Duro conhecimento
17/8/2016
Eduardo era um garoto que lia muito, e ele frequentava uma biblioteca Eduardo era um garoto que lia muito, e ele frequentava uma biblioteca grande que havia próximo a casa dele. Lá havia, além dos livros e áreas de leitura, uma área de jogos com jogos de tabuleiro, tais quais o banco imobiliário, cara a cara, jogo da vida, quebra-cabeças, cartas e dominós, entre outros.
O garoto passava boa parte do tempo por lá e acabava conhecendo muita gente quando estava na sala de jogos, e muitas vezes eles se reencontravam por lá para jogar e conversar. Eduardo não tinha muita atenção e com quem conversar. Ele lia bastante e pegava livros emprestados, e seus preferidos eram os de terror e de ficção científica. Gostava principalmente de Edgar Allan Poe, Stephen King, Isaac Asimov e H.G. Wells.
Era um prédio enorme com um jardim imponente em volta. Casarão antigo e com pisos de madeira que rangiam quando você andava. Como era um lugar do silêncio era possível ouvir sempre os passos das pessoas rangendo por todos os lugares a qualquer hora do dia. Foi construído com uma inclinação gótica, com paredes acinzentadas, havia esculturas de corpos deformados na parede, pois eram de um artista perturbado que representava os corpos como uma metáfora de sua essência interior, e para ele os humanos eram depravados e maldosos. Foi o que a Bibliotecária contou a ele.
Por fora havia gárgulas pelas quinas e eles acompanhavam a todos no jardim com imensa atenção. Eduardo se sentia mal e por isso não usufruía muito dos jardins. Já estava na hora de a biblioteca fechar, e por isso ele foi até os livros mais antigos que eram menos procurados e se escondeu entre as prateleiras. Ele fez isso, pois seria muito mais agradável passar a noite ali que em casa, e ele sabia que ninguém sentiria falta dele. Seria uma aventura.
Ele pegou um livro do Stephen King, chamado “O cemitério”, que ele vinha lendo aos poucos ali e foi até uma mesa com abajur e começou a ler, Louis estava se dirigindo ao cemitério, no livro. Tudo estava bem escuro por na biblioteca, mas aquela luz era boa para a leitura, só não se conseguia ver muito além daquele espaço da mesa. Isso o deixou um pouco desconfortável e enquanto lia o livro e pensava em coisas, o que fazia com que deixasse de acompanhar a narrativa.
Vez em quando ele ouvia a madeira do piso ranger e sua pele se eriçava com o medo que lhe abundava, mas pensava “é só a madeira que está se acomodando na nova temperatura da noite”. Mas não era. Ele conseguiu segurar um bom tempo para poder se deixar entrar em pânico, passou até a meia noite tentando ler, mesmo depois de o menino cheio de musgo aparecer no caixão, no livro. Os rangidos pareciam gemidos àquela altura, e se aglomeravam a sua volta quando Eduardo desistiu de se fazer de forte e acendeu a luz da sala onde estava, mesmo que chamasse a atenção dos outros.
Voltou para a mesa e ficou observando à sua volta, os rangidos não se constrangeram com isso. Continuavam e abundavam enquanto ele era preenchido de mais medo e insegurança. Ele resolveu ir ao salão onde ficavam os jogos, quem sabe lá estivesse menos assustador, apesar das estátuas que ficavam por ali, se deformando à luz qualquer. Porém, ao adentrar a sala ele percebeu que algo estava estranho. Havia só um foco de luz, vinda de um único lado da sala, e ele tinha duas sombras! Ficou desesperado, pois não é possível se ter duas sombras sem focos de luz distintos. Os rangidos que gemiam fortemente pareciam risadas sufocadas que se libertavam das entranhas daquele chão de madeira velha. Depois veio o silêncio.
No dia seguinte encontraram o esqueleto do garoto, seco, sem carne, nada de sangue, nada de vísceras ou cabelos, apenas os ossos secos e com as suas roupas como única maneira de identifica-lo, pois a biblioteca não tinha câmeras de segurança, já que o conhecimento não tinha tanto valor para a sociedade à sua volta.
Sinopse do livro Obra perturbadora
“Sempre do ponto de vista de crianças, suas protagonistas, os contos da Obra Perturbadora pretendem mexer com seu leitor, trazendo experiências de leitura com finais abertos e incongruências propositais, que podem até parecer em primeiro momento uma falha da autora, porém, o resultado no leitor é, em geral, atingido e previsto durante a produção deles.
Prepare-se para sentir estranheza, insegurança, suspense, violência, e principalmente a expectativa que traz a melhor sensação do suspense. A autora busca em alguns contos contextualizar o seu leitor para depois apresentar um desfecho incongruente ou violento, ou de uma forma muito distinta não contextualiza o leitor e dá toda a situação ocorrida e o que se espera é que a experiência do leitor trabalhe com as questões que surgem, de forma a trazer a tona a própria personalidade do leitor, seja instigando-o a buscar respostas que não terá, a se revoltar com a falta de informação desejada ou a lidar com o prazer da sensação atingida na leitura. Que tipo de leitor é você? Um detetive, que quanto mais instigado mais busca saber? Um frustrado que para a leitura por não aceitar o jogo da autora? Um imaginativo que complementa as histórias com as possibilidades e se delicia seja com o contexto que lhe é cobrado ou com o desfecho que é incongruente?
Descubra-se lendo a Obra Perturbadora, contos curtos e rápido de terror e suspense que trazem desde os mais clássicos terrores psicológicos até os mais modernos, influenciados pelo Edgar Alan Poe, Stephen King, Lovercraft, entre outro e o cinema do século XX e XXI.”
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