ATÉ A ÚLTIMA RUA - PRIMEIRA PARTE.

Era um bairro comum, como todos os outros. Bairro de classe média alta, com casas bonitas, mas que não chamavam muita atenção. Era um bairro que você passava e pensava: "ah bacana", mas apenas isso. Era uma bairro que não aparentava haver riscos, perigo ou algo além da normalidade. Mas apenas aparentava.

A realidade era outra, diferente do que a maioria acreditava. Aquele bairro escondia as histórias mais obscuras daquela pequena vila, histórias estas, que não saiam dali.

Os moradores não comentavam os fatos, e viviam como se eles não existissem. Mas existiam. Toda sexta-feira, na última rua, gritos eram ouvidos, gritos altos, gritos de socorro, gritos que podiam ser ouvidos por toda a vila.

A primeira noite do acontecido, foi a 5 anos atrás. Toda vila se mobilizou, e ligou a para a polícia. A policia chegou, e a rua estava vazia. Não haviam vestígios de luta corporal ou de fuzilamento. Nada.

E foram noites, e noites assim, até que a polícia parou de visitar a vila, e os moradores em conjunto, fizeram um pacto de que, nada mais seria comentado e um toque de recolher teria que ser seguido, para a segurança de todos. As 22h, todos entravam em suas casas, fechavam as janelas, portas, trancavam-se e escutavam os gritos de sexta-feira a noite. Isso acontecia, sempre, SEMPRE, nas sextas-feiras.

Após 5 anos, em um sexta-feira, eu, J, decidi que isto iria mudar. Eu era um garoto, comum, de uma família nuclear comum, com pais de empregos comum e escola regular comum. Mas nada verdade, eu não era tão comum assim. Me sentia diferente, a maioria do tempo, por querer ir além das barreiras que me foram impostas.

Passei um ano investigando aquele fato, depois que certa noite, ouvindo os gritos, ouvi algo diferente, uma voz diferente, diferente de tudo que ouvira naqueles 5 anos. Era uma voz feminina, uma voz que arrepiou e me fez tremer até o último fio dos meus cabelos. Fiquei dias sem dormir, esperando a próxima sexta. E a voz voltou, a voz daquela mulher.

Me programei, estudei todo o caso. Os gritos começavam pontualmente as 22h05 e duravam até as 3h. Esperei ansiosamente aquela semana terminar, e chegar a sexta-feira. Chegou. De tarde arrumei minha mochila. Havia uma faca, uma lanterna, uma cruz (ainda acreditava ser algo sobrenatural) e um bilhete. O segundo bilhete. O primeiro, deixaria na minha escrivaninha. Caso não voltasse. Eu estava seguro disto, poderia ir, mas sem voltar. Isto me apavorava, mas me realizava, eu iria além eu iria até a última rua.

Estava na sala, assistindo TV, até que as 22h começou a velha tradição. A casa toda trancada, e todos indo para o quarto. Eu entrei no meu, e esperei, esperei que os gritos começassem e que todos dormissem.

Todos dormiram, eu chequei, posso ir. Eu fui, descendo as escadas de vagar e abrindo a porta com a delicadeza que se pega em uma rosa, abri o portão e estava na calçada, olhei para os lados nada, ninguém, nada além daqueles gritos.

A minha casa, ficava a 3 ruas, da última rua. Passei a primeira quadra, os gritos eram estrondosos, fiquei imaginando, quando cruzasse a terceira quadra, e foi assim, e até pior, os gritos pareciam algo de outro mundo ,pior do que imaginava, além do que imaginava, ao chegar ali, me dei conta, de que ir além, podia não ser a melhor coisa.

Mas eu estava lá, não iria voltar, mesmo que cada passo do meu corpo recuasse, eu queria continuar, queria ir para lá, queria ajudar, ver, descobri qualquer coisa.

Eu andei, devagar, e a rua ficava mais escura, e eu podia sentir os gritos na minha pele. Eu conseguia ver, de baixo do poste daquela última rua, aquela rua escuta, eu podia finalmente ver, ver o que estavam fazendo, ver quem estava gritando. Eu vi, eu senti, eu quase desmaiei.

Continua...

Dharis
Enviado por Dharis em 24/03/2016
Código do texto: T5583601
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