Atrás de Mim
Ao ouvir um barulho incomum vindo da cozinha, Marie percebeu que não estava sozinha. Há dias ela vinha sentindo uma estranha sensação, um arrepio gelado que lhe subia por suas costas. A noite era sinônimo de terror para Marie. E era mesmo.
Descendo as escadas rumo a cozinha com uma lanterna na mão ela procurava desvendar o que estava acontecendo. Era preciso caminhar devagar e fazer o mínimo de ruído possível. Se alguém ou algo estivesse ali poderia facilitar sua fuga ao perceber alguma ameaça.
Marie não tinha a companhia de ninguém ali. Estava sozinha. Sempre esteve. Morava sozinha naquela casa. As luzes ficavam acesas durante a noite. Ela se sentia mais protegida assim. Mas naquela noite tudo foi diferente. Bem diferente. Talvez aquela noite mudasse para sempre a sua vida. Já não mais seria a mesma.
Com uma mistura de braveza e medo, ela foi até a cozinha. Estava escuro. Muito escuro. As luzes haviam se apagado. Somente a luz fraca da lanterna iluminava o local. Não era possível ver muita coisa.
Então, já na cozinha, percebeu que alguma coisa estava no chão. Muitas coisas. Pratos estilhaçados, copos trincados e mais alguns objetos do cômodo. Mas isso não foi o que mais chamou sua atenção. Em cima de um balcão bege havia um papel de folhas anêmicas e amarfanhadas, dobradas ao meio. Parecia um bilhete. Um recado. Uma carta. Era uma carta.
- Uma carta?! – Marie tomou a carta em suas mãos e examinava com atenção aquele papel.
Em um primeiro momento, Marie apenas pegou a carta. Não abriu. Mas seria preciso averiguar o conteúdo daquela carta caso quisesse saber de que se tratava.
Era evidente que alguém teria passado por ali. Pratos não se movem dos armários e se lançam no chão, copos não se quebram sozinhos e objetos não se espalham.
No momento em que decidiu abrir a carta percebeu uma movimentação na casa. Algo na escada. Com um pouco mais de atenção notou que eram passos. Passos vindos da escada. Alguém estava descendo as escadas. Ou subindo. Não dava para ver. O medo tornou-se maior que a curiosidade.
Muita coisa estava acontecendo naquela noite e Marie ainda não havia compreendido nada. Faltava um pouco mais de empenho da sua parte. Somente ela poderia desvendar aquilo tudo. Antes que o sol nascesse uma resposta teria que surgir.
Então decidiu ler a carta. Encostou-se na pia da cozinha. As palavras eram iluminadas pela lanterna que carregava. Assim dizia a carta:
“ Hoje você pagará por tudo. Tudo o que me fez naquele dia. Nunca pude me esquecer daquela tarde de inverno. Tentei acreditar que jamais pudesse fazer aquilo, mas vi que é. Então...”
Marie pausou a leitura. Algo extremamente gélido tocou seu ombro. Antes que pudesse gritar por socorro, sua voz foi silenciada.