O estranho

Já era tarde da noite quando, quase que como aparição, um estranho entrou no bar. Ele usava um chapéu côco e uma barba rala e negra

cobria o seu rosto duro, mas triste.

- Vê um chope para mim.

Sentou no balcão e bebeu calado. Por algum tempo, não percebeu que um pouco da espuma da cerveja tinha

ficado em seu buço. O garçom e o caixa o observavam curiosos. A mão esquerda que repousava

na tábua de madeira tinha uma aliança de casamento.

- Nunca vi mais gordo. - Sussurrou o garçom.

A cidade era pequena, praticamente um bairro, e escondida em um vale de difícil acesso. Absolutamente

raro um forasteiro aparecer.

- Mais um. - O estranho pediu ao garçom, erguendo a caneca vazia.

O caixa lançou um olhar malicioso para o forasteiro e disse:

- Lá fora está abafado, apesar de ser tarde, não é?

O estranho exibiu seu semblante duro como pedra e o brilho triste de seus olhos e respondeu com um

aceno de cabeça. O segundo chope foi tomado lentamente. O tempo corria e já entrava a madrugada.

Ainda tinha meia caneca. Timidamente, o garçom avisou ao calado forasteiro:

- Senhor, nós vamos fechar agora. O senhor pode fazer a gentileza de acertar a conta?

O homem levantou a cabeça e sua expressão pareceu, apesar do tempo quente, congelar o bar. Nada disse.

Deixou uma nota maior do que o valor da cerveja no balcão e saiu, firme, batendo a pporta atrás de si. O caixa ia dizer "Moço,

o seu troco!", mas calou-se diante da postura resoluta do desconhecido.

No dia seguinte, o garçom e o caixa contaram a todos os conhecidos sobre o misterioso forasteiro.

Ninguém o tinha visto. Descreveram sua compleição. Ninguém viu esse homem.

Naquela noite, io estranho reapareceu, um pouco mais cedo desta vez. O bar estava cheio.

Ele parecia mais contente.

- Me vê daquele chope.

O garçom, ao entregar a caneca, desta vez se aventurou:

- Você é de onde?

O estranho deu uma golada na cerveja e, lentemente, respondeu.

- A minha cidade fica muito longe daqui.

O garçom, bem humorado, continuou entre risos:

- Bom, eu acho que qualquer lugar fica muito longe daqui.

O forasteiro não alterou a expressão e não demonstrou entusiasmo para continuar a conversa.

Um dos clientes frequentes do bar comentou em baixo tom com o caixa:

- Esse cara é esquisitão mesmo! De onde será que ele é?

O estranho levantou-se deixando o chope pela metade no balcão e disse diretamente ao cliente,

severo:

- Do inferno!

Deixou uma nota mais valiosa do que a da noite anterior no caixa e saiu do bar a passos firmes.

O caixa e o cliente ficaram brancos. Como ele ouviu se havia música e burburinho no bar e a distância era considerável?

Um encrenqueiro! Só pode ser! Aquilo era provocação... Na noite seguinte, todos estavam

prontos para dar uma sova naquele forasteiro se ele aparecesse por lá e provocasse um dos clientes.

O relógio já marcava 22h. Desta vez ele não apareceria. Devia ter ficado com vergonha da atitude na noite anterior. Subitamente, pela janela do bar foi possível ver viaturas de polícia encostando. A curiosidade3 ferveu em todos os corpos. Os policiais entraram e se dirigiram ao garçom.

- Boa noite. Estamos investigando um caso de assassinato que ocorreu há 2 dias em uma

estrada de terra a 50 quilômetros daqui. Um homem foi baleado dentro de seu carro...

O garçom prontamente citou o misterioso forasteiro. Seria ele o assassino?

O policial estendeu um jornal no balcão com a notícia do assassinato e a foto da vítima.

- Este aqui foi o alvejado. A família está desesperada querendo saber a causa de tal crime.

Imediatamente, quando seus olhos encontraram o rosto da foto, o garçom sentiu uma vertigem, um calafrio, um fraquejar nas pernas. A vítima era o estranho.

M K S
Enviado por M K S em 23/10/2016
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