Coleção de Dores

Eu o encontrei aparentemente calmo. Havia sangue por toda parte, mas nenhum ferimento em evidência. Tentei abordá-lo a respeito do ocorrido, mas a única coisa que consegui foram resmungões. Analisei o ambiente para ver se encontrava algum vestígio, e nada, nada além de sangue e resmungões.

Pensei em chamar à polícia, na verdade já deveria ter feito isso no momento em que me deparei com um jovem ensanguentado e sozinho de madrugada, mas acredite, isso nem passou pela minha cabeça. Ignorei o perigo, mas na verdade já não havia muito o que machucar em mim, afinal já sei que a dor é mais fácil de lidar do lado de fora. Podem me bater e machucar, que ainda assim a dor que eu sinto aqui dentro será maior.

Tentei conversar com ele novamente mas não obtive sucesso, seus resmungões eram indecifráveis. Ao tentar tocá-lo para saber de onde vinha o sangue, fui interrompida por um tapa, sim, ele me estapeou, e até achei justo visto que eu era uma desconhecida que até o momento fez tudo, menos ajudá-lo. Aí enfim resolvi fazer algo de sensato, peguei o celular e disse que ia ligar para polícia, mas ele me impediu.

Parou com os resmungões e me falou o porque do sangue, explicou que tudo não passava de uma experiência, e que o sangue era para chamar atenção. Falou que às pessoas só se preocupam umas com às outras quando os problemas estão aparentes, feridas visíveis atraem olhares, feridas internas não, logo não se tem preocupação. Indagou-me se alguém se preocuparia com ele e o abordaria se estivesse somente triste e cabisbaixo, era visto que não.

Fiquei fascinada com tudo aquilo, era como se ele entendesse minhas dores, enfim poderia compartilhá-las com alguém que não me acusaria de fraca, ou reclamona. Custei a acreditar que aquilo tudo era verdade, mas constatei que era. Um jovem machucado encontra uma jovem machucada e ambos passam à noite contando às causas dessas machucaduras, um tanto entediante, não? Nenhum pouco!

Quanto mais ele me contava de suas decepções, mais eu ria, parecia piada alguém desistir de uma pessoa que nem ele. Apenas algumas horas e já tenho um conceito formado sobre ele, equivocada? Essa não seria a palavra certa, apaixonada...

Apaixonada por ele carregar tantas dores de fracos amores e por tanto tempo aguentar. Apaixonada por ele ser lindo por dentro onde estão às feridas que eu não posso sarar.

Paixão... Arde, tanto quando uma ferida, mas eu suportaria mais essa dor só para com ele viver um grande amor. Unidos por nossas dores, o que será que o futuro nos reserva? Se nos separarmos, será só mais uma ferida pra nossa coleção!

Jéssica Batista
Enviado por Jéssica Batista em 20/04/2016
Reeditado em 25/02/2023
Código do texto: T5611060
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