TEC, a fechadura abriu

Tudo mudou de repente, acontece que as coisas não ocorrem do jeito que a gente quer...

Foi há um mês, eu tinha uma família, tinha meus pais, dois irmãos, estudava, tudo era como tinha que ser...

Mas tudo mudou, agora vago nas ruas sem comida ou dinheiro, fugindo do que me persegue, e assola meus pensamentos.

Estou de baixo da ponte com uma maça que consegui roubar de uma banca de frutas, observo as ruas chuvosas e começo a relembrar quando tudo começou...

— amor, vamos os meninos já estão atrasados — diz meu pai.

To indo— minha mãe grita descendo as escadas.

— vocês já trataram de comer, ajeitar a mochila?

E como em um ritual de todas as manhas, acenamos que sim em quase perfeita sincronia.

Nos dirigimos ao carro, com destinos diferentes, mas sempre foi assim, papai nos deixava na escola, minha mãe em seu trabalho e depois ele se dirigia ao seu.

Mas naquele dia foi diferente, no meio do caminho o carro pifou, meu pai desceu, tentou ajeitar, mas nenhum sucesso encontrou, entrou novamente ligou pro guincho e disse que nos atrasaríamos um pouco.

Mas o problema era a rua em que o carro decidiu nos deixar na mão, era calma e silenciosa, mas também muito perigosa.

E foi ai que tudo mudou, minha vida, meu futuro...

Estancados na frente do carro e altamente armados gritaram — desçam todos — diz um deles

— com calma, ninguém precisa se machucar — diz outro de forma irônica.

Assustados, saímos imediatamente, e de mãos ao alto meu pai diz — podem levar tudo o que quiserem só nos deixem viver— suplica.

Uma risada estridente ecoa pela rua, naquele momento senti um frio na espinha, uma raiva no fundo de minha alma.

E eles continuam a rir como se algo naquela situação fosse engraçada.

Então um deles sugere — tá fácil de mais, quero um pouco de diversão — ele olha em minha direção, e depois na direção de minha mãe.

Meu pai desesperado nos puxa para trás dele, e começa a gritar que só tocaram em nós, passando por cima de seu cadáver.

.que assim seja — diz um deles — levanta sua arma em punho e põe um fim a vida de meu pai na frente de sua esposa e três filhos, seu corpo cai inerte no chão com um tiro direto no coração.

Não havia palavras naquele momento, todos nos encarávamos sem saber o que fazer, minha mãe caiu de joelhos no chão e começou a chorar e berrar — vocês todos vão pagar por isso, vão pagar com o próprio sangue — sua voz era sombria.

Tudo foi um borrão depois daquilo, foi só dor, sofrimento, angustia,

Dor

Dor

Dor

Quando cansaram de nos fazer sofrer mataram meus irmãos e minha mãe, mas decidiram me levar como um “presentinho”.

Trancaram-me em um ambiente escuro e frio, sem comida ou agua, e foi assim por uma semana, eles eram bárbaros, queriam-me ver morrendo aos poucos, meu corpo se decompor vivo e eles falavam isso, me lembravam todas as noites...

Passaram se mais dias, e eu já me considerava morta.

Eu queria viver, apesar de tudo, fugir, mas não sabia se tinha forças.

Em um dia, a esperança surgiu, eles eram sete e sempre havia ao menos quatro nesse lugar, mas naquele dia, não havia nenhum, foi o único dia em semanas que eu tive uma chance e eu iria aproveita-la.

Peguei um pedaço de fio de ferro que encontrei no chão úmido, e fiz o que o meu pai me ensinou um dia, naquele tempo não achei que tinha importância, mas naquele momento foi minha salvação, mexi nas entranhas da fechadura e fiquei grata quando ouvi um doce tec.

A fechadura abriu.

Abri devagar a porta, desconfiada, eles poderiam estar por perto, procurei uma saída até que vi a luz por de baixo de uma brecha, achei que estaria trancada, mas quando viro a maçaneta, ela abre e eu vejo o sol, nunca o achei tão lindo, mas a linda visão é destruída quando vejo ao longe os malditos, acho que o fato de tê-los visto primeiro me deu uma vantagem, pois no mesmo instante reúno forças e corro para o local mas longe de eles me rastrearem o grande matagal que tinha aos lados.

Corro

Corro

Corro

Até não poder correr mais, e em um momento paro de escutar suas vozes atrás de mim e só nesse momento consigo respirar.

E desde então eu corro deles, não tive coragem de dar um relato a policia, pois tinha medo deles me encontrarem e me trancarem naquele local de novo...

Para todos minha família estava toda morta, um dia desses eu vi uma reportagem da gente, vi o rosto dos meu pais e irmãos mais uma vez inertes e sem vida.

Saio de meu devaneio e jogo os restos da maça ao vento

Deito-me em uma folha de papelão, e adormeço naquela noite eu tenho um sonho, nele o guincho não atrasa e o resto da historia é bem diferente.

Cristinyy
Enviado por Cristinyy em 02/04/2016
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