A NOIVA MORTA - Cap. 4

Getúlio estava comodamente sentado no sofá assistindo televisão quando Josué irrompeu casa adentro muito pálido. Encostado à porta, como se tivesse medo que alguém entrasse atrás dele, o rapaz mal conseguia respirar.

— Primo, o que houve? Alguém lhe atacou? ─ Getúlio ficou em pé e se aproximou de Josué. Ele tremia inteiro.

— Preciso me sentar - murmurou, se arrastando para o sofá.

Getúlio reparou as mãos machucadas do primo e ficou preocupado. Foi até a cozinha e voltou segurando um copo de cerveja.

— Tome. Acho que você está precisando.

Sem conseguir afastar os pensamentos da terrível visão que tivera minutos antes, Josué disse tentando fazer graça em meio ao seu nervosismo.

— Acho que preciso de um porre - o rapaz tomou a bebida de um gole só.

— Afinal, o que aconteceu para lhe deixar neste estado? - Getúlio puxou uma cadeira e se instalou frente ao primo. — Parece que viu uma assombração.

— Pois vi mesmo.

Getúlio riu, mas calou-se em seguida ao ver Josué muito sério.

— Como assim?

— Você escutou bem. Sabe aquela linda moça que eu tentei cortejar? Ela é um fantasma.

Sem saber se ria ou ficava sério, Getúlio foi até a cozinha e voltou com a garrafa de cerveja. Serviu a si mesmo e ao primo, mais uma vez. Depois de um longo gole, Getúlio voltou a perguntar:

— Pode me explicar melhor?

Tenso, Josué explicou os detalhes do seu encontro maldito com a moça. Ao terminar, Getúlio sacudiu a cabeça de um lado para o outro e retrucou:

— Você bebeu.

— Não. Você mesmo viu como eu saí daqui. Sem nenhuma gota de álcool no lombo. Juro, esta cidade é assombrada.

Vendo a incredulidade do amigo, Josué propôs:

— Venha comigo.

— Onde?

— Até a praça amanhã à noite. Certamente ela estará lá.

— Você foi enganado por alguém, está na cara isto.

Josué estava inconformado.

— Peço-lhe que venha comigo. Juro, não estou louco.

— Tudo bem - concordou Getúlio depois de pensar por alguns instantes. — Já estou curioso em conhecer esta mulher misteriosa.

*

Getúlio foi dormir ensimesmado. A princípio não acreditou em uma palavra dita pelo primo. Mas depois, à medida que ele contava aquela história estapafúrdia, começou a se sentir incomodado. Josué mencionara, antes de tudo acontecer, que a moça sentada no banco da praça era de uma beleza ímpar. Quem seria? Depois de Mariana não havia mais nenhuma moça que chegasse aos pés dela. Sua noiva era única. A mulher mais bonita das redondezas estava morta há mais de seis meses.

Ou não?

O homem se remexeu inquieto na cama. E se… Mariana tivesse voltado? Talvez sua alma estivesse vagando pelo mundo dos vivos, inconformada com a morte no momento mais importante da sua existência. Getúlio fechou os olhos com força. Não, aquilo não podia ser verdade. Getúlio achou que estivesse ficando louco. Pensou em dizer para o primo, no dia seguinte, que não iria mais a praça nenhuma. Era certo que Josué tivera algum tipo de alucinação. Sim, era isto.

No entanto, no outro dia pela manhã, Josué continuava convicto da visão que tivera na noite anterior. Desta vez Getúlio não teve coragem de contradizer o primo. Apesar do medo que sentia do que poderia encontrar, ele confirmou que iria com Josué até a praça, logo depois que fechasse a farmácia.

A expectativa do que poderia encontrar atrapalhou a rotina de Getúlio o dia inteiro. Ele não conseguiu se concentrar em nada e não tratou com a gentileza de sempre os clientes. Um pouco antes das oito horas da noite Josué apareceu tenso e pálido. Dez minutos depois os primos tomaram o rumo da praça.

A noite não estava muito diferente da anterior. O friozinho dava mostras que chegara para ficar, o bastante para Josué se encolher dentro do casaco. Getúlio seguia ao seu lado sentindo o coração quase saltar da boca. Por duas noites seguidas Josué se deparara com a moça misteriosa sentada na praça. Será que eles teriam a mesma sorte desta vez?

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 09/04/2016
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