Passagem para o Oculto

Nota do autor: Eu estava fazendo outra coisa e lembrei de alguns sonhos bizarros que tive nos últimos dias. Não que isso seja raro, mas como estou pensando em escrever algumas histórias, vale a pena lembrá-los, até porque é bem fácil esquecer de um sonho. Geralmente, conforme eu vou escrevendo, a imagem e o contexto vão se formando melhor na minha cabeça, e por isso as histórias acabam começando bem genéricas para então adquirir profundidade. Bom, lá vai o primeiro.

O primeiro sonho parece algo como um cientista, talvez até um arqueólogo, não sei bem ao certo. Ele já passou dos trinta, usa óculos e tem mais cabelo nos lados da cabeça do que em cima. Seu estilo de se vestir é camisa social, blusa de lã e calça social ou jeans, com sapato ou sapatênis. Minha imagem dele é de um cara bastante preocupado em ser e parecer o mais correto possível, e ele é bastante estudioso e gosta de fazer pesquisas de campo.

O último projeto desse protagonista clichê é analisar alguma coisa dentro de um lugar que parece uma casa do período feudal da Inglaterra. Talvez seja uma vila inteira abandonada. Todas as construções são de madeira e de pedra, e há teias de aranha por todos os lados.

Na verdade, ele foi investigar o sumiço repentino da população daquele vilarejo, bem como pela fama do local de ser assombrado por espíritos. Nosso personagem, que agora será chamado de George (ainda sem sobrenome), trouxe consigo vários equipamentos de detecção de fenômenos paranormais, daqueles que tem em filmes e que, provavelmente, não existem.

George é conhecido em seu meio como uma pessoa bastante cética, que sempre consegue comprovar, de maneira científica, fenômenos que os outros dizem serem inexplicáveis senão por ação de espíritos ou poltergeists. Até porque George é, antes de tudo, um pesquisador dedicado, e depois um curioso.

Após alguns dias sozinho no vilarejo abandonado (nenhum dos colegas de George concordou em acompanhá-lo na expedição, não só por medo, mas porque ele não era lá muito carismático), ele havia vasculhado praticamente todos os lugares possíveis.

Já conhecia bem o prédio da igreja, o qual não continha nenhuma pista, e havia entrado em praticamente todas as casas e casebres. Era bastante curioso o fato de que as pessoas que ali residiam pareciam ter simplesmente evaporado. Havia pratos e copos na mesa, camas arrumadas e desarrumadas, roupas penduradas, instrumentos de madeira e de ferro ainda sobre os potes, ferraduras, cadeiras e outros produtos dos artesãos; todos elementos que indicavam que a vida no vilarejo parou repentinamente.

Acostumado com a atmosfera do lugar, George escrevia um relatório em seu caderno, sentado na mesa de jantar do que deveria ser uma casa que abrigava uma família inteira, quando ouviu o sino da igreja tocar. Seu coração deu uma breve parada pelo susto, e ele saiu da casa lentamente a ponto de conseguir ver o sino ressoando sozinho. Ele imaginou ser o vento, embora o tempo estivesse bastante calmo, mas andou até a igreja para confirmar.

Chegando lá, notou que as portas não estavam totalmente fechadas como ele as havia deixado, como se alguém ou algo as tivesse aberto e encostado recentemente. Não pôde andar até o topo da torre do sino, pois a escadaria de madeira estava inutilizável. George deu um suspiro e saiu da igreja, fechando a porta dupla com cuidado. Como já estava anoitecendo, ele se recolheu em sua barraca para dormir (claro que ele ficava na barraca, não ia correr o risco de dormir dentro de uma das casas quando o teto poderia desabar sobre si).

Era por volta das 3h da madrugada quando George acordou ouvindo vozes ao fundo. Ele podia enxergar uma luz de velas através do tecido da barraca. Com sua pulsação mais acelerada que nunca, mas movido pela curiosidade, ele rapidamente vestiu suas calças, colocou os sapatos e abriu o zíper da barraca para espreitar.

Ao longe caminhava uma mulher, de cabelos loiros e compridos, aparentando vinte e poucos anos, trajando um vestido azul e dourado com rendas, um pouco desgastado, e em suas mãos erguia um lampião aceso. O que aquela figura anacrônica fazia ali? – pensava George.

Decidiu sair da barraca e dar uma olhada nos arredores. Não constatando a presença de mais ninguém, colocou-se a andar na direção da moça, que aos poucos ia se afastando pela ruela principal da vila, no sentido da igreja, ou de uma das casas ali perto.

As pernas de George se moviam praticamente sozinhas, mesmo que quisesse ele não poderia parar tal perseguição. Continuou andando rapidamente na direção da mulher, mesmo quando pensou que poderia ser uma pegadinha de alguém que sabia de sua pesquisa, mas iria acabar com a dúvida em breve, de qualquer forma. Então ele disse, esbaforido, “Ei!”, e a moça se virou assustada enquanto ele se aproximava.

Ele a fitou de cima em baixo tentando imaginar quem poderia ser, enquanto ela parecia fazer o mesmo com ele. George perguntou se ela morava por ali, e ela acenou que sim com a cabeça. Ele perguntou se ela falava inglês, ao que ela novamente acenou, então ele perguntou seu nome. Ela disse “Lisbeth”, e ele disse “eu sou George”, e estendeu a mão para cumprimentá-la. Deram um aperto de mão de bastante forma receosa, e ela disse que precisava ir antes que sua mãe acordasse. George ficou olhando sem entender e ela saiu rapidamente na direção de uma das casas. Apagou o lampião, abriu a janela devagar e pulou pra dentro com cuidado.

George andou até a casa, estupefato, enquanto a tal Lisbeth fechava a janela por dentro. Ele conseguiu ver no interior do casebre que havia uma cama com mais de uma pessoa dormindo, quando a mulher olhou para ele uma última vez e fechou a janela por completo.

Sem entender o que quer que havia acontecido, George voltou pra sua barraca e se trancou durante toda a noite, sem conseguir dormir.

No dia seguinte, deu uma olhada na vila: estava como sempre. Foi até a casa de Lisbeth, tão deteriorada quanto as outras, e abriu a porta. Lá dentro, um casebre comum para a época: um forno a lenha, uma mesa, cadeiras, e algumas camas. Tudo, claro, intocado desde séculos atrás, mas extremamente avariado pela ação do tempo e de insetos como aranhas e traças.

George escreveu sobre o encontro com Lisbeth em seu caderno, afirmando tratar-se de um sonho, ou, na pior das hipóteses, de uma alucinação decorrente de sua pesquisa.

N.A.: Bom, depois eu continuo, não vou me forçar a escrever e acabar estragando a história por pressa... Se alguém estiver curioso pelo resto, comente pra eu me empolgar e continuar!

O Estagiário
Enviado por O Estagiário em 06/04/2016
Código do texto: T5597048
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