Execução
O carrasco, de pé, em frente à multidão, aponta para mim e me chama para junto dele.
Tremendo, me encaminho. Todos têm seus olhos fixos na minha triste figura: combalida, vencida, caminhando para o cadafalso. O silêncio, entrecortado por sussurros e tossidas, parece clamar por sangue.
Chegando ao meu destino, contemplo a sinistra figura mascarada, com um grande machado em suas mãos. À sua frente, ajoelhada, com a cabeça mansamente pousada em um toco enegrecido de lodo, mãos atadas, olhos vendados, a vítima da execução aguarda a terrível pena pelos seus atos.
O carrasco empurra seu machado em minhas mãos:
- Vingue-se.
Estarrecido, quase sucumbo ao peso do artefato. Me volto à multidão; todos aguardam ansiosos pelo desfecho da cena. Volvo ao carrasco; ele se põe de costas. Olho para a vítima; está paralisada, imóvel sob o peso da resignação.
Me recordo de tudo que ela me causou, e da fúria popular contra suas iniquidades.
Olho pro chão. Olho pro céu. Suspiro.
Largo o machado.
Desço as escadas e vou-me embora, sumindo entre o incrédulo povo.