ATORMENTADA
1 - A Escuridão engoliu A Luz
Agosto De 2036
Acordo exausta, pois passara a madrugada lendo, adoro ler, os livros me permitem viajar além dessa cidadezinha pacata.
O mágico de oz, cheio de fantasias, algo que não existia no mundo real.
Desço as escadas e dou de cara com meu pai, que estava sempre com um olhar triste no rosto, ficou assim desde a morte de mamãe, que faleceu ao dar a luz a Christian, meu irmãozinho de apenas quatro anos.
- Oi... - digo, evasivamente ao adentrar na cozinha.
Ele levanta seu olhar do tablet que mostrava as nóticias diurnas, em direção a mim, abre então um pequeno sorriso e volta a ler.
Tomo meu café e engulo alguns biscoitos, volto ao meu quarto, tomo meu banho,visto-me, ajudo Chris com sua mochila e nos retiramos para mais um dia de escola.
A escola era bem perto de casa, vamos a pé como sempre.
Era um dia como qualquer outro, motoristas em seus carros, pedestres atravessando as ruas, adultos com suas crianças cumprindo suas rotinas diárias.
Muitas mães seguiam o mesmo percurso que eu, para deixar seus filhos na escola, minha mãe támbem fazia isso, até ela ser tirada de nós.
Ao entrar na escola, deixo Chris no maternal e me dirigo a sala do sexto ano.
Já estava atrasada, mas ainda deu tempo de falar com minhas amigas, Tereza e Emily.
A primeira aula se inicia, de matemática, odeio matemática, preferia artes, literatura, bem mais precisas em minha vida, e além da matéria ser chata, a professora fazia questão de ser mais chata ainda.
As vezes, eu só queria que ela sumisse!
Ela falava sobre o quanto a matemática é importante em nossas vidas, quando algo estranho aconteceu...
Todos olhamos aterrorizados para o céu, uma nuvem negra se instalou, engolindo o sol, engolindo o dia.
Tudo fica repleto de escuridão, os alunos gritam assustados e pode se ouvir o choro das outras crianças ecoando dos corredores.
A professora deveria clamar por silêncio, por calma, mas ela nada faz, eu nem se quer consiguia vê-la, a escuridão a escondeu de nós.
Alguns alunos tentam usar seus aparelhos eletrônicos, buscando ajuda, buscando luz, mas ela também acabou.
A luz do sol, a luz das máquinas, tudo nos abandonou nesse momento.
O caos reina, meus colegas não sabem se gritam ou choram, eu estou em choque.
E então da mesma forma que a luz se foi, ela volta.
Trazendo consigo a paz, mas não a professora, ela sumiu e ninguém sabe onde ela foi parar.
2 - Restaram Apenas Crianças
- cadê a professora? - um dizia.
- o que foi aquilo? - outro falava confuso.
- ai meu Deus... - minha amiga dizia alarmada.
Várias vozes ecoavam desesperadas pela sala.
Saio de meu choque e levanto, bato o punho contra a mesa e me ouço gritar:
- SILÊNCIO.
Todos me olham assustados, afinal eu era a garota que sempre ficava calada e não se manifestava.
- primeiramente precisamos ter calma...e buscar ajuda é o mais importante, algo estranho está acontecendo aqui, precisamos solucionar isso e não enlouquecer.
Todos me escutam atentamente, sentam- se em suas carteiras e buscam ajuda com seus celulares, mas alegam não ter sinal.
- certo, vamos atrás de outro professor...mas mantenham a calma, por favor. - suplico, pois posso ver nos corredores alunos correndo desesperadamente.
- ELES SUMIRAM! TODOS ELES! - um garoto que aparentava ter uns 11 anos grita do corredor.
- como assim...? - podia se ouvir o sussurrar de meus colegas.
Todos me olhavam,como se eu pudesse resolver algo, maldito momento que ergui minha voz, agora me consideravam sua líder.
- fiquem aqui! - ordeno.
Então saio da sala, para averiguar a situação.
Encontro uma garota com cerca de nove anos chorando contra a parede.
Me aproximo dela,toco seu ombro e pergunto:
- você sabe o que aconteceu?
