O Pacto - Capítulo 5

Conforme os dias e meu trabalho avançavam, nem se quer percebia a passagem dos anos. Logo uma década havia partido e mal havia sentido. O diabo ainda me olhava com um ódio profundo que só ele possuía, e para diminuir essa fúria resolvi fazer alguns pequenos serviços para ele.

   Meu caminho já não cruzava mais com o de Lizzy, mas senti por ela quando recebi uma tarefa. Miguel, um senhor de setenta anos de idade, pai do marido de Lizzy, estava doente e iria partir na manhã seguinte, não sei se era algum teste, mas fui encarregado desta tarefa, sabendo que provavelmente ela estaria lá, presente no quarto nos últimos segundos de vida do pai de seu novo amado.   Após sair da janela, subi até o andar onde o idoso dormia, relativamente calmo. Me distrai com a paz que seu rosto me transmitia, me lembrei de tempos mais felizes, os quais minha alma já fria havia apagado da memória.

  Perdi tanto tempo que não vi Lizzy abrindo a porta para ver seu sogro, óbvio que ela não podia me ver, mas seu corpo se arrepiou com o mal que eu trazia. Ignorando o frio, ela se aproximou da cama, colocando mais uma manta sobre o frágil doente. Enquanto isso uma voz sussurrou, era a morte.

-Precisa recolhê-lo agora. Cumpra sua missão, há muitas a serem executadas.

  Andei devagar até a cabeceira, ainda  me permitindo admirar a beleza da mulher que um dia tanto amei. Mas precisava cumprir meu trabalho, aproximei a foice, usei toda a suavidade que pude e recolhi a alma de Miguel.

    Ela acariciava a cabeça dele, ao notar que algo não estava bem, com horror, saiu a procura do marido. Momentos depois, quando estava fora da casa e uma ambulância chegava, podia escutar nítido como meus pensamentos o choro de Lizzy.

   Continuei meu trabalho naquele dia, mas algo estava errado, Morte me chamou para vê-lo, temia pelo pior e mais alguma punição.

-Me desculpe. Sei que você ainda tem um pouco dos sentimentos humanos. – ele começou a falar. – Não terá que fazer isso com algum conhecido dela de novo. – completou.

-Eu é que peço desculpas, fui fraco. Já estou a bastante tempo nesta forma e devia deixar meus sentimentos de lado.

-Tem certeza Peter?

-Sim.

-Vejo que você amadureceu, está cada vez mais inteligente e astuto. Gosto disso.

-Obrigado.

   Voltei para minhas tarefas no dia seguinte, me sentia melhor e mais motivado. Se ainda estivesse vivo completaria trinta e cinco anos na próxima semana e de certa forma aquilo deixava claro o quão adulto eu já havia me tornado.

Marielle Cardoso e Johan Henryque
Enviado por Marielle Cardoso em 26/12/2015
Código do texto: T5491050
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