O assassinato
Não deveríamos ter feito aquilo. Na verdade, quem o fez foi minha mãe, mas todos tivemos participação nesse grande segredo. Ela disse que foi sem querer, um simples acidente, mas eu não tenho tanta certeza. Um empurrão, e depois, nada. Depois só havia uma mulher jovem, nossa ex empregada, jogada no chão da sala, com o sangue saindo da sua cabeça e encharcando o grande tapete. Meu susto foi grande ao ver aquilo. Eu era só uma criança, aceitei a desculpa que minha mãe deu e fiquei calado. Meu pai fez o mesmo. Nunca comentamos sobre o assunto. Meu pai ajudou a enterrar o pequeno corpo no quintal abandonado ao lado. Observei tudo da calçada, pediram-me para avisar caso alguém aparecesse. Ninguém apareceu. Ninguém desconfiou. Ninguém descobriu. Nunca imaginariam que uma família bem estruturada como a nossa poderia fazer algo tão terrível. A família da jovem empregada nunca apareceu, nem ao menos sabia se ela tinha uma família. As lembranças logo sumiram, e dizer isso parece meio cruel. Uma pessoa havia morrido, e eu nem liguei para aquilo. Não me culpo, eu era apenas uma criança. Nunca perguntei para minha mãe a verdade sobre a história toda. Para mim, não tinha importância se a moça havia caído ou minha mãe havia empurrado-a. Não me importava, porém olhando para o passado agora, me surgiu a pergunta do por quê. Por que ela a empurrou? Por que a sua indiferença? Por que não chamou uma ambulância? Por quê? Por quê? Por quê?
Agora não importa. A moça a muito tempo está morta.
Não importa. Minha mãe é uma assassina.
Não importa. Eu participei disso tudo.
Não importa. Também sou culpado.