Agarro-te...?
Do povoado outrora fabril do Brumado até a sede municipal, Pitangui, dá pouco menos de uma légua. O caminho antigo, percorrido maiormente numa cabeça de serra, passando por pastagens, ora abertas, ora mais abatumadas, dá menos do que isso.
E foi o que papai, o Luiz Miranda, mais conhecido por Luiz Velu, percorreu naquela noite que se não foi a de São Bartolomeu, foi dum quase total breu. A lanterna, que só mais tarde veio a comprar, o teria livrado do susto por que iria passar.
A razão da ída a desoras a Pitangui era alguma enfermidade súbita em casa, quando naqueles anos cinquenta, a filharada que chegaria à novena, devia estar entre três ou quatro. Ia buscar socorro, a pé e sem cachorro. Mas era acostumado com aquelas brenhas, pois na tenra juventude campeara cavalos, e guiara bois de carro com o amigo Beco Chave, com quem regulava na idade, e desregulava nas peripécias campestres...
Papai não era de ter medo da noite, mas não era desafiar crenças em fantasmas, lobisomem ou almas penadas. E ei-lo quase no meio do caminho, num local chamado Xandeafonso, provavelmente em razão dalgum morador antigo e por acaso próximo duma cruz onde anos e anos antes fora assassinado o João Chave, justamente pai de Beco e seu irmão Zé. A história era verdadeira mas aparentemente o crime nunca teria sido solucionado. João Chave havia sido tocaiado quando transportava num saco o dinheiro para o pagamento dos operários no Brumado.
Quiçá com o terço à mão, e um calafrio na espinha, papai apertou o passo, e, lívido ouviu compassada passada em sua direção. O que lhe ocorreu, à medida que se aproximava aquele ruído, foi dizer, a todos pulmões um: Ôh, Joaquim! que, por acaso, era um caminheiro habitual daquela senda.
Sem resposta, papai não esperou pelo pior. Deu uma carreira. Até cruzar uma porteira. Matutnado, matutando, chegou à conclusão que se não fosse algum fantasma mais pesadão, teria sido o garrote a farejar alguma propícia ocasião...e a vaca fora pro brejo...