e eu estava tão apavorado que estava de pé dentro do carro, fazendo movimentos para frente e para trás no intuito de deixar o carro mais rápido. Quando estava prestes a sair por cima da calçada e rumar para a primeira rua que eu vi, mais um homem apareceu atirando em minha direção, mais uma vez nada me atingiu e eu consegui fugir.

Depois de tudo isso, acordei extremamente tenso, noite agitada, pesadelo forte e muito real. E a primeira coisa que pensei, foi que nem o celular eles levaram, não deixei no carro, estava comigo, no bolso, foi com ele que tirei as fotos no presídio. Vou voltar a dormir.