Pluri, Duni, Unicelular

Leandro Lima tinha nome de herói, como Peter Parker, Donnie Darko, Lois Lanne, Clark Kent. Na verdade, era um nome bem comum. Ele gostava de jogar bola, jogar vídeo game, jogar xadrez, jogar pedras, jogar o jogo da vida.

Sua matéria favorita era ciências, e adorava a parte que falava dos seres. Ele era um ser bípede e pluricelular. Achava isso maravilhoso. Achava o câncer uma coisa maravilhosa. Seu pai era médico e lhe explicou que o câncer era uma célula que ficava maluca e se dividia sem parar. Isso não seria verdadeiramente ruim no mundo das células, já que elas têm essa função: se dividir. Porém, se pararmos para ver que o seu sistema de vida é um ser pluricelular, e que este ser tem várias células que se desenvolvem e dividem e tudo mais para continuar um sistema de vida, quando o câncer acontece ele compromete o seu próprio sistema de vida e aí mata aquele que é seu sistema e a célula morre também. Isso é bastante estúpido.

Saber que isso acontece por uma mutação o deixava mais intrigado, pois havia muitas coisas que a mutação poderia trazer de bom, mas isso... bem, isso já foi explicado que era ruim. Ele jogava bastante os jogos dos X-men, lia os quadrinhos e assistia aos filmes, séries e desenhos animados, tudo o que surgisse. Ah, e não se esqueça que Peter Parker foi picado por uma aranha radioativa. Não há muito sentido nisso, mas se você souber que as mutações ocorrem através de contaminação, como com os habitantes de Hiroshima e Nagasaki, segundo seu pai conta, pode achar a história mais interessante.

Leandro Lima queria ser um herói. Ficava imaginando como poderia ser outra coisa que não ele mesmo, porém ele não queria ter um câncer. Você já sabe o motivo. Claramente, por ser um nerd, Leandro Lima sofria Bullying na escola, e já que ele não queria ter câncer, não comia certos alimentos que continham alguma quantidade de radiação, como a Banana e a castanha do Pará. Seus inimigos sabiam disso. Ele foi forçado a comer muita, mas muita Castanha do Pará em um trote aplicado pelos meninos mais velhos. Tentou vomitar, mas como o mantiveram preso durante todo o período da aula e só o soltaram na hora da saída, não conseguiu e acabou digerindo a maior parte de tudo aquilo.

Parecia que tudo ia bem, houve denuncia, seus pais e os dos garotos se resolveram, ele fez mitos exames e seu pai o consolava bastante. Leandro sabia que estava contaminado, que iria ter câncer e morrer, mas ninguém acreditava nele. Naquela semana ele começou a escamar, o que é um sintoma da radiação. Ele foi internado às pressas e graças ao conhecimento que tinham do motivo da radiação começaram o tratamento.

Leandro Lima ficou internado por muito tempo, seu médico tinha um nome estranho, era o Dr Domi Cílio. Devia ser descendente de Italiano. Quando ele estava livre da radiação retornou para casa e ainda ficou em observação por algum tempo. Ele sentia coisas novas e estranhas, como sons que não ouvia antes leves apitos, sua cabeça parecia maior, mas era só uma sensação dele, no espelho e para os outros tudo estava normal. Ninguém mais ouvia o que ele ouvia.

Depois de três meses de tratamento, na manhã mais única de sua vida, quando achava que tudo poderia ser normal, mesmo com a possibilidade de um câncer eminente, Leandro Lima acordou e foi se trocar para ir à escola, mas não conseguiu ficar em pé ou segurar o cobertor normalmente. Quando ele observou a sua mão, não havia mais dedos, assim como nos pés! Ele olhou no espelho que tinha do outro lado do quarto, ao acender a luz e viu que não havia mais nem mesmo um rosto.

Sinopse do livro Obra perturbadora

“Sempre do ponto de vista de crianças, suas protagonistas, os contos da Obra Perturbadora pretendem mexer com seu leitor, trazendo experiências de leitura com finais abertos e incongruências propositais, que podem até parecer em primeiro momento uma falha da autora, porém, o resultado no leitor é, em geral, atingido e previsto durante a produção deles.

Prepare-se para sentir estranheza, insegurança, suspense, violência, e principalmente a expectativa que traz a melhor sensação do suspense. A autora busca em alguns contos contextualizar o seu leitor para depois apresentar um desfecho incongruente ou violento, ou de uma forma muito distinta não contextualiza o leitor e dá toda a situação ocorrida e o que se espera é que a experiência do leitor trabalhe com as questões que surgem, de forma a trazer a tona a própria personalidade do leitor, seja instigando-o a buscar respostas que não terá, a se revoltar com a falta de informação desejada ou a lidar com o prazer da sensação atingida na leitura. Que tipo de leitor é você? Um detetive, que quanto mais instigado mais busca saber? Um frustrado que para a leitura por não aceitar o jogo da autora? Um imaginativo que complementa as histórias com as possibilidades e se delicia seja com o contexto que lhe é cobrado ou com o desfecho que é incongruente?

Descubra-se lendo a Obra Perturbadora, contos curtos e rápido de terror e suspense que trazem desde os mais clássicos terrores psicológicos até os mais modernos, influenciados pelo Edgar Alan Poe, Stephen King, Lovercraft, entre outro e o cinema do século XX e XXI.”

http://inquietacoesdelauralucy.blogspot.com.br/search/label/Obra%20Perturbadora

Laura Lucy Dias
Enviado por Laura Lucy Dias em 10/08/2016
Reeditado em 24/01/2017
Código do texto: T5724008
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.