Duplos

23/1/2017

Suelen estava com muitas sacolas, estavam saindo do shopping, depois de uma compra de roupas para a próxima estação, e então dirigiu-se para seu filho:

- Milton, pega a chave aqui na minha bolsa e abra o porta-malas, por favor.

O garoto de dez anos ficou todo feliz, adorava assumir o controle, pegou a chave com altivez e Miranda retrucou:

- Por que ele, mãe? Deixa eu!

- Da próxima vez. – Suelen se repreendeu por dentro, depois de lembrar que era a próxima vez da última vez... porém, manteve a sua postura. Miranda não gostou e chorou, como sempre.

O carro era pequeno, revelando uma família de classe baixa, o shopping era popular, confirmando essa característica. Depois de colocar tudo no carro eles sentaram dentro do carro, as crianças atrás, como era de se esperar.

No caminho o telefone de Suelen tocou, era o marido dela, Rubens, e quem atendeu ao telefone foi Milton, fazendo, mais uma vez, Miranda chorar.

- O pai perguntou se vamos demorar, pois ele está indo para casa.

- Diga que mais uns treze minutos.

- Ele falou que tudo bem, que nós chegaremos juntos. Falou que te ama, que ama a Miranda e a mim.

- Manda outro para ele.

- Outro o que? Ah, ele desligou.

Era fim de semana, e ela não trabalhava, mas o Marido sim, por isso, muitas vezes ela aproveitava esse tempo para sair com as crianças e ver um filme, pois Rubens não gostava de cinema. Em casa a cabeça de Suelen a levava a pensar sobre a cozinha e o que preenchia a sua despensa, para preparar o jantar de todos, ela conseguia ver a porta de entrada entreaberta, e dela era possível enxergar a mesa o meio do cômodo, a geladeira à esquerda da pia, e a direita o fogão, que em referência a porta ficava à esquerda no Cômodo e onde havia uma enorme janela com cortinas brancas, que davam trabalho para lavar e tirar as manchas de gordura. À direita da porta estavam dispostos armários e um balcão, do outro lado do cômodo estava a porta, no meio da parede, uma porta de duas folhas branca como as paredes. Uma casa comum, mas distinta por ser deles, quitada a pouco tempo na Caixa Econômica Federal.

Depois de entrar pela porta de folha dupla havia a sala de estar, com uma escada à esquerda, que levava para os quartos no andar de cima, onde havia um ventilador de teto no topo, e os quartos tinham as portas frente uma a outra, o quarto da menina ante ao quarto do casal, e no corredor havia o quarto do menino, no fundo, com o banheiro comum.

Chegando em casa, Rubens estacionava o carro, e então esperou pela esposa e filhos na garagem, fecharam o portão, Ele cumprimentou as crianças com abraços e rodopios, e beijou a mulher na boca, antes de pegarem as sacolas de compras:

- Pelo jeito vocês se divertiram, não é?

- Sim, papai! – Disse Miranda.

- O filme foi muito legal, pai!

Eles entraram e viram Rubens e Suelen na pia preparando refeições, e as crianças à estavam mesa desenhando. Passaram para a sala, separaram as compras e cada um levou o que era seu para o seu quarto, de forma que ficaram em seus quartos e foram dormir:

- Pai, a gente pode dormir com vocês? – Miranda perguntou, choramingando.

- Venham, podem vir, por que estão assim? – Questionou o pai.

- A gente está com medo... – começou a Miranda.

- Diga, o que foi? – Insistiu Suelen.

- A gente está com medo... com medo da gente, de nós, pois estamos lá embaixo.

Os pais abraçaram as crianças e se entreolharam, nos seus olhos havia um medo imenso, indescritível, tão duro quanto agudo:

- Quando entramos em casa, eu vi a gente na cozinha, eu e você estávamos cozinhando... – disse Suelen com a voz baixa e sumindo.

- E as crianças, as cri ... as crianças... elas estavam desenhando. – Gaguejou Rubens.

Do outro quarto eles podiam ouvir o som advindo do videogame de Milton e suas risadas.

Sinopse do livro Obra perturbadora II

“Sempre do ponto de vista de adultos sobre as crianças, os contos da Obra Perturbadora II pretendem mexer com seu leitor, trazendo experiências de leitura com finais abertos e incongruências propositais, que podem até parecer em primeiro momento uma falha da autora, porém, o resultado no leitor é, em geral, atingido e previsto durante a produção deles.

Prepare-se para sentir estranheza, insegurança, suspense, violência, e principalmente a expectativa que traz a melhor sensação do suspense. A autora busca em alguns contos contextualizar o seu leitor para depois apresentar um desfecho incongruente ou violento, ou de uma forma muito distinta não contextualiza o leitor e dá toda a situação ocorrida e o que se espera é que a experiência do leitor trabalhe com as questões que surgem, de forma a trazer a tona a própria personalidade do leitor, seja instigando-o a buscar respostas que não terá, a se revoltar com a falta de informação desejada ou a lidar com o prazer da sensação atingida na leitura. Que tipo de leitor é você? Um detetive, que quanto mais instigado mais busca saber? Um frustrado que para a leitura por não aceitar o jogo da autora? Um imaginativo que complementa as histórias com as possibilidades e se delicia seja com o contexto que lhe é cobrado ou com o desfecho que é incongruente?

Descubra-se lendo a Obra PerturbadoraII, contos curtos e rápido de terror e suspense que trazem desde os mais clássicos terrores psicológicos até os mais modernos, influenciados pelo Edgar Alan Poe, Stephen King, Lovercraft, entre outro e o cinema do século XX e XXI.”

http://inquietacoesdelauralucy.blogspot.com.br/search/label/Obra%20Perturbadora

Laura Lucy Dias
Enviado por Laura Lucy Dias em 23/01/2017
Reeditado em 24/01/2017
Código do texto: T5890931
Classificação de conteúdo: seguro
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