UM DIA DE PRINCESA

Era manha de sexta feira, apesar de o dia está frio e nublado, as crianças da família Silva já estavam de pé para lida. Eram dois meninos e duas meninas entre sete e doze anos de idade. Toda a família trabalhava na mina de carvão do coronel Venâncio. O trabalho na mina era quase escravo e sob condições desumanas. Naquele lugar onde imperava a lei dos mais ricos, os mais pobres eram obrigados a se submeterem aquele tipo de servidão para não morrerem de fome.

Lucinda, a filha mais velha, estava prestes a completar doze anos, a puberdade já dava os primeiros sinais de que ela seria uma bela mulher. Seu rosto era lindo, e quando coberto com o pó negro do carvão, seus olhos pareciam duas pedras de esmeralda. Na manha daquele dia, Lucinda se sentia estranha, era um presságio de que algo iria lhe acontecer. Sua mãe também estava muito estranha. Olhava para ela com certa tristeza e evitava lhe dirigir a palavra.

Às nove horas, um belíssimo carro preto parou em frente à carvoaria. Todos olharam boquiabertos com se estivessem vendo um objeto de outro planeta. A porta traseira se abriu e dela desceu uma senhora elegante e distinta de aproximadamente cinqüenta anos. Ela perguntou por Lucinda e todos apontam para a menina. Lucinda desconfiada olhou para mãe.

- Vá fia, pode ir – Tapou a boca com as mãos para não deixar o soluço escapar.

Lucinda obedeceu à mãe e entrou no carro. Ficou deslumbrada com tanto conforto. Após um pequeno percurso, o carro parou diante de uma belíssima casa. Gentilmente, Lucinda foi conduzida para as dependências da mansão. A criança observava tudo com espanto e admiração como se estivesse num mundo encantado, jamais sonhara em por os pés num lugar como aquele.

- Minha criança, hoje você terá um dia de princesa. – Falou a governanta.

Após um bom e demorado banho de banheira, a menina foi vestida com roupas e calçado novos.

- Olhe no espelho, você parece uma princesa de verdade. – Falou a senhora.

Lucinda ficou perplexa vendo a sua imagem no espelho. Aquela menina vestida de renda, cabelos com laço de fita, sapatos e meias, seria mesmo ela?

- Está linda! Agora vamos tirar uma foto para guardarmos de lembrança – Falou a governanta.

Após ser fotografada, Lucinda foi conduzida a um dos cômodos da casa. Era uma sala enorme, cheia de bonecas e outros brinquedos, havia também um mini carrossel e uma mesa repleta de doces e frutas que ela si quer sabia que existiam. Aquele lugar era mais que um sonho, era o lugar perfeito.

Porém ela sentiu falta da família e perguntou quando iria vê-los. A governanta falou que após conhecer o rei ela ira para casa. Lucinda passou a tarde brincando e saboreando os doces. No comecinho da noite a governanta apareceu.

- Vamos, vou levá-la para conhecer o rei.

Passaram por um corredor, cujas paredes havia fotos de outras meninas vestidas como ela. Pararam diante de uma porta de madeira pintada de dourado. Havia na porta uma plaqueta com o nome Rei Venâncio.

- Entre, o rei está lhe esperando.

De repente ela se viu em frente ao casebre onde morava. Não se lembrou como chegou ali. Trazia nas mãos um corte de chita e um frasco de perfume alfazema. Vestia os mesmos trapos os quais estava vestida pela manha. O corpo todo doía muito, mas a ferida maior estava na alma.

- Vai passar fia, vai passar, entra. - Falou a mãe comovida.

O que aconteceu no quarto do rei, Lucinda jamais revelou a ninguém, mas graças aquele dia, ela se intitulou Rainha da Noite. Hoje, a menina dos olhos de esmeralda, perambula pelas madrugadas usando roupas sumárias e salto alto. Seus súditos pagam qualquer tostão por um minuto de prazer em seu castelo encantado.

jambo
Enviado por jambo em 30/04/2016
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