UM AMOR ALÉM DA VIDA
“Há coisas entre o céu e a terra o que pode imaginar nossa vã filosofia....”
- William Shakespeare
Estou em pleno Século XVIII. O cenário se passa numa cidadezinha do interior da França. O dia está frio e nublado, a nevoa rouba um pouco o colorido da cidade, pessoas sérias e elegantes passam por mim indiferentes a minha presença, porém nada apaga o brilho da minha alegria. Agora me vejo no interior de uma simples e pequena capela toda ornada de rosas amarelas. No altar, radiantes de felicidades, estão casando eu, e mais dois casais. Após a cerimônia, nos corredores da pequena igreja, sob uma chuva de pétalas de rosas e arroz, corremos os seis para a rua, abraçados e brindando a nossa felicidade.
Despedimos-nos dos outros casais. Neste momento, estamos eu e o meu noivo a passear pelas areias da praia. A manhã ainda continua fria e nublada. Uma ventania arranca-me o chapéu e o arrasta para o mar, o meu amado me abraça forte para me proteger do frio. É o nosso primeiro abraço. É indescritível dizer o que o calor deste primeiro contato físico me causou. Um misto de ternura, carinho, afeto, proteção e muito amor nos envolveram ao ponto de tirar-nos o ar. Algo que transcendeu a qualquer sensação de prazer e felicidade por mim vivida antes. Porém, antes do nosso primeiro beijo, um vento forte atira para longe a minha sombrinha. Como crianças, estamos nós a correr de mãos dadas para buscá-la, mas a sombrinha vai se resvalando e se distanciando de nós. Cansados ,estamos sentados contemplando o mar. Estou tremendo, mas não é de frio, é do que está por vir. Tomo coragem e pergunto:
- quem é você?
- sou o teu amor – ele me responde.
- como vim parar aqui?
- o meu amor por ti, te trouxe até a mim.
- como vai ser agora?
- há coisas que não posso te explicar, mas te asseguro que vou te esperar como sempre te esperei.
Neste momento seus lindos olhos estão cheios de lágrimas. Beijo-lhe o rosto e afago-lhe os cabelos. Ele aperta as minhas mãos e fala-me comovido:
- tens de ir...
- eu não sei como vim parar aqui, não sei o caminho de volte e não quero me afastar de ti – falei.
- não é o momento de ficarmos juntos, precisas ir...
- não quero ir, preciso ficar aqui – digo-lhe entre lágrimas.
Mas, antes que ele me responda, uma nuvem cobre-nos e eu sinto o horizonte se afunilar. Ele está indo embora, vejo-o caminhar lentamente e desaparecer entre a neblina.
Agora estou em minha cama, dos olhos, as lágrimas insistem a cair. Abro a janela do meu quarto de solteira. O dia está claro e colorido. Olho para o céu, nenhuma nuvem. Mas no intimo, um sensação plena de felicidade. Eu sei que em algum lugar do tempo e do universo, alguém espera por mim.
O meu amor espera por mim...
• Este texto foi baseado em um sonho.