O BORDEL

Estou a um passo da porta, hesito antes de bater. aperto a mão contra o peito e respiro fundo, mas falta-me coragem de tocar a maçaneta enferrujada, sento-me no degrau e fumo um cigarro, acompanho com o olhar a forma sinuosa da fumaça, lembrei-me da Glória. De repente a lembranças veio à tona, é como se eu tivesse diante de uma tela de cinema sendo eu o protagonista e espectador da minha própria história.

- Bem vindo mais vez, Sr. Valfredo, a noite hoje promete. – Falou-me o velho e bondoso porteiro, o Sr. Toinho.

- Obrigado Toinho, eu sei que a noite promete, só não prometem as noites em que eu não venho aqui.

Realmente a noite será ótima, é quinta-feira. É à noite em que a bela a e misteriosa Gloria desfila nua pelo salão. Glória é a única mulher deste recinto que permanece imaculada. Ela chega as nove num Buick Sport prateado e parte a meia noite. Vem vestida apena com um casaco de vison e meias de seda preta. Mas chegando no meio do salão se despe naturalmente e rodando a cigarrilha entre os dedos, desfila entre as mesas deixando os homens enlouquecidos. Não permite conversa, apenas retribui com um afago e um sorriso gentil o afeto recebido. Mas, por um momento, vamos esquecer a Gloria e falar das outras meninas. São muitas, cada uma com as suas peculiaridades e com a sua maneira de amar. Algumas levam aquela vida por puro prazer, outras porque a situações na vida as obriga e outras por dinheiro mesmo. Quanto a físico, quem se importa com o físico? Eu simplesmente sou apaixonado por todas elas.

Dizem que sou viciado em mulheres, digo que não é bem assim, sou apenas um admirador e entusiasta da alma feminina. Não pago pelo prazer da luxúria ou o sexo propriamente dito, pago para ter um sorriso, para sentir o perfume; pago para ouvir a lamúrias e os desafetos; pago para ter afeto e fugir da minha solidão secreta.

Gosto deste lugar faz-me sentir em casa. O meu prazer começa com as luzes de tonalidades vermelhas, o cheiro de charuto, champanhe e conhaque, a música e o perfume inebriante das mulheres. O meu êxtase começa sem pressa e recomeça num colo feminino.

Voltando a minha realidade, tomo coragem e abro a porta. Eis que surge na minha frente uma cena macabra: vejo uma mulher esquelética e nua com fezes escorrendo pelas pernas, tem o corpo coberto de cicatrizes, ela sorrir com os olhos semicerrados e dança como se tivesse ouvindo uma música imaginária. Vejo jovens copulando sem o menor pudor, enquanto outros comem restos de comidas espalhadas pelo chão; vejo ainda moças e rapazes em posição fetal com espasmos convulsivos e outros fumam uma espécie de cachimbo. O lugar está imundo e em ruínas. Será que eu morri e estou no inferno? Faço menção de entrar, mas alguém me segura pelo braço.

- Vô fugiu de novo! Já lhe falei que este lugar é perigoso. Aqui é uma cracolândia.

- Eu não sabia. E mudou de nome? Para onde foram as minhas meninas?

Estou confuso, ultimamente estou tendo surtos de memórias. Mas as lembranças daquele bordel continuam frescas na minha mente, ora para atormentar-me os pensamentos, ora para me devolver a vida.

jambo
Enviado por jambo em 08/07/2016
Reeditado em 08/07/2016
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