Ela levanta sua cabeça e me olha com os olhos repletos de lágrimas.
- meu irmão sumiu...e não só ele, toda sua turma.
- como assim? De que sala ele era? - digo preocupada, me lembrando de meu irmão.
Será que Chris estava bem?
- ele é do nono ano...sumiu... que nem os professores...simplesmente sumiram com a escuridão...só tem a gente aqui.
- a gente quem? - pergunto.
- as crianças - ela responde.
***
Faço uma vistoria por toda a escola, e chego a conclusão que a garota estava correta, apenas os menores de onze anos permaneceram no colégio, todo o resto foi levado pela escuridão.
O que estava acontecendo?
Era um mistério...
Passo na sala de meu irmão, pequeninos de apenas quatro anos, brincavam alheios ao sumisso de sua professora, alguns choravam traumatizados com o apagão, outros nem lembravam mas disso.
Chris estava tão entertido com seus colegas que nem me ver chegando, de qualquer maneira não podia os deixar sozinhos, iria colocar alguém com eles.
Fecho a porta novamente e corro de volta a minha sala, pelos corredores posso ver outros alunos tentando desvendar esse mistério, enquanto outros tentavam sair da escola.
- ESTAMOS TRANCADOS AQUI - um grita.
E pelo visto não podiamos sair da escola também.
Já em minha sala, atualizo meus colegas das novidades:
- eu não sei o que está acontecendo aqui, mas todas as pessoas maiores de onze anos sumiram!, e aparentemente não podemos sair da escola também, não temos sinal com o mundo exterior, e eu só sei que temos que nos organizar e resolver isso!
Um olhar de pânico se espalha entre a turma.
- eu quero falar com minha mãe...- uma choraminga, enquanto os outros se manteêm em silêncio digerindo as novas informações.
- quando resolvermos isso, todos falaremos com quem quisermos, mas por agora preciso de alguém que fique com os pequeninos.
- eu fico - Tereza levanta a mão ao sair do choque inicial.
A chamo para que se levante,a agradeço, abro a porta e ela vai.
- agora, preciso de um grupo de mais ou menos quatro pessoas, para procurar por pistas.
Muitos se candidatam e eu escolho os que me parecem mais confiáveis.
Eles se retiram támbem.
- os outros que ficaram, aguardem e mantenham a calma.
Saio da sala e espero anciosamente para que tudo se resolva.
Todos estavam assustados...eu também, mas tentava mascarar esse medo com coragem, sempre tive que digerir as informações muito rápido em minha vida.
3 - As Criaturas Impuras Estão Em Seu Devido Lugar
Já fazia cerca de uma hora que tudo aquilo aconteceu, já haviam alunos com fome e eu separara um grupo para procurar comida na despensa.
Tudo tinha de ser bem organizado, pois com o sumisso de algumas classes ficara somente duas salas de sexto ano e duas de sétimo ano.
A comida deveria ser separada para as quatro turmas.
Ficou então uma aluna responsável pela organização disso, fechando cinco líderes.
Uma para cada turma e uma para a comida.
Depois de um tempo havíamos conseguido organização mas não respostas, pois estavamos trancados na escola a horas e nenhum pai ou mãe veio a procura de seus filhos, o que nos levava a pensar... que todos os adultos e adolescentes simplesmente sumiram.
***
A noite chegou, todos alimentados, mas agora com frio, algo que só podia ser resolvido com o calor do próximo, muitos se abraçavam e buscavam dormir para sair daquele pesadelo.
Enquanto em outras rodas, lendas rolavam...
- a muito tempo dizia uma lenda, que um dia os mais velhos seriam levados...ficando apenas as crianças para recomeçar o mundo com inocência.
- e para onde os adultos seriam levados? - um dos ouvintes pergunta.
- para outro mundo, guardado pela alma artomentada que lançou a maldição.
- que maldição? - me ouço perguntar.
A garota que conta a historia abre-me um sorriso sombrio.
- tudo isto esta acontecendo por causa da " atormentada" uma das lendas mais antigas da cidade, em que uma mulher ao perder seus três filhos, por serem assassinados pelo propio pai, se mata, mas antes disso deixa um bilhete com o seguinte recado "eu voltarei e apenas as almas puras irão sobreviver".
Ou seja as crianças, nós, só nós estamos vivos, e é melhor vocês aceitarem logo isso. - ao terminar a história, se deita, como se tudo estivesse normal.
Os outros que estavam na roda se tremem de medo ao ouvir o fim da história, eu não acreditei, é claro, mas sinto um calafrio subir por todo meu corpo.
O que aconteceria no dia seguinte?
Não podiamos ficar muito tempo na escola, logo a comida iria acabar....
Adormeço cheia de preocupações e acordo com o gritar euforico de um aluno dizendo:
- O PORTÃO TÁ ABERTO.
E logo em seguida vários passos ecoam em direção a saída.
Sacudo Chris que ainda dormia, ele abre os olhinhos e diz:
- cadê o papai?
- eu não sei querido...mas prometo que vou tentar acha-lo - respondo docemente.
***
As ruas estavam desertas, era uma pequena cidade aquela, só havia uma escola, e dela corriam todos os atuais ocupantes da cidade.
Meu Deus, onde será que os adultos foram parar?
Não haviam respostas,e os alunos não sabiam se corriam para suas casas ou se permaneciam unidos.
O céu estava sombrio, repleto de nuvens escuras, um plano de fundo perfeito para o que estavamos passando.
Todos estavam estagnados, olhando para um local específico.
Tento ver também, mas várias cabeças tapavam minha visão.
Saio empurrando para tentar ver o que tanto chamava atenção, levando Chris ao meu lado.
Quando por fim consigo ver, me assusto profundamente, pois sabia o que era aquilo.
levanto com dificuldade Chris em meus braços e tapo sua visão daquilo...aquela coisa.
Uma criatura, coberta por um manto negro parada no meio da rua, ela levanta a cabeça e posso ver cortes deformando seu rosto, ela abre e fecha os lábios várias vezes, era como uma bruxa, uma bruxa que não conseguia falar.
Depois de um certo tempo, uma voz fantasmagórica ecoa por toda a cidade, dizendo:
- só há vocês aqui...almas puras e inocentes...como meus filhos eram....e agora vocês seram eles...agora vocês são meus filhos.
Ela para de falar, e deixa a todos nós absortos com aquela situação.
- onde estão nossos pais? - uma das crianças ergue a voz em meio ao silêncio.
A criatura ergue seu rosto sanguinolento em direção a voz.
- eu sou sua mãe!... Mas quanto aquelas criaturas impuras, estão em outra dimensão, adormecidas pelo resto da eternidade.
- N-não...- uma garotinha chora.
A criatura olha-nos mais uma vez e diz:
- estejam avisados, agora é apenas eu e vocês, até mais meus filhos.
E some.
- É A ATORMENTADA, eu disse, tudo isso está acontecendo por causa dela! - diz, a garota que havia contado a história no dia anterior.
Vários cochichos se iniciam devido aquilo, outras crianças choram por medo e eu...só queria acordar daquele pesadelo.
***
Trim, trim, trim.
O alarme soa, como sempre as seis da matina, e meu Deus, eu nunca quis tanto que ele tocasse.
Que sonho mais estranho ou melhor...pesadelo.
Levanto-me exausta, como se a correria do sonho realmente me consumisse...já pensou se todos os adultos sumissem?, que doidera.
Graças a Deus, foi só um sonho, e ainda mais porque minha mãe havia morrido lá, que horrível, o pior pesadelo de minha vida.
Vou então ao banheiro, esperando que a agua levasse também aquelas terríveis imagens, me ajeito pra escola e desço as escadas.
Vejo que Chris ainda não havia levantado, e pelo visto nem meus pais.
Que estranho, será que o alarme tocou na hora errada?
Vou em direção ao quarto de Chris, ele ainda dormia, pois mamãe não o acordou.
Vou então ao quarto de meus pais, e nenhum estava lá.
Que bizarro...
Escuto então gritos, vindo das ruas.
Rapidamente me dirigo a porta e a abro, me deparo com várias crianças gritando e dizendo:
- A ATORMENTADA É REAL!
E então percebo que não fui a única a ter aquele sonho, e que ele não foi qualquer sonho.
Foi um aviso...