o diabo apaixonado
Quando terminar de contar-lhes esta história, leitores, terão uma noção do que seja o seu fascinum, a sedução que exala e como não podemos resistir a sua astúcia, como aderimos facilmente a seu séquito de adoradores e imitadores.
Percebi sua forma física (um corpo que podia se metamorfosear em muitas formas, o diabo tem muitas faces, a maioria delas sedutoras) no último vagão do metrô, eu rumava para a estação são bento, como fazia diariamente, eram duas e pouco da tarde, precisamente duas e treze quando olhei sua figura. Esguio e de altura mediana, metro e oitenta e um ou dois de altura, trajava elegante blazer branco que pontuava (para usar um termo do meio da moda) com um jeans preto, um echarpe bem envolto no pescoço e um rosto belo. Era perturbador seu olhar, emitia uma confiança sobre-humana, olhos que quando encarados revelavam uma odiosidade lancinante, permaneceu invisível aos olhos das outras pessoas do vagão, até repentinamente iniciar um discurso em voz alta. "Senhores, senhoras suas atenções devem ser voltadas ao que vou lhes propor", o vagão não lotara naquele horário e aproximadamente quinze pessoas estavam sentadas, imediatemente fixaram-lhe a atenção, "lhes mostrarei que tenho controle sobre a matéria" prosseguiu o homem diabo, "na estação Paraíso (um zombador terrível) a qual nos encaminhamos, saltarei do vagão e acenderei meu cigarro, a porta ficará enquanto fumo, aberta e só se fechará quando der o último trago e saciado, estalarei os dedos e seguirão suas vidas, o que acham?" eu, sendo um sórdido curioso, buscando sentido em tudo, não encontrando em Deus (ainda, ainda...) indaguei ao Diabolous Humanous "como assim o que acham? não nos propôs efetivamente nada, apenas fará seu show e pelo que me parece não temos escolha, senão aprecia-lo e admirar seu absoluto "controle sobre a matéria..." "Cavalheiro, perdoe-me, (dirigindo-se aos outros) a proposta é essa: adorem-me em segredo, nos seus corações, pela noite ao dormir..." respondeu o super homem. Quando iria viciosamente retrucar "me parece subjetivo demais "adorem-me...." não deu tempo, o sinal anunciou a estação Paraíso.
Um sujeito com a camisa do Sport (de soccer) ponderou (com toda a razão) que com a lei antifumo que vigora neste estado, seu cigarro não formaria meia brasa antes de um segurança vestido de preto-urubu, apagar-lhe, ressaltando que o "modo como apagaria" não seria nada cívico, "não virão seguranças nem qualquer outra pessoa, asseguro-lhes, apenas os presentes neste vagão presenciarão e devem antes de dormir ajoelhar e fechar seus olhos e se lembrar do meu estalo", "o que acontecerá então" perguntou uma dama de lábios carmesins, "regozijo! se ajoelharem, e se lembrarem precisamente de meu estalo, o sinal para as portas se fecharem e o trem partir, que simboliza minha presença entre vós e meu poder (ele não partiria mais conosco), ou seja, peço-lhes um nada cheio de gozo e dou-lhes em troca um espetáculo de domínio e mágica, todos de acordo?" como ninguém se opôs, sendo possível escutar risadinhas de duas mocinhas escolares sentadas a alguns metros de onde discursava, assim pelo silêncio de quem consente, tínhamos celebrado todos um acordo.
Sucedeu exatamente como o "bode sedutor" previu. Completo dezessete noites sem dormir, temendo este contrato que sou parte, o qual me obriguei a adorar uma figura terrível ainda que se pareça melíflua.