ACORRENTADO

O coitado ainda estava lá no fundo do poço. Tinha as mãos e os pés acorrentados e ainda puseram-lhe uma focinheira. No corpo as marcas e lascas da chicotadas. Ele estava nu, a vergonha exposta servia de chacota. Jogaram-lhe sal nas feridas, porém a dor física doía menos que a dor que lhe causaram na alma. Feriram abruptamente a sua dignidade; infringiram o seu direito de ir e vir; dilaceraram os seus sonhos e pisotearam a sua vida. Esqueceram, porém, que ele era um ser humano, que tinha um coração e que em suas veias também corriam sangue vermelho. Mas ele ainda está vivo, bem vivo! Pulsa-lhe uma força interior que ninguém consegue deter e por mais que tentam não vão apagar e nem embranquecer a sua pele através da história, pois a sua cultura está entranhada nas cores que compõe esta nação.

Ele foi odiado sem causa e sem motivos, a sua geração ainda é odiada por muitos sem causa e sem motivos, mas, contudo, ninguém ainda conseguiu acorrentar o seu desejo de liberdade e nem apagar luz do seu olhar, cujo brilho é a esperança que resplandece no fundo daquele poço.

jambo
Enviado por jambo em 10/05/2016
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