Os Iluminados II
Sarah nunca gostou do escuro, achava que era opressor, sufocante, claustrofóbico. Gostava de luz, claridade, amava a amplitude da luz, sua pureza e candura.
-Sarah, sua luz está brilhante demais, vamos ser descobertos.
-Não posso evitar... Eu nasci para iluminar o mundo!
-Eu sei, eu sei... Mas se não sobreviver, não poderá iluminar nada.
Sarah fez uma careta e tentou não pensar tanto em coisas boas, mas era muito difícil, já que estava de tocaia com o homem que habitava seus sonhos de felicidade eterna. O mais bonito, perfeito, iluminado e cheiroso membro da resistência, Estevão.
-Está vendo? Ali na frente, estão se ajuntando, já vai começar...
- Estou vendo. O que vamos fazer agora?
Estevão e Sarah estavam escondidos observando um ajuntamento lento, mas constante de carrascos das trevas. Era o primeiro contado dela com a resistência, estava com medo e não sabia exatamente o que fazer.
-Não se preocupe Sarah, vamos avisar os outros e quando virmos o sinal, você fica aqui mantendo contato com a Fonte enquanto eu me junto aos interventores. Tudo bem?
-Tudo...
Tentou sorrir e parecer confiante, mas no fundo do coração estava apavorada. Era muito jovem ainda, cheia de sonhos, com olhos doces e meigos, um tantinho avoada e meio desastrada. Olhou para Estevão e ficou admirando a força e firmeza dele, parecia estar confiante, concentrado em dar a localização do ajuntamento.
Olhou para fora e viu que o ajuntamento dos carrascos estava cada vez maior, muito mais numeroso do que eles haviam imaginado.
- Estevão, olhe, são muito. Estamos em menor número, devíamos desistir.
Depois de observar o ajuntamento ele apertou os maxilares, deu um murro na parede e disse:
- De jeito nenhum vamos desistir. Essa família precisa de nós. Você sabe o que farão com eles? Sabe, Sarah? Eles vão invadir sua casa, matar as crianças ainda na cama, arrastar os adultos para fora e torturá-los para o divertimento da horda toda de carrascos, até que finalmente eles morram em agonia profunda. Você consegue desistir de ajudá-los?
Ela nunca havia sentido tanta vergonha de si mesma como naquele instante. O olhar de Estevão apesar de intenso era melancólico e possuía uma força que parecia faiscar em santa fúria. Seus próprios olhos se encheram de lágrimas e constrangimento. Ele a abraçou e disse:
- Não chore... Você é muito nova e inocente ainda, não possui a coragem e a força necessária para enfrentar essa situação. Essas coisas vêm com o tempo. Vem, chegou à hora de agir.
Sarah não se lembrava de muita coisa depois disso, só sabia que haviam conseguido salvar a família e que muitos combateram até a morte para isso. A resistência perdeu grande parte de seus membros naquela noite, ente eles, Estevão.
Continua...