Sombras na Escuridão

Durante toda a minha vida, coisas estranhas e inconvenientes me ocorreram, mas nada se comparou com o que eu vou contar...

Era inverno e fazia muito frio na madrugada em que o vi pela primeira vez, eu estava dormindo quando ouvi vozes vindo de dentro da casa, então me levantei cuidadosamente, abri a porta do quarto lentamente para que ela não rugisse e caminhei pelo corredor sorrateiramente até as escadas que davam acesso à parte de baixo da casa, percebi que a luz da cozinha estava acesa e que havia sangue pela sala, então voltei a ouvir alguém suplicando por sua vida com um tom de voz ocioso, por tanto achei melhor não descer e permanecer escondido onde estava e depois de um breve período de silencio, alguém caminhou da cozinha passando pela sala em direção à um outro cômodo, eu fiquei estático, no escuro, observando por entre as pilastras da mureta do 1º andar, percebi que ele vasculhava as coisas dentro de casa pelo notável barulho de objetos caindo dos móveis, então novamente ele passa pela sala (o único lugar visível de minha posição), e tornou a passar outras duas vezes até que em uma delas, ele olhou rapidamente para cima e continuou a caminhar, foi quando achei melhor voltar para o quarto antes que ele resolvesse subir, ao menos sei que não fui avistado, ou ele teria vindo atrás de mim.

De volta ao meu quarto, peguei um canivete na gaveta da escrivaninha e me deitei na cama cobrindo me da cabeça aos pés, tremendo de medo. Poucos minutos depois percebi que alguém subia as escadas, fique estático sob o lençol, soando frio e segurando firme o punhal, então ele abriu a porta e ficou quieto me observando por alguns segundos, depois entrou, aproximou-se da janela afastando um pouco a cortina olhando para o lado de fora, pude ver todos os seus movimentos através da fina camada de lençol que me cobria. Em seguida ele saiu do quarto fechando a porta vagarosamente e eu ali em estado de aflição, terminei adormecendo.

Na manhã seguinte, encontrei a casa toda revirada e suja de sangue em partes do piso e parede, porém não haviam corpos ou outros vestígios de assassinato, tão pouco algo foi roubado. Naquele dia, foram confirmados 2 assassinatos no bairro, os corpos encontrados estavam decapitados e não haviam suspeitos dos crimes.

Resolvi trocar as fechaduras da casa após limpa-la e arruma-la. Nesta mesma noite, fiquei até um pouco mais tarde lendo um livro, quando de repente ouvi a janela dos fundos quebrar, apaguei as luzes rapidamente e fiquei atento ao fato, percebi que alguém havia entrado pela janela da cozinha, os estilhaços no chão, denunciaram seu caminhar, tranquei a porta do quarto e rezei até notar a ausência do indivíduo, mesmo assim, continuei deitado e só desci para ver os estragos quando o sol nasceu. E como se não bastasse a noite inteira sem dormir, ainda tinha que limpar o sangue e os cacos de vidros pela cozinha, aos menos desta vez, nada foi revirado.

E isto foi se repetindo por várias noites. Algumas vezes eu o observava e outras nem me levantava da cama, me esforcei ao máximo para que ele não desconfiasse que eu o sondava para que não me ocorresse algum mal, confesso que já estava me acostumando com o fato, aquilo se estendeu por algumas semanas e ao mesmo tempo em que aqueles acontecimentos se expandiam, uma onda de misteriosos assassinatos chocavam as redondezas e regiões vizinhas, e eu atônito no meio daquele redemoinho enigmático imaginando se estava convivendo com a morte, me perguntando até quando isto iria continuar e se eu estava seguro ali?

Ele não me parecia hostil, não estava ali para me fazer mal (tinha quase certeza disto), caso contrário eu já não estaria aqui para contar esta história, não era sempre que deixava rastros de suas visitas (se assim posso chamar), poucas foram as vezes em que tive que recolher vidros despedaçados ou limpar manchas de sangue pelo chão ou carpete, certas noites nem notava sua presença, outras, apenas via sombras pela casa. Um dia fui até o porão e finalmente descobri onde ele se escondia, havia um enorme caixote de madeira forrado com trapos, sendo notavelmente utilizado como uma cama ou algo do tipo. Fazia bastante tempo que eu não descia ao porão, mas tinha certeza de que naquele caixote haviam pertences do meu falecido avô guardados nele, contudo, aquilo me causou arrepios, então antes de explorar o local, dei meia volta e subi.

Temia fazer qualquer tipo de denuncia, não sabia com que tipo de problema estava me envolvendo, por tanto fui esperando as coisas se acalmarem, até que certo dia, ao despertar, encontrei na cozinha um bilhete em cima da mesa e nele havia escrito:

Saudações,

Presto lhe agradecimento pela hospitalidade, por ser discreto e ter a decência de me observar sem se aproximar ou interferir, prezo-lhe também pelo sigilo prestado e por gentileza perdoe-me pelos transtornos causados!

P.S.: Há 2 dias, estivemos próximos de nos conhecer quando você desceu ao porão, te observei entrar e sair, e para o bem de ambos, você não notou minha presença, seria lastimável se tivesse ocorrido, pois um dos dois não poderia sair vivo dali.

Em admiração, respeito e prudência, venho despedir me de tua graça e morada.

Atenciosamente,

Joseph Vincent

E desde então nunca mais o vi ou tive vestígios de sua presença, os casos de assassinatos que aterrorizava toda a cidade cessaram e tudo que falaram à respeito refere-se à um Serial Killer foragido.

James Gallagher Junior
Enviado por James Gallagher Junior em 04/12/2015
Reeditado em 20/07/2016
Código do texto: T5470275
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