O Fim

03:45

Ventania, Rio.

Todas as casas estavam com as luzes acesas, e o movimento dentro de cada uma delas era incessante. Naquele dia, naquela cidade e em toda a redondeza ninguém ousava dormir, algo muito terrível havia acontecido, e o sono não era conveniente a nenhum indivíduo.

Do lado de fora, na área de cada casa, e até mesmo no meio da rua, os vizinhos conversavam uns com os outros vestidos de pijamas, com um olhar de perplexidade, pois a TV não parava de anunciar. O Brasil e todo o resto do mundo aguardava acordado, nunca aquilo havia acontecido. Profetas dos confins da terra surgiam através de canais religiosos e da internet para dizer ser aquele um pressagio, pois seria o fim, o fim do mundo e de tudo o que nele existe.

- Acorda garotada não é tempo de dormir não nem de jogar video-game! – Ditava, Samuel, pai de dois meninos, um de cinco, outro de onze.

- Mas pai o que foi que aconteceu? – Perguntava o mais velho.

- Nada, só arruma a sua mochila com algumas roupas e espera comigo e sua mãe no portão. E ajuda seu irmão viu!

O garoto intrigado, mas sem saber o que fazer, decidiu seguir as ordens do pai e arrumar seus pertences juntamente a seu irmão mais novo.

Do lado de fora da casa, a mãe aguardava apreensiva. E era assim, quem não cochichava o ocorrido pelos cantos, ficava olhando ao Oeste a espera de ônibus, que naquela altura haviam sido denominados: Ônibus emergenciais.

- Pronto amor, já pedi. – Falou Samuel quebrando o tenso silêncio da esposa.

- Para onde vão levar nossos meninos?

- Eu não sei, mas fica calma. Eles sabem o que fazem.

“É o fim! É o fim! Prepare-se para o juízo final!” – Gritava um louco pelado, vestido apenas com um lençol, no fim da rua, recebendo com isso os murmúrios de muitos ao redor, pois ninguém queria acreditar naquilo. Não poderia ser o fim de tantos sonhos e planos, de tantos relacionamentos também.

Por todos os lados, as multidões acordadas faziam suas preses, e todos os nomes de todos os deuses eram entoados. O ateísmo havia acabado em menos de algumas horas, quem até aquele momento não acreditava em Deus, no silêncio de seu coração já fazia suas orações a quem quer os ouvisse no sobrenatural.

Após a notícia anunciada por todos os canais de TV e exposta por toda a internet, e outros variados meios de comunicação, quem não havia visto era acordado por amigos, parentes e vizinhos que haviam visto, pois era uma situação de urgência e todos precisavam ficar em alerta. O inimaginável poderia acontecer a qualquer minuto, e precisavam se preparar o quanto antes. A primeira providência tomada foi: Separar as crianças dos adultos. Pois os pequeninos eram a esperança do amanhã, e eles deveriam obrigatoriamente ficar vivos.

Por isso, cada região se mobilizou a fazer algo. Em Ventania, a prefeitura colocou toda a frota de ônibus para buscar as crianças pela cidade, e era obrigação de cada adulto se sacrificar, praticamente abandonando seus filhos para dar-lhes a vida, e movido pelas circunstâncias, nenhum pai, praticamente ousou desobedecer tal ordem.

- A se isso for algum tipo de brincadeira cara, eu juro que eu mato alguém! – Murmurava um homem calvo em outra esquina enquanto preparava seus quatro filhos. Dois homens e duas mulheres.

Quando menos se esperava faróis cintilavam a distância, era sinal dos ônibus que já vinham.

- Os ônibus amor, ei Lucas e Alisson, tá na hora! – Gritava Samuel chamando os filhos.

Quando ambos saíram da casa apavorados pelo clima, a mãe os abraçou chorando, fazendo praticamente o mesmo que muitas mães e pais ao redor quando o transporte parou abrindo instantaneamente suas portas.

- Vão com Deus meus amores, a mamãe ama muito vocês. Eu amo tanto, tanto, tanto meus amores. – Admitia chorando, caindo em prantos realmente.

- Para onde nós vamos mãe? – Perguntava Lucas o mais velho.

Ao ouvir a indagação, a pobre mãe olhou para o marido que logo entendeu o recado e perguntou ao motorista do ônibus.

- A eu não sei não senhor, tudo o que me disseram foi para levar todos eles para a central e eu nem sei na onde fica isso, pois acabei de acordar e não sei nada. Nem entendi direito o que está acontecendo.

Não havia mais nada a fazer, era deixar os filhos partir e se preparar para o que estava por vir, na esperança de que ao menos os frutos de seus ventres haviam de se salvar. Foi muito choro e ranger de dentes, quando todas aquelas crianças das mais variadas idades, entraram naqueles ônibus. Logo os motoristas fecharam as portas, e partiram, sendo seguidos até certas distâncias por mães e pais desesperados.

Nos veículos tudo o que se via eram crianças com sono sem entender nada e remelas nos olhos, algumas que estavam mais por dentro, por assim dizer, comentavam algumas coisas que ouvira seus pais dizer. Lucas deixou o irmão no banco e aproximou-se até outro garotinho que falava sobre o que havia ouvido, perguntando enfim o que acontecera.

- Olha cara, eu não sei, tudo o que sei é que houve uma grande explosão.

- Aonde? Em que lugar?

- No céu! E tudo ficou roxo de repente, e várias coisas aconteceram no mesmo instante, coisas terríveis. Eu não sei o que está por vir, porém não é nada bom